sexta-feira, 23 de outubro de 2020
"Apesar de tantos concílios e de tantos sermões, Carlos Magno sabe que ainda precisa fazer a reforma da Igreja, na verdade a reforma do clero. Pela lista das recomendações aos missi que figuram nas capitulares, vê-se bem o que não está funcionando a contento. Os bispos e os abades se preocupam em fazer fortuna, os clérigos não obedecem aos bispos, toda essa gente mantém concubinas, quase não se lê a Bíblia. Os monges não observam a regra. Os bispos não cuidam satisfatoriamente da disciplina. E ninguém se opõe às vocações forçadas das crianças - meninos e meninas - a quem os pais obrigam a entrar na religião para delas se livrarem; ninguém se opõe às falsas vocações dos homens livres que - disso já padecia o Império Romano - também encontram um meio de furtar-se ao imposto e ao serviço militar, e tampouco às vocações dos servos que se insinuam no clero para assim alcançarem a liberdade. Por várias vezes, no fim do seu reinado, o imperador resume tudo numa acusação: os clérigos se imiscuem nos 'assuntos seculares'. Assim fazendo, ele esquece que nomeou abades leigos e utilizou largamente os préstimos de seus bispos para o bom governo e a administração do reino."
FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução de Luciano Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2004, p. 387.
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