domingo, 22 de janeiro de 2023
E o lar era sórdido psíquica e fisicamente. Do ponto de vista psíquico, era uma toca de coelhos, um monturo, aquecido pelos atritos da vida que nele se comprimia. Que intimidades sufocantes, que relacionamento perigoso, insensato, obsceno, entre os membros do grupo familiar! Insanamente, a mãe cuidava de seus filhos (seus filhos)... cuidava deles como uma gata cuida de seus filhotes... mas como uma gata que falasse, uma gata que soubesse dizer e repetir uma e muitas vezes: "Meu filhinho, meu filhinho!...". E ainda: "Meu filhinho, oh, oh, ao meu seio, as mãozinhas, a fome, este prazer indescritivelmente doloroso! Até que, finalmente, meu filhinho dorme, meu filhinho dorme com uma bolha de leite branco no canto da boca. Meu filhinho dorme...".
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Nosso Ford - ou nosso Freud, como, por alguma razão inescrutável, preferia ser chamado sempre que tratava de assuntos psicológicos -, Nosso Freud foi o primeiro a revelar os perigos espantosos da vida familiar. O mundo estava cheio de pais - e, em consequência, cheio de aflição; cheio de mães - e, portanto, cheio de toda espécie de perversões, desde o sadismo até a castidade; cheio de irmãos e irmãs, tios e tias - cheio de loucura e suicídio.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Tradução de Vidal de Oliveira. São Paulo: Globo, 2014, p. 59 e 60.
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