domingo, 6 de agosto de 2017
Pompeia Sula, a esposa infiel de César. Guillaume Rouillé, Promptuarii Iconum Insigniorum.
As cerimônias desse desse festival eram conduzidas exclusivamente por mulheres, especialmente as aristocráticas matronas e suas escravas. Após realizarem sacrifícios e outros rituais, a música e o banquete prosseguiam pela noite adentro. As virgens vestais presidiam os rituais e a mulher do magistrado organizava grande parte do festival.
Pompeia Sula, a esposa de César, tinha um amante. Era o questor eleito, Público Clódio Pulcher, de 30 anos, e o par decidiu que as celebrações seriam a cobertura perfeita para um encontro. Clódio disfarçou-se de tocadora de harpa, uma das muitas profissionais, a maioria delas escravas, que atuavam na comemoração. Contudo, acabou descoberto por uma das escravas, que saiu correndo, gritando que havia um homem na casa. Imediatamente, a cerimônia foi suspensa, os objetos sagrados foram cobertos e escravas foram ordenadas a trancar todas as portas, de modo a impedir que o intruso escapasse. Assim, Clódio foi encontrado escondido num dos quartos. Aurélia, a mãe de César, olhou-o atentamente, a fim de se certificar de quem era, antes de levá-lo para fora de casa. Em seguida, orientou às mulheres que voltassem para as suas casas e contassem a seus maridos sobre o sacrilégio de Clódio.
No dia seguinte, César divorciou-se de Pompeia. O divórcio era consagrado pela tradição romana e, de forma simples, o marido podia dizer: "Pegue tuas coisas para ti mesma!" (tuas res tibi habeto). César pode ou não ter dito essa frase tradicional, mas o fato é que ele se divorciou, sem apresentar publicamente qualquer razão para tal ato. O Senado criou uma comissão para investigar o caso, e o festival foi realizado na noite seguinte. Ao que tudo indica, César desejou, desde o início, encobrir e a esquecer todo o caso.
No julgamento que se seguiu, César recusou a fornecer provas contra Clódio, alegando ignorância sobre todo o caso. Quando foi desafiado a dizer publicamente por que se divorciara de Pompeia se achava que ela não fora flagrada em uma relação adúltera, replicou com sua famosa frase, de que o havia feito porque "a mulher de César tem de estar acima de suspeita".
Adaptado de GOLDSWORTHY, Adrian. César - A Vida de um Soberano. Tradução de Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2011, p. 194-196.
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