“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

DNA Filosófico da Educação UNESCO

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

 

Sete décadas de Educação UNESCO baniram o latim das escolas para entronizar o hip hop e incluir os oprimidos, excluindo a base clássica, a razão aristotélica, a moral judaico-cristã e a fonte primeira da cultura jurídica. Atenas, Jerusalém, Roma e três milênios de síntese cristã foram descartadas. Em compensação, entrou um pacote formado pela diversidade/igualdade/liberdade/tolerância.

Nada disso aconteceu num vácuo filosófico. Immanuel Kant (1724-1804) é o pivô da crônica. No contexto do Iluminismo, a razão foi colocado num pedestal, e Kant se afligia com isso. Chegara, portanto, a hora de julgar a juíza. De filosofar sobre a base mesma da filosofia e de fazer a crítica de quem tudo criticava.

Ora, tal era a mesma posição de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que peitou a onda materialista do racionalismo iluminista. Exaltando a emoção em meio à frieza enciclopedista, Rousseau desprezava o intelecto para exaltar sentimentos e paixão, idealizando um mundo impoluto, intocado pelos desvios da civilização, longe da artificialidade urbana e movido pela espontaneidade cândida de outrora. A razão mais atrapalharia do que ajudaria as pessoas.

A ruptura kantiana foi além. O professor de Königsberg quebrou a dogmática da razão, mas abriu as portas a todo tipo de idealismo, irracionalismo e antirrealismo para legitimar toda forma de subjetivismo. A realidade profunda estaria fora de alcance, o que a levaria a ser simplesmente qualquer coisa. Assim, Kant abriu as portas à intuição, restaurou o poder da emoção e resgatou os instintos com o intuito de salvar a fé. Porém, inoculou o vírus do subjetivismo, lançando as bases de uma tirania ideológica a massacrar a realidade objetiva para idolatrar o foro íntimo. Em síntese, quebrou a hegemonia do pensamento modernista para implantar o embrião do pós-modernismo.

O primado da razão engendrou, pois, Newton e a ciência, Adam Smith e o capitalismo, Montesquieu e a democracia representativa. Mas, ocasionou de quebra o reflexo ateísta a inspirar a contraofensiva kantiana; a semente desta germinaria no pós-modernismo, em meados do século XX.

O pós-modernismo leva o método científico a perder primazia, e lança suspeitas sobre a tecnologia. Idem em relação ao desenvolvimento econômico. Logo, as coisas retornam ao pensamento de Rousseau - a civilização corrompe. A racionalidade europeia legitimaria o imperialismo, que massacrou as demais culturas.

Para completar, o mérito pessoal sai de cena. A responsabilidade pessoal é reduzida. A ética é coletivista. O capitalismo é perverso e a solução seria alguma forma de socialismo ou, no mínimo, algum tipo de redistribuição de renda.

Nesse rescaldo, a escola UNESCO se tornou efetivamente o mais poderoso motor de propagação do niilismo.

Outros filósofos merecem menção. Hegel (1770-1831) se opôs a Kant, no ponto em que este via a contradição com maus olhos. A contradição, na verdade, seria a chave explicativa do universo. A realidade seria movida por forças contraditórias (tese x antítese). Além disso, Hegel pensa em termos coletivos, e não individuais. O homem não teria toda a independência que Kant imaginava. A mente é fruto do ambiente cultural.

Karl Marx (1818-1883) absorveu a dialética hegeliana, em detrimento da lógica aristotélica. E, igualmente, tomou de Hegel a primazia do grupo sobre o indivíduo; a ética coletivista; e a rejeição de qualquer verdade absoluta em favor de uma versão evolutiva da realidade.

Nietzsche (1844-1900), seguindo por uma linha parecida, defendia que estava na hora de libertar-se das arbitrárias categorias da lógica. Razão é artifício de covarde. Força e ousadia valeriam mais do que o intelecto. Arrematando, Schopenhauer (1788-1860) dizia que a realidade é profundamente irracional; a verdade estaria definitivamente fora do seu alcance. Vontade e emoção são bem mais sutis. Kierkegaard (1813-1855), por sua vez, dizia que não existe meio racional de acesso à essência das coisas. Não há como chegar lá sem um ato de fé.

Heidegger (1889-1976), já no século XX, foi mais além: a razão não só seria incapaz de penetrar a realidade, ela representaria um obstáculo ao conhecimento. A linguagem seria uma armadilha, e seu desmonte é condição para qualquer cognição digna do nome. Nesse raciocínio, a compreensão seria tributária de filtros linguísticos que direcionam a percepção. O que a mente captura é função do discurso. O objeto pensado pouco intervém no ato intelectivo. O sujeito pensante é que cria o mundo externo por meio de representações moldadas de forma arbitrária conforme as escolhas terminológicas e o sentido proclamado. Para modificar as relações de força, portanto, bastaria manipular o vocabulário.

Antirrealismo, subjetivismo, relativismo. Eis o pós-modernismo em sua essência. A verdade seria meramente instrumental e sempre visaria um fim político. Foi-se pelo ralo, para sempre, a lógica aristotélica.

A UNESCO sempre trabalhou dentro dessa matriz filosófica. Nesse sentido, por não dar lugar a pensamentos divergentes, produziu um deserto filosófico. A documentação produzida pela organização que prova isso é tão abundante que citá-la seria impossível. Difícil, sim, seria localizar uma só fonte que sugira o contrário.

Adaptado de LAMBERT, Jean-Marie. Educação Unesco - a clonagem das mentes. Londrina, PR: E.D.A., 2020, p. 167-177.

0 comentários:

Enviar um comentário