“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Canção de Rolando

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Carlos Magno lamenta ao encontrar o corpo de Rolando. Miniatura anônima do século XIV.

Uma das manifestações culturais mais comuns da Idade Média foram as canções de gesta, poemas épicos que narravam grandes feitos. As lendas criadas em torno de Carlos Magno e seus cavaleiros foram temas de muitas dessas canções. 

A canção de Rolando é um exemplo desse tipo de literatura. Ela faz parte de A vida de Carlos Magno, obra escrita por Eginhardo (770-814) pouco antes da metade do século IX. O poema descreve a derrota dos francos para os muçulmanos na Batalha de Roncevaux, ocorrida na região dos Pireneus (montanhas na fronteira da França com a Espanha), em 778. 

No poema, Carlos Magno recebe a visita de emissários do rei muçulmano Marsílio, cujo exército ocupava Saragoza, na atual Espanha. O objetivo do encontro é a proposta de um acordo de paz. Rolando, sobrinho do rei, pede cautela, mas Carlos Magno, influenciado por Ganelão, padrasto de Rolando, aceita o trato. Ganelão é indicado por Rolando, seu enteado, para levar a notícia ao rei muçulmano. 

Sentindo-se ameaçado, Ganelão resolve trair Rolando e propõe um acordo com o rei muçulmano Marsílio, que, segundo o plano, faria um pacto de paz com Carlos Magno, mas depois da retirada de grande parte das forças francas, ele atacaria a retaguarda do exército. O ataque resultou em combates violentos e, antes do retorno das tropas de Carlos Magno, todos os soldados francos foram mortos, entre eles Rolando. 

Não se sabe se Rolando de fato existiu. Alguns fatos históricos a que A canção de Rolando se refere foram adaptados. Por exemplo, a Batalha de Roncevaux foi travada contra os bascos e não contra os muçulmanos, como descrito na canção. Além disso, Carlos Magno não conquistou a região de Saragoza como parte de sua vingança, conforme afirma o poeta no final da narrativa.

Essas alterações provavelmente estão relacionadas ao contexto histórico da época em que A canção de Rolando foi escrita - período do início das lutas entre cristãos e muçulmanos, no tempo do movimento cruzadista. 

Na canção, as relações entre nobres cavaleiros, tipicamente feudais, são exaltadas. Tais relações não existiam na época de Carlos Magno. Percebe-se, portanto, que o poema fazia parte do imaginário mítico medieval e foi produzido para celebrar o heroísmo de Carlos Magno e exaltar o povo francês. 

Obediência ao soberano, fidelidade, coragem, bravura e apelo à luta contra os muçulmanos marcam a A canção de Rolando. Com exceção de Ganelão, símbolo da infidelidade, os nobres são representados como modelos de moralidade e honra dos guerreiros, valores que enalteciam a imagem da nobreza e a preservação da ordem estabelecida durante a Idade Média.     

Adaptado de VICENTINO, Cláudio & VICENTINO, José Bruno. Olhares da História: Brasil e Mundo. Colaboração de Severio Lavorato Júnior. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2016,  p. 232-233.

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