“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Unidade da Cristandade Medieval

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

No livro A Idade Média explicada aos meus filhos, o historiador francês Jacques Le Goff (1924-2014) é entrevistado sobre vários assuntos referentes ao período medieval. Leia abaixo um trecho selecionado da entrevista e, depois, responda ao que se pede. 

Entrevistador: Na Idade Média, todos os países da Europa eram cristãos e o chefe dos cristãos era o papa, que morava em Roma. Mas será que as pessoas já tinham consciência dessa unidade? 

Le Goff: Mais ou menos a partir do século XI, os cristãos organizaram expedições em comum contra os muçulmanos, na Palestina, para reconquistar os "lugares santos" onde Cristo tinha morrido e ressuscitado. São as Cruzadas (elas aconteceram entre 1095 e 1291, data da queda da última resistência cristã na Palestina, São João D'Acre). Os homens e mulheres da Idade Média tiveram então o sentimento de pertencer a um mesmo grupo de instituições, de crenças e de hábitos: a Cristandade. Mas é muito importante compreender o seguinte: contrariamente aos dois outros "monoteísmos", judeu e muçulmano [...], os cristãos dividiam o poder exercido na terra entre, de um lado a Igreja (poder "espiritual"), e de outro os chefes leigos (o poder "temporal"); logo, entre o papa de um lado, os reis e imperadores do outro.

Entrevistador: Por que os cristãos faziam essa distinção? 

Le Goff: Ela vem do livro sagrado dos cristãos, o Evangelho, no qual Jesus prescreve que se dê a Deus aquilo que lhe é de direito, e a César, isto é, aos chefes leigos, aquilo que lhe é de direito (o governo do país, o exército, os impostos, etc.). Essa distinção vai impedir que os europeus vindos do cristianismo atribuam todos os poderes a Deus e aos clérigos e vivam naquilo que chamamos de "teocracia" (países comandados por Deus). Ela permitirá que, a partir do século XIX, sejam fundadas as democracias (poder vindo do povo). 

LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007, p. 77-78. 

1. Para Le Goff, qual era o elemento unificador dos reinos europeus? 

2. Que papel tiveram as Cruzadas na formação dessa unidade? 

3. Pensando no que disse o historiador, comente qual é a relação entre o monoteísmo cristão consolidado na Europa durante a Idade Média e o desenvolvimento das democracias modernas no século XIX. 

4. Na sua opinião, existe(m) hoje algum(alguns) elemento(s) que confira(m) unidade ao mundo ocidental? Argumente em defesa da sua ideia. 

Atividade extraída de VICENTINO, Cláudio & VICENTINO, José Bruno. Olhares da História: Brasil e Mundo. Colaboração de Severio Lavorato Júnior. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2016,  p. 222.

0 comentários:

Enviar um comentário