“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos Profetas Sociais dos Hebreus

quinta-feira, 28 de março de 2019

Profeta Isaías, monumento em Roma.

1. A grande contribuição dos hebreus foi a ideia de um Deus que exigia um comportamento ético por parte de Seus seguidores. Esse deus mostrava-se comprometido mais com problemas vinculados à exclusão social, à pobreza e à solidariedade do que com sacrifícios. 

2. O monoteísmo ético encontrou sua expressão não no período tribal (período esse que se estendeu até o final do século XI a.C.), nem no período da monarquia unificada, mas já no período da decadência da monarquia, após o Cisma (931 a.C.).  
  
3. A doutrinação dos profetas sociais estabeleceu os fundamentos do monoteísmo ético. Este, por sua vez, é a base das grandes religiões monoteístas e se constitui, provavelmente, na primeira expressão documentada e politicamente relevante da chamada pré-história da cidadania.    

4. A comemoração de datas, rezas, costumes e tradições, emboras adaptadas a diferentes locais e épocas, têm mantido o elo que conecta as diferentes comunidades judaicas espalhadas pelo mundo. Para os mais nacionalistas, o elo é Eretz Israel (a Terra de Israel).  

5. Autores judeus de diferentes épocas e locais deixam transparecer o orgulho que a comunidade tinha pelo fato de apresentar baixa incidência de bêbados, ladrões ou assassinos. O temor a perseguições e a ansiedade em conseguir o beneplácito dos governantes levou, frequentemente, as comunidades judaicas a pressionar os seus membros a fim de não chamarem a atenção de forma negativa. O embasamento teórico-religioso da cobrança do grupo é a pretensa superioridade ética do judaísmo com relação a outras religiões ou filosofias.     

6. Para Simon Dubnow, uma nação pode passar por três estágios: o tribal, o político-territorial e o histórico-cultural. Só os judeus teriam chegado a essa última etapa. Em nome dos grandes profetas (Isaías, Ezequiel, etc.), a ética dos judeus manteve-se por quase trinta séculos.      

7. Os grandes profetas judeus não se preocupavam com questões teológicas ou rituais e sim com o comportamento do povo judeu. Como o monoteísmo ético desenvolveu-se entre os hebreus, no século VIII a.C., e com os profetas?   

8. Os grandes profetas utilizaram-se de uma exterioridade, de uma forma de ser já existente e praticada pelo vidente, para dar um novo conteúdo a ela.  

9. Isaías, o "príncipe dos profetas", atuou entre 740 e 701 a.C. Seu deus tem caráter universal, mas discute a realidade do reino de Judá e faz pesadas críticas às práticas sociais e rituais vigentes. Isaías se apresentava como porta-voz de Yahweh. Isaías foi um feroz crítico das formas exteriores da religião, desprovidas de genuína espiritualidade.        

10. Numa dessas críticas, Isaías declarou (cap. 1, v. 10-14): 

"Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. 
De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. 
Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? 
Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer."

11. Amós, um "profeta menor" (devido à extensão de seu livro), nasceu na Judeia, mas profetizou em Samaria, capital de Israel, durante o reinado de Jeroboão II (783-743 a.C.). Acredita-se que ele atuou apenas em 745 a.C. Sua origem é humilde (não era filho de profeta), sua linguagem é agressiva e desabusada e seu sentimento de justiça é agudo e intransigente.

12. O deus de Amós insiste na preservação dos direitos sociais e individuais de todos. Note: 

"Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificastes casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantastes, mas não bebereis do seu vinho. 
Porque sei que são muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate, e rejeitais os necessitados na porta." (Amós 5:11-12).

13. Outro importante texto que denuncia a hipocrisia dos religiosos de Israel é esse: 

"Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom cheiro. 
E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. 
Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. 
Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso." (Amós 5:21-24).

14. Isaías e Amós viveram numa época em que os dois pequenos reinos hebreus estavam espremidos entre o gigantismo babilônico, a leste, e o poderio egípcio, ao sul. Havia uma nostalgia dos tempos em que as pessoas viviam mais unidas, sem desigualdades sociais tão profundas quanto no século VIII a.C.  
  
15. Os pobres foram atraídos pela pregação dos profetas contra essa religião do Templo, burocrática e sem esperança, praticada por israelitas ricos e orgulhosos. Como porta-vozes da incompreensão das pessoas com relação aos novos tempos, os profetas registraram, pela primeira vez com tamanha intensidade, o grito dos oprimidos e dos injustiçados.     
  
Bibliografia consultada: PINSKY, Jaime. Os profetas sociais e o Deus da cidadania. In: PINSKY, Carla B. & PINSKY, Jaime (orgs.). História da Cidadania. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2005, p. 15-27.

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