“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos A Ascensão de Adolf Hitler

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Hitler discursando por volta de 1925. Sobre o momento que ele então vivia em sua carreira política, ver o fato 12, abaixo. 

1. Adolf Hitler nasceu em 20 de abril de 1889, em Braunau am Inn, no Império Austro-Húngaro, na fronteira com o Império Alemão. Sua relação com o pai, Alois Hitler, não era boa, uma vez que ele o surrava. De qualquer modo, Alois morreu em 1903. Sua mãe, Klara, faleceu em 1907, vítima de câncer. Assim, órfão aos 18 anos, Hitler perambulou entre Linz e Viena, a capital austríaca. Em 1909, durante alguns meses, passou grandes privações. Aos 24 anos, após receber a modesta herança do pai, deixou a Áustria e se estabeleceu em Munique, no Império Alemão. 

2. Em Munique, Hitler ganhou a vida como pintor de retratos de turistas. Ele morava num quartinho alugado do alfaiate Josef Popp. Ele se vestia de modo conservador, quase desleixado. Seu rosto era fundo, os dentes eram amarelados, o bigode era irregular e os cabelos, pretos e sem vida, caíam na testa. O jovem Hitler achava impossível manter amizades duradouras e jamais teve uma namorada.   

3. De fato, Hitler foi, à primeira vista, o líder mais improvável de um Estado sofisticado, no coração da Europa. Ele era incapaz de cultivar amizades humanas normais, incapaz de discutir intelectualmente, transbordava ódio e preconceito, era um solitário, desprovido de qualquer capacidade real de amar.   

4. Em 3 de agosto de 1914, Hitler alistou-se como austríaco no Exército da Bavária. Em setembro, ele foi enviado como soldado comum ao 16º Regimento Bávaro da Reserva. Não é de se surpreender que Hitler tenha elaborado a visão da vida como uma luta brutal constante - a vida para um soldado raso da Primeira Guerra era exatamente isso. Hitler foi um combatente corajoso, sempre pronto para se oferecer como voluntário para entregar mensagens nas situações que envolviam grande risco de morte. Ferido na Batalha de Somme (outubro de 1916), e novamente em outubro de 1917, perto de Ypres, foi indicado por um oficial judeu, Hugo Gutmann, a receber a Cruz de Ferrão, Primeira Classe.   

5. No livro Mein Kampf (Minha Luta), Hitler demonstrou acreditar no mito de que foi por trás da linha de combate, na Alemanha, que as tropas haviam sido traídas pelos que queriam lucrar com o sacrifício dos soldados em combate. Na verdade, os alemães foram esmagados pelo peso das tropas aliadas (que passaram a incluir os americanos, após abril de 1917), pela escassez de alimentos provocada pelo bloqueio naval da Alemanha pelos Aliados e pela irrupção da influenza (a Gripe Espanhola), em 1918. 

6. Em 7 de novembro de 1918, dez dias antes de Hitler receber alta do hospital, o socialista Erhard Auer e o judeu e socialista Kurt Eisner estiveram à frente de uma manifestação que tornou Munique uma república socialista. Aparentemente, Hitler aceitou a revolução comunista em Munique, em abril de 1919. Todavia, em setembro daquele mesmo ano, ele escreveu seu primeiro manifesto público antissemita. Ele passou a ligar os judeus aos bolchevistas, o que não chegava a ser uma reflexão original, e foi a origem de boa parte do preconceito antissemita disseminado no rastro da Primeira Guerra Mundial.

7. A liderança carismática de Hitler baseava-se em sua habilidade retórica. Mas ele foi favorecido por lidar com um público que ainda digeria o trauma de uma guerra perdida, a destruição de um antigo sistema político baseado no kaiser, o medo de uma revolução comunista e a hiperinflação, que assolou a Alemanha a partir de 1923. Assim, entre o povo alemão, após a Primeira Guerra, muitos ansiavam pelo surgimento de um herói - um "homem forte".  

8. Desde o início, Hitler desprezava a democracia, ridicularizando a noção de que "o povo governa". Ele dizia que a Alemanha precisava não de uma democracia, mas de um indivíduo que recuperasse a forte liderança do país. Hitler exigia que todos, exceto os "arianos", fossem excluídos da cidadania alemã; assim, o país poderia se tornar uma nação de uma "raça" e, no processo, todas as distinções de classe seriam "eliminadas".

9. Hitler rapidamente dominou o pequeno Partido dos Trabalhadores Alemães e, além de ser seu principal porta-voz, tornou-se responsável por toda a propaganda da agremiação. Junto com Anton Drexler, elaborou os "25 pontos", um "programa" partidário deliberadamente vago que previa a saída da Alemanha dos tratados de paz de Versalhes e de Saint-Germain, a cassação da cidadania alemã dos judeus, a proibição da aceitação de imigrantes, medidas contra o capitalismo e considerar como legítimos cidadãos do país apenas os que tivessem "sangue alemão". Logo após a apresentação dos "25 pontos", o nome do partido foi alterado para "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães", NSDAP (ou nazista). Em agosto de 1921, Hitler já exercia um poder ditatorial sobre o inexperiente Partido Nazista.

10. Em 8 de novembro de 1923, Hitler e mais uma dezena de apoiadores (incluindo Hermann Göring, Rudolf Hess e Alfred Rosenberg) lideraram o malfadado Putsch de Munique. Detido, julgado e condenado, Hitler aproveitou os meses em que ficou na prisão para escrever o Mein Kampf. O livro foi escrito para provar que ele não era meramente um agitador de cervejaria, mas um pensador político de visão ampla. Mein Kampf apresenta uma visão coerente e horripilante do mundo. Para Hitler, nós vivemos em um universo no qual a única constante é a luta. Nós somos animais e, assim como eles, enfrentamos o dilema de destruir ou de sermos destruídos.   

11. Para Hitler, acreditar que a vida consistia, essencialmente, no forte destruindo o fraco, era algo revigorante. Ele aliava sua visão quase darwiniana à ideia de raça, e defendia não só que um indivíduo forte deveria destruir um indivíduo fraco, mas que grupos raciais inteiros deveriam andar juntos e eliminar outras raças. Nessa luta pela supremacia racial, o oponente-chave era o judeu. Essa visão gélida e violenta derivou da própria filosofia potente e mortal de Hitler com elementos perniciosos dos darwinistas sociais, das ideias de Arthur de Gobineau e de Alfred Rosenberg, e dos acontecimentos no front Oriental, já no fim da Primeira Guerra. Nessa ocasião, a Alemanha tomara - ainda que temporariamente - terras agrícolas da Rússia bolchevique. Assim, Hitler concebeu a ideia de criar um império no Leste.

12. Ao ser libertado da prisão de Landsberg, em dezembro de 1924, Hitler passou a defender que os nazistas deveriam tentar um novo caminho para chegar ao poder - o das urnas. Em maio de 1928, contudo, os nazistas só angariaram 2,6% dos votos. Em outubro de 1929, no entanto, com a quebra de Wall Street, milhões de alemães se abalariam com a nova crise econômica e se mostrariam receptivos à oferta carismática de Hitler.  

13. Nas eleições gerais de julho de 1932, os nazistas se tornaram o maior partido do Reichstag, com 230 assentos e participação de voto de quase 38%. Ainda assim, o presidente Paul von Hindenburg não convidou Hitler a formar um governo (que, desde o fim de maio, estava a cargo de Franz von Papen). Uma vez no poder, a partir de 27 de janeiro de 1933, Hitler usaria a tática de exagerar as ameaças potenciais à Alemanha. Ele notara a falta de desejo da população alemã por outra guerra e, portanto, passou a exagerar o possível perigo dos outros como um motivo para que a Alemanha se preparasse para o conflito.

14. Apesar de ser uma figura humana lamentável, Hitler exerceu o papel mais importante em três das mais devastadoras decisões já tomadas: a invasão da Polônia, o que desencadeou a Segunda Guerra Mundial, em 1º de setembro de 1939; a invasão da União Soviética, em 22 de junho de 1941; e, finalmente, a decisão de exterminar os judeus.   

15. No entanto, o führer não criou todo esse horror sozinho, e junto com suas inúmeras inadequações, seu grande poder de persuasão era inquestionável. Em 1942, o próprio Hitler declarou que toda a sua vida poderia ser resumida ao seu esforço incessante de persuadir outras pessoas. 

Bibliografia consultada: REES, Laurence. O Carisma de Adolf Hitler: o Homem que conduziu Milhões ao Abismo. Tradução de Alice Kelsck. Rio de Janeiro: LeYa, 2013. 

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