quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Hasteamento da bandeira de Israel, ao final da Primeira Guerra Árabe-Israelense, 10 de março de 1949. Créditos: Micah Perry / Government Press Office (GPO).
No dia 14 de maio de 1948, o Mandato Britânico na Palestina chegou ao fim. Onze minutos depois, os Estados Unidos reconheceram o novo Estado de Israel. O mesmo fez a União Soviética. Em contrapartida, os Estados árabes que tinham fronteiras com o novo país lançaram um ataque imediato. Aviões egípcios bombardearam Tel Aviv, e os soldados egípcios avançaram pelo sudoeste, mas foram detidos no povoado de Yad Mordechai. A Legião Árabe da Transjordânia e o Exército Árabe de Libertação, com base na Síria, entraram no território atribuído aos judeus pelas Nações Unidas. No centro do país, tropas iraquianas atacaram posições israelitas. A artilharia da Legião Árabe bombardeou o bairro judaico da Cidade Velha de Jerusalém, que caiu nas mãos dos tranjordanianos. Um cessar-fogo foi assinado em 11 de junho de 1948, e a trégua seria usada pelos dois lados para ganhar terreno.
Em 9 de julho, os árabes romperam a trégua, reiniciando a guerra. Em dez dias, as forças israelenses, reforçadas, mantiveram a contra-ofensiva e conquistaram novas posições. Uma nova proposta da ONU foi rejeitada, desta vez pela rejeição de países árabes e da URSS. Enquanto isso, as Forças de Defesa de Israel (FDI) ocupavam o Negev. Em dezembro, as FDI lançaram uma ofensiva no sul, ocupando a Faixa de Gaza e o Sinais, mas retiraram-se pouco depois, por pressão estadunidense. Em 7 de janeiro de 1949, Israel e os países árabes aceitaram iniciar as negociações para um armistício. Em 11 de maio, Israel foi admitido na ONU.
A guerra durou nove meses e as linhas do seu cessar-fogo temporário mantiveram-se durante quase 20 anos como fronteiras de Israel. Ao contrário da versão que predomina na historiografia oficial israelense, o conflito não foi uma luta de Davi contra Golias. A vitória final dos israelenses refletiu o equilíbrio militar no campo de batalha. os soldados judeus estavam muito bem treinados e motivados, tanto que os efetivos da Haganá triplicaram até o final dos conflitos, atingindo 94 mil homens em armas em dezembro de 1948. Do lado árabe, havia inicialmente uma superioridade numérica, mas escasso treinamento militar. As tropas mais bem preparadas eram as da Síria e do Egito.
As cidades árabes da Palestina da margem ocidental do Jordão foram ocupadas e anexadas pela Transjordânia, que também ocupou e demoliu o bairro judaico da Cidade Velha. O Egito ocupou a Faixa de Gaza. Pelas armas, Israel tinha expandido o seu território de 55% da Palestina que lhe tinham sido atribuídos pelo plano de partilha da ONU, para 79% do território. A Guerra de Independência de Israel, todavia, custou 6 mil vidas aos judeus, 1% da população judaica do novo Estado. No rescaldo do conflito, chegaram ao país mais de um milhão de judeus da Europa e de países muçulmanos, em especial do Norte da África e do Iraque. As baixas árabes foram provavelmente maiores do que as dos judeus, mas seus números nunca foram divulgados.
Três quartos de milhão de refugiados árabes tinham fugido dos combates ou sido incentivados por Israel a partir. Alguns foram expulsos à força das suas aldeias, que a seguir foram demolidas. Mais de um milhão foram internados em campos de refugiados no Líbano, Síria, Egito e Jordânia (como a Transjordânia passou a ficar conhecida). Vários milhares de casas de árabes em Jerusalém foram ocupadas pelos judeus recém-chegados, muitos dos quais tinham por sua vez sido expulsos das suas casas em territórios árabes.
Em Israel, 160 mil árabes ficaram ou regressaram poucos meses depois da guerra. Tornaram-se cidadãos israelenses, vindo mais tarde a votar em eleições e a ter representação parlamentar. Cinquenta anos depois de declarado o Estado de Israel, estes árabes israelenses já eram mais de meio milhão (cerca de 20% da população do país). Nunca deixaram de se sentir cidadãos de segunda classe.
Bibliografia consultada:
GILBERT, Martin. História do Século XX. Tradução de Francisco Agarez. 3ª edição. Alfragide, Portugal: Dom Quixote, 2014, p. 313-314.
CAMARGO, Cláudio. Guerras Árabe-Israelenses. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006, p. 432-4.
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