“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Última Noite de Belsazar

sábado, 30 de junho de 2018

O Banquete de Belsazar, c. 1635. Rembrandt Van Rijn (1606-1669), óleo sobre tela, 17.6 x 209.2 cm, National Gallery, Londres, Reino Unido.

O rei Nabucodonosor, do Império Neobabilônico, morreu aos 104 anos, em 562 a.C. Ele foi sucedido por quatro reis: Amel-Marduque (562-560 a.C.), Neriglissar (560-556 a.C.), Labashi-Marduque (556 a.C.) e, finalmente, Nabonido (556-539 a.C.), com Belsazar como regente.

Belsazar foi investido na regência da Babilônia provavelmente em 553 a.C. Nabonido, seu pai, passou a vida tentando restaurar os antigos ritos e os locais sagrados do culto babilônico que Nabucodonosor tinha descartado. Assim, Belsazar entendeu que ele era o último monarca neobabilônico. 

Quando seu avô Nabucodonosor morrera, Belsazar possuía 26 anos e era o chefe do exército babilônico. Em Daniel 5:1 e 2, ele sentou-se no trono babilônico, cercado por mil dos seus grandes. Na sequência, ele faz um brinde que é uma paródia do sonho de seu avô (v. 4). No capítulo 2, os metais representavam os reinos da Terra, destinados a desaparecer. Então, Belsazar os diviniza e os adora. 

No ponto alto do banquete, surgiu uma mão misteriosa que escrevia algo incompreensível na parede do palácio. Belsazar ficou então assustado e trêmulo, a ponto de seus joelhos baterem um no outro (Dn 5:6). O motivo para tanto terror é que o regente da Babilônia sabia que a mensagem vinha do Criador, o juiz divino. 

A primeira dificuldade de se decifrar a escrita na parede é que o texto aramaico não usa vogais, como no caso de muitos escritos antigos. Assim, o rei precisa da ajuda de alguém. O equivalente do texto, em português, sem vogais e sem separação entre as palavras é o seguinte: 


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Como os astrólogos, os adivinhadores e os caldeus não puderam interpretar a inscrição, a rainha-mãe, Nitócris, esposa do falecido Nabucodonosor, apareceu em cena. Ela lembrou o regente que Daniel, o profeta judeu, possuía o "espírito dos deuses santos" (Dn 5:11). Ele foi então introduzido na presença dos convivas, e revelou o significado da inscrição.

"MENE, MENE, TEKEL, PARSIN." Em um primeiro nível de interpretação, estamos lidando com medidas de peso: Mene significa mina (600 g); Tekel, siclo (10 g); Parsin, metade de uma mina (300 g). Era uma linguagem dos vendedores, e Belsazar capta a indireta: é uma liquidação do estoque da mercadoria e, portanto, o fim dos seus negócios. 

Mene deriva de uma raiz que significa "contar", "designar", "determinar". A raiz dessa palavra também designa o deus babilônico do destino, "Meni" (Is 65:11 e 12). A mensagem divina compara Belsazar a mercadoria que é "determinada", isto é, que está para ser liquidada. O destino do rei o aguarda (Dn 5:26).

Yahweh o revelara que o reino de Belsazar havia passado, e seria repartido entre os medos e persas. Imediatamente, o atordoado regente honrou a Daniel como a terceira pessoa do reino e, a seguir, concentrou-se na urgência de defender sua capital da aproximação do exército inimigo. 

Tudo em vão. Forças invasoras ocuparam Babilônia e ceifaram a vida de Belsazar naquela mesma noite. Segundo as Crônicas de Nabonido, Gobrias (Dario, o Medo) ascendeu ao trono. Mais tarde, Nabonido, o rei neobabilônico de iure, foi preso quando assim que retornou à capital do reino que lhe fora arrebatado.   

Adaptado de DOUKHAN, Jacques. Segredos de Daniel - Sabedoria e sonhos de um príncipe no exílio. Tradução de Matheus Cardoso. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2017, p. 80-90.

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