“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Contrarreforma

terça-feira, 16 de maio de 2017

Livro contendo o Index Librorum Prohibitorum (Veneza, 1564).

Dois monges camáldulas, Paolo Giustiniani e P. Quirino, analisaram de forma contundente os males da Igreja no Libellus ad Leonem (1513). No século anterior (o XV), a duras penas a Igreja havia conseguido superar o cisma do Ocidente e as teorias conciliares pelas quais o concílio geral dos bispos se sobrepunha ao poder papal. Contudo, não realizara uma autêntica reforma interna, cuja necessidade era muito sentida nos meios católicos. 

O processo histórico-religioso conhecido como Contrarreforma teve aspectos positivos e alternativos, que já se prenunciava com a fundação do Oratório do Amor Divino, uma congregação dedicada à caridade e à devoção, surgida em 1517, no mesmo ano em que Lutero lançou as suas 95 Teses. O principal líder dessa contra-ofensiva católica foi o papa Paulo III (1534-1549). 

Sob seu pontificado, foram tomadas algumas medidas importantes: 

- Uma comissão para a reforma da cúria elaborou, em 1537, um informe, o Consilium enmendanda ecclesia. Esse documento assinalava os males da Igreja, mas suas sugestões nunca foram postas em prática, uma vez que seu radicalismo se chocava com a cautela do pontífice.

- Em 1540, Paulo III reconheceu e aprovou a criação da Companhia de Jesus, ordem fundada em 1534 por Santo Inácio de Loiola. A companhia foi organizada de modo rigorosamente hierárquico e militar, e aos votos ordinários somou-se um voto de obediência total ao papa.

- Em 1542, Paulo III reorganizou a Inquisição Romana, que gozou de jurisdição universal e foi confiada a cardeais inquisidores da congregação do Santo Ofício.

- Em 1545, o referido papa convocou o Concílio de Trento. Inicialmente, participaram dele apenas cerca de 30 padres, e desde o princípio fracassou qualquer possibilidade de reconciliação com os luteranos. As sessões realizadas em Trento (cidade italiana encravada nos territórios imperiais) prolongaram-se durante 18 anos, tendo começado já de uma controvérsia: enquanto o imperador pediu que se abordassem logo as questões referentes à reforma disciplinar do clero, o papa considerava oportuno iniciar com as discussões sobre o dogma e a ortodoxia. 

O Concílio de Trento passou por uma longa suspensão durante o papado de Paulo IV (1555-1559). Este acentuou a repressão e fundou, em 1559, a Congregação do Índice, encarregada de examinar todas as obras consideradas perigosas para a fé e para a ortodoxia, proscrever sua leitura e elaborar um índice de livros proibidos, para ordenar sua destruição. 

O Concílio de Trento terminou em 1563, sob o pontificado de Pio IV (1559-1565), graças à decisiva mediação do cardeal Giovanni Morone. A posição da Igreja saiu reforçada, e o caráter divino do sacerdócio foi reafirmado. Além disso, confirmou-se a supremacia do papa, como autêntico representante de Cristo e sucessor de Pedro. Além da decidida defesa da doutrina católica, foram introduzidas algumas inovações no que se refere à reforma moral e disciplinar, a começar pela criação de seminários, escolas de formação dos futuros sacerdotes. Embora o latim se mantivesse na missa, foi criada uma forma de divulgação oral da mensagem evangélica adequada à massa dos fiéis: o Catecismo Romano (1566). Todos os bispos, párocos e abades passaram a ser obrigados a residir em suas respectivas sedes e foi-lhes vetado o acúmulo de benefícios eclesiásticos.  

Bibliografia consultada: ALMARZA, Meritxell & SÁNCHEZ, José Luis (dir.). História das Religiões - Crenças e práticas religiosas do século XII aos nossos diasTradução de Carlos Nougué. Barcelona: Folio, 2008, p. 50-51.

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