“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Estudo da Sífilis de Tuskegee

sábado, 4 de novembro de 2017

Um médico extrai sangue de um paciente como parte do estudo da sífilis de Tuskegee. Ano de 1932.

A eugenia foi criada pelo cientista inglês Francis Galton (1822-1911), um primo de Charles Darwin (1809-1882). A partir de estudos em Antropologia, Galton passou a defender que a evolução do homem teria dado origem a diferentes raças "inferiores" e "superiores". A genética determinaria o sucesso ou o fracasso, a riqueza ou a pobreza, a saúde ou as doenças, de indivíduos ou de famílias. Assim, Galton propôs uma melhoria da raça com casamentos selecionados entre humanos de gene bom, excluindo os "inferiores". 

Nos Estados Unidos, o biólogo Charles Davenport (1866-1944) abraçou a causa da eugenia. Em boa medida por causa de sua atuação, as primeiras décadas do século XX testemunharam o auge dessa pseudociência. Alguns estados americanos proibiram os casamentos inter-raciais, enquanto outros foram ainda mais radicais e autorizaram a esterilização de pessoas "inferiores" (o que poderia incluir os "idiotas", os "imbecis" e os "débeis mentais"). O perigo de contaminar o gene americano impulsionou o governo estadunidense a adotar uma política anti-imigração (o que afetou povos eslavos, irlandeses, judeus e outros). 

Com base na eugenia, médicos americanos passaram a aventar a possibilidade de que as doenças infecciosas fossem um meio natural de eliminação dos seres humanos inferiores e, portanto, estes tinham a propensão de adquiri-las. Alguns foram mas radicais com esse pensamento, e passaram a utilizar os "inferiores" como cobaias. Um desses foi o Dr. Raymond Vonderlehr, da Universidade de Tuskegee, que recebeu apoio do governo norte-americano através do Serviço de Saúde Pública para iniciar, em 1932, um estudo com quase 400 negros sifilíticos do Alabama. 

Em 1909, um médico alemão chamado Paul Ehrlich (1854-1915) descobriu os poderes do arsênico contra a bactéria da sífilis. Apesar de tóxica a alguns pacientes, a nova droga começou ser usada no tratamento da doença. Porém, os negros que foram usados como cobaias do Dr. Raymond não tiveram acesso a esse tratamento. E isso relaciona-se diretamente às ideias eugênicas em voga nos Estados Unidos. 

Apesar das promessas de tratamento, esses negros eram simplesmente examinados anualmente. A sífilis os consumia, enquanto médicos acompanhavam meticulosamente seu sangue e a propagação da doença em seus organismos. Como disfarce para acreditarem que ingeriam drogas eficazes seu sangue ruim, os negros recebiam aspirinas e tônicos. Os trabalhos do grupo de Tuskegee prosseguiram até 1972, quando reportagens do The New York Times denunciaram a atrocidade praticada contra os negros sifilíticos do Alabama.     

Bibliografia consultada: UJVARI, Stefan Cunha. A História da Humanidade contada pelos vírus, bactérias, parasitas e outros microrganismos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 92-98.

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