terça-feira, 5 de junho de 2018
O Carro de Feno, 1821. Óleo sobre tela de John Constable, 130 x 185 cm, National Gallery, Londres, Reino Unido.
Muitos consideram John Constable (1776-1837) o maior paisagista inglês. No entanto, o seu sucesso não foi nada fácil. Além de ter a carreira desaprovada pelo pai e pela família da sua noiva, Maria Bicknell, só após muito tempo recebeu o reconhecimento nos círculos artísticos ingleses. O quadro acima, por exemplo, teve uma recepção morna na Royal Academy. Por outro lado, recebeu uma medalha de ouro no Salon de Paris e a admiração de Delacroix.
A originalidade de Constable reside no seu estilo e na sua temática. Segundo ele, "não há dois dias iguais, nem sequer duas horas; tal como nunca houve duas folhas de árvore iguais desde que o mundo foi criado." Assim, os seus quadros podem parecer encantadoramente rústicos aos habitantes das cidades modernas, mas os seus contemporâneos não os acharam suficientemente pitorescos. Em vez de pintar montanhas espetaculares ou panoramas vastos, interessou-se pelo trabalho do campo, com os seus moinhos, as suas barcas e os seus rios cheios de atividade. Segundo Roger Scruton, a beleza da paisagem inglesa observada por Constable "depende do trabalho dos seres humanos, que tanto organizam os campos, bosques, e abrigos quanto erguem as cercas e muros que estão presentes em toda parte e integram a harmonia percebida. Constable retrata um lar, um local para o homem usar e que ostenta em cada detalhe a marca das esperanças e dos objetivos humanos (ainda que, na opinião de alguns, ele oculte a real condição do trabalhador rural)" (Scruton, 2013: p. 76). Nesse sentido, O Carro de Feno retrata uma cena rural que era muito familiar ao artista. Ele a expôs com o título Paisagem: Meio-Dia.
Os críticos consideraram os quadros de Constable mal acabados. Essas obras buscavam captar com exatidão as sensações suscitadas pela natureza - as variações de luz causadas pelo movimento das nuvens, a umidade dos campos encharcados de chuva, os efeitos da mais tênue brisa - para o que Constable usava pinceladas vigorosas e pontos de luz branca. Embora os ingleses não tenham se impressionado, na França as suas inovações foram bem apreciadas. Além de Delacroix, já mencionado, Géricault também manifestou grande admiração pela obra desse grande artista do Romantismo britânico.
Bibliografia consultada:
GRAHAM-DIXON, Andrew (consultor editorial). Arte - Grande Enciclopédia, da Pré-História à Época Contemporânea. tradução de Sofia Gomes. Porto: Dorling Kindersley - Civilização, Editores, 2009, p. 316.
SCRUTON, Roger. Beleza. Tradução de Hugo Langone. São Paulo: É Realizações, 2013.
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