“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos Globalização

quinta-feira, 28 de junho de 2018

1. De um lado, a "globalização" é a difusão mundial das modernas tecnologias de produção industrial e de comunicação de todos os tipos através das fronteiras - no comércio, capital, produção e informação. Na era da globalização, quase todas as sociedades são industrializadas ou caminham para a industrialização. 

2. Globalização implica também que quase todas as economias estejam interligadas com outras economias ao redor do mundo. No entanto, a globalização não é um estágio final para o qual todas as economias convergem. 

3. Uma situação universal de integração equitativa na atividade econômica em nível mundial é exatamente o que a globalização não é. A disparidade do desenvolvimento entre os países tem se aprofundado com a crescente interconexão da atividade econômica através do mundo. 

4. Marcas de muitos bens de consumo não são mais específicas de um país, mas globais. As empresas fabricam produtos idênticos para distribuição mundial. As culturas populares de praticamente todas as sociedades são inundadas por um estoque comum de imagens.  

5. A ideia de des-localização refere-se à desvinculação de atividades e relacionamentos das origens e culturas locais. Assim, o deslocamento de atividades, que até recentemente ocorria a nível regional, tem dado lugar a redes de relacionamentos cujo alcance é distante ou mundial. Por conseguinte, os preços internos são cada vez menos definidos pelas condições locais e nacionais; todos eles flutuam juntamente com os preços do mercado global. 

6. A globalização é frequentemente considerada um caminho em direção à homogeneidade. Novamente, isto é exatamente o que a globalização não é. Os mercados globais nos quais capital e produção transitam livremente através das fronteiras funcionam precisamente devido às diferenças entre localidades, nações e regiões. Os mercados globais prosperam quando há diferenças entre as economias.  

7. Reflitamos sobre o caso da China. Nesse país asiático, como em todas as outras sociedades, a vida dos mercados expressa uma cultura mais ampla e mais profunda, da qual os mercados são a ponta visível. Uma plena capitalista economia de mercado na China continental seria tão diferente da japonesa quanto do capitalismo ocidental. Incluiria, provavelmente, muitos pequenos negócios familiares florescentes e umas poucas empresas do tipo comum no Japão.   

8. O crescimento dos mercados mundiais não significa, tampouco, que a cultura de negócios americana será copiada em todo o mundo. A crença americana de que as corporações estão acima de todos os outros meios para obtenção de lucros para o acionista não é compartilhada na maioria de outros tipos de capitalismo.

9. Ao permitir que praticantes de diversas culturas, geograficamente dispersos, interajam por meio da nova mídia de comunicações, a globalização age para expressar e aprofundar as diferenças culturais. Por exemplo, os curdos exilados nos países europeus preservam sua cultura comum através de um canal curdo de televisão. 

10. As economias podem tornar-se mais integradas umas às outras - como as do Japão e Estados Unidos estiveram nas últimas décadas - sem uma significativa convergência quanto ao modo de fazerem negócios. Além disso, países recentemente industrializados não podem mais ser considerados como um bloco homogêneo.

11. Existe atualmente um mercado mundial de capitais como nunca existiu antes, e uma forte evidência de que os investidores de muitos países estão diversificando globalmente suas carteiras, tanto com ativos quanto títulos, e que, como consequências, os retornos sobre o capital tenderam a convergir nos anos 80 e 90.

12. Os governos dos Estados soberanos não sabem de antemão como os mercados vão reagir, e o crescimento e o poder das corporações multinacionais são enormes e sem precedentes. As multinacionais são hoje responsáveis por um terço da produção mundial e dois terços do comércio mundial. Elas são capazes de dividir o processo de produção em discretas operações e localizá-las em diversos países ao redor do mundo, escolhendo os países cujos mercados de trabalho, impostos e sistemas regulamentadores e infra-estrutura sejam considerados mais adequados. 

13. Apesar disso, as multinacionais quase sempre são empresas que mantêm fortes raízes em suas economias e culturas originais. Poucas - se é que há alguma - das maiores empresas do mundo são plenamente globais. Poucas multinacionais são organizações que genuinamente envolvem duas ou mais culturas. 

14. Está na moda encarar as corporações multinacionais como uma espécie de governo invisível, substituindo muitas das funções de Estados-nações. Na verdade, elas são, frequentemente, organizações fracas e amorfas. Elas padecem da mesma perda de autoridade e erosão de valores comuns que afetam praticamente todas as instituições sociais modernas. 

15. Ninguém, exceto uns poucos sonhadores na comunidade dos negócios, espera que o mundo se torne um verdadeiro mercado único, no qual os Estados-nações se tenham exaurido e tenham sido substituídos por corporações multinacionais sem pátria.   

Bibliografia consultada: GRAY, John. Falso Amanhecer - os equívocos do capitalismo global. Tradução de Max Altman. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1999, p. 77-91.

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