domingo, 15 de janeiro de 2023
Desde 1999, uma série de tiroteios mortais tem abalado a comunidade escolar norte-americana. E o primeiro episódio dessa triste sequência foi o Massacre de Columbine, Colorado. Durante meses, foram muitas as manchetes e debates sobre o ocorrido, mas o barulho deixou escapar um detalhe: o atirador estava sob efeito de psicotrópicos.
O fato se confirma, inclusive, na maioria dos casos análogos. Virginia Tech, Sandy Hook, Parkland... quase sempre, um ou outro coquetel de medicamentos fazia parte do cenário: um calmante para controlar a hiperatividade, um estimulante para combater a apatia, um antidepressivo para corrigir a ansiedade dos primeiros, um sedativo para dormir, uma pílula para acordar e, finalmente, um comprimido para enlouquecer de vez e metralhar os colegas de escola.
A mídia não explorou muito esse lado do problema, mas o fato é que drogas de toda natureza, indicadas por médicos ou não, tornaram-se o pão cotidiano do americano médio. Toda essa história começou na segunda metade do século XIX, com a internação de Clifford Wittingham Beers (1876-1943) num hospital psiquiátrico do Connecticut.
As instituições da época pouco ofereciam para tratar a depressão. Quando muito, serviam para retirar os "loucos" de circulação. Clifford W. Beers, uma das vítimas desse sistema, relatou tudo o que sofreu numa autobiografia que lhe granjeou a simpatia do público e da classe médica. Animado, Beers lançou o Movimento Americano de Higiene Mental (1919), que logo se articulou com iniciativas análogas em diversos países para formar o Movimento Internacional de Higiene Mental. A julgar pelas informações disponíveis, a iniciativa limitava-se a revolucionar a psiquiatria, e não a sociedade.
Nesse período Entreguerras, o behaviorismo e a psicanálise freudiana estavam no auge. Mais especificamente em 1920, o neurologista Hugh Crichton-Miller fundou a Clínica Tavistock, em Londres. Sigmund Freud e Carl Jung, sucessivamente, ocuparam a sua vice-presidência. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), desempenhou papel chave na organização dos serviços psiquiátricos do exército britânico e funcionou como agente de guerra psicológica. O foco, porém, deixou de ser individual e passou a focar a coletividade.
Nesse sentido, um paradigma era rompido. O Movimento de Higiene Mental, até então, visava o conforto e o tratamento das pessoas afetadas por distúrbios psiquiátricos. Com Tavistock, o interesse se deslocou para a mecânica social, a dinâmica de grupo, a funcionalidade comunitária (ver a indicação bibliográfica acima - a imagem do post).
O doutor J. C. Meakins, representante do Canadá nas negociações de 1948, defendeu os programas escolares e a necessidade de formar o "cidadão ideal", explicando que a resistência às mudanças sociais nas experiências da primeira infância. Logo, a reversão do problema implicaria na transferência da educação familiar para professores treinados em saúde mental e aptos a detectar distúrbios comportamentais incipientes. Em outras palavras, o docente vira um "psiquiatra" com especialização em engenharia humana.
Parte II disponível AQUI.
Adaptado de LAMBERT, Jean-Marie. Educação Unesco - a clonagem das mentes. Londrina, PR: E.D.A., 2020, p. 78-82.
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