“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Batalha da França, junho de 1940

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Hitler em Paris, sua primeira e única visita à capital francesa (21 de junho de 1940). Logo a seguir a essa visita, o Führer ordenou a retomada das obras de Berlim. Nas suas palavras, quando a nova capital alemã estivesse pronta, Paris não passaria de "uma sombra." 

Com suas forças do perímetro de Dunquerque prestes a libertarem-se para se associarem ao avanço para o Sul, Hitler iniciou a ambiciosa etapa da captura de Paris. É importante lembrar que 224.318 soldados britânicos foram evacuados de Dunquerque, mas 136 mil permaneciam na França ocidental, prontos a lançar-se na batalha. E outros viriam, após a retirada da Noruega. Havia ainda 200 mil soldados poloneses na França.

5 de junho. Às 4h desse dia, começou a batalha da França. 143 divisões alemãs enfrentaram 65 divisões francesas. Tropas britânicas também participaram dos combates desse dia, no flanco direito das linhas francesas. Em Londres, com as mensagens Enigma corretamente decifradas e interpretadas, já não se temia uma invasão iminente. Assim, Churchill colocou à disposição de Reynaud várias esquadrilhas de aviões de combate e de bombardeiros, além de ordenar que a 52ª Divisão iniicasse a travessia do Canal da Mancha no dia seguinte.

6 de junho. Os alemães romperam as linhas francesas em vários pontos. No dia seguinte, o rei Haakon VII da Noruega e seu governo embarcaram rumo a Londres. Antes da partida, comunicou por rádio que as operações militares estavam suspensas.

Os alemães enviaram, nos dias 5 e 6 de junho, cerca de 100 bombardeiros para o espaço aéreo da Grã-Bretanha. Apesar disso, Churchill reforçou substancialmente o apoio aéreo à França nesses dias e nos próximos.

8 de junho. Na Noruega, a evacuação de Narvik era concluída. O porta-aviões Glorious e dois contratorpedeiros, o Ardent e o Acasta, foram afundados. Morreram 1515 homens. No mesmo dia 8, Paul Reynaud suplicou a Churchill que enviasse mais duas ou três esquadrilhas à França. Desta vez, o Gabinete de Guerra britânico recusou o envio de mais aviões à França, com base na argumentação de Churchill.

10 de junho. Enquanto isso, tropas francesas e britânicas isoladas do corpo principal do exército, eram evacuadas a partir de Le Havre, Cherbourg e St. Valery-en-Caux. Nesse dia, mais a leste, os franceses se viram a bater em retirada. Nessa tarde, Mussolini declarou guerra à França e à Grã-Bretanha.

11 de junho. A força aérea italiana bombardeou Porto Sudão e Áden, na África, e Malta, no Mediterrâneo. Em retaliação, no mesmo dia os britânicos atacaram Gênova, Turim e uma base militar italiana na Eritreia.

Nesse mesmo dia, forças alemãs ocuparam Paris e o governo francês abandou a capital. O desgaste era grande e a proposta de Churchill de transformar Paris numa fortaleza não foi bem acolhida.

12 de junho. Sob o comando do general Ihler, 46 mil franceses e britânicos apresentaram a sua rendição a Rommel. A artilharia alemã, visando diretamente as praias, impediu a evacuação por mar de 3.321 britânicos e franceses. Nessa noite, o general Weygand telefonou ao governo militar de Paris e ordenou-lhe que declarasse a cidade aberta. A capital francesa não seria palco de combates. Apesar desses infortúnios, a Grã-Bretanha não cogitava em abandonar a França à sua própria sorte. Churchill retornou ao país gaulês. A capital estava em Tours e, pouco depois, foi novamente transferido para Bordeaux. O presidente Roosevelt respondeu a um apelo do primeiro-ministro Reynaud, mas não declarou guerra à Alemanha. O apoio material, contudo, seria enviado.   

13 de junho. A força aérea alemã bombardeou Paris. No total, 254 pessoas morreram, sendo 195 civis. Os britânicos haviam sido obrigados a deixar uma grande quantidade de armamentos no perímetro de Dunquerque, seriam precisos três a seis meses para compensar as perdas.

14 de junho. A URSS apresentou um ultimato à Lituânia, que cedeu e foi ocupada. A seguir, a Letônia e a Estônia tiveram o mesmo destino. Nesse mesmo dia, os alemães ocuparam Paris, onde desfilaram. Dois milhões de parisienses fugiram da cidade. Cerca de 700 mil permaneceram.

15 de junho. Em Bourdeaux, Reynaud disse ao embaixador britânico que, se os Estados Unidos não entrassem na guerra, "muito em breve" a França não poderia prosseguir na luta nem a partir a partir do norte da África. Churchill então telegrafou a Roosevelt para reforçar o pedido de Reynaud, mas não obteve nada.

16 de junho. Os alemães entraram em Dijon. Pétain, vice-primeiro-ministro, exigiu um armistício imediato. Reynaud, desesperado, contactou o governo britânico, que propôs a criação de uma "União Anglo-francesa", capaz de prosseguir na guerra mesmo que a França fosse esmagada. Reynaud aceitou, mas seus colegas não se entusiasmaram. Com isso, Reynaud demitiu-se. Ao fim da tarde, Pétain formava um novo governo. Logo pediu um armistício aos alemães. A fim de evitar que os franceses fossem aliciados pela Grã-Bretanha, ou impelidos pela dureza das condições de  paz viessem a prosseguir a guerra no norte da África, Hitler decidiu manter uma parte da França desocupada. Paris, no entanto, ficaria na zona ocupada pelos alemães.

Entre 16 e 24/06, a operação Ariel possibilitou a evacuação de 16.225 homens da França. A nova evacuação teve quase a mesma dimensão da operação Dínamo em Dunquerque, embora sem o mesmo risco de assalto iminente a partir de terra. Na noite dos dias 16 e 17/06, os bombardeiros britânicos voaram rumo a alvos em toda a região do Ruhr.

18 de junho. Ao longo do dia, as forças alemãs continuavam a entrar em território francês, decididos a delimitar uma zona ocupada mediante a força militar. Assim, Le Mans, Vannes e outras cidades foram ocupadas. Em desafio, bombardeiros britânicos atingiram alvos militares em Hamburgo e Bremen.

19 de junho. Os britânicos iniciaram a evacuação das ilhas do Canal da Mancha.

20 de junho. Uma delegação francesa foi a Compiègne para conduzir as negociações do armistício com os alemães. Nesse dia, Hitler disse ao almirante Reader que entre as vantagens da derrota da França estava a de que a Alemanha poderia enviar todos os seus judeus e os judeus poloneses para a ilha francesa de Madagascar.   

21 de junho. Nas imediações de Villefranche, um pelotão da divisão da caveira combatia tropas francesas e marroquinas. Às 15h, os termos do armistício foram apresentados aos plenipotenciários franceses na mesma carruagem em que os alemães assinaram a rendição no final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).   

Adaptado de: GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 115-137.  

0 comentários:

Enviar um comentário