“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos A República Romana

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Com o penacho transversal no capacete, Kevin McKidd interpreta o centurião Lúcio Voreno na série Roma, da HBO. As legiões foram fundamentais para a extraordinária expansão territorial de Roma, nos anos da República.

1. Sexto Tarquínio, um dos filhos do rei Tarquínio, o Soberbo (535-509 a.C.), violentou a casta Lucrécia. No dia seguinte, ela suicidou-se após contar sua desgraça ao seu pai e ao seu marido, Tarquínio Colatino. Este, então, provocou uma rebelião e o rei Tarquínio precisou fugir e se refugiar na cidade etrusca de Chiuse (509 a.C.). No lugar do rei, criaram-se dois cônsules, magistrados que, por seus poderes e prerrogativas, eram os sucessores dos reis. 

2. Podemos supor que o início da República tenha sido marcado por uma crise bastante longa, que implicou na interrupção de sua expansão e em seu empobrecimento. As cidades latinas aproveitaram as dificuldades de seu vencedor para recuperar a independência e se coligar contra Roma. A batalha, ocorrida na planície do lago Regilo, foi vencida pelos romanos em 496 a.C.   

3. A luta entre Roma e as cidades vizinhas, no entanto, continuou ainda por muito tempo. Os romanos precisaram instalar por toda a parte colônias formadas por cidadãos e ex-soldados. Aos poucos Roma cercou-se de cidades-satélites que assinalavam seu império nascente.    

4. Internamente, porém, a decadência do comércio e o empobrecimento geral aguçaram as lutas sociais. Os plebeus haviam sido os mais afetados e muitos deles acabaram escravizados por dívidas para os patrícios. Como estes resistiam às reformas, os plebeus fizeram uma "secessão" e instalaram-se ao norte de Roma, no Monte Sacro.   

5. Os plebeus arrancaram assim suas concessões - como leis escritas, tribunos da plebe e o fim da escravidão por dívidas. Com o retorno da concórdia, Roma retomou sua política expansionista. As colônias puderam conter a pressão dos équos e dos hérnicos, que cercavam o Lácio a leste e a sudeste. Após um cerco de dez anos, a cidade de Veii foi abatida. 

6. No início do século IV a.C., os gauleses, após transporem os Alpes, chegaram até as proximidades de Roma, num riacho denominado Allia. Devido a uma manobra errada, os romanos não puderam deter os gauleses liderados por Breno. Na sequência, entraram, sem resistência, em Roma. Um grupo resistiu no Capitólio, mas teve que entregar muito ouro para que Breno deixasse a cidade. Roma saiu da guerra arruinada e, ainda que os gauleses tenham sido derrotados pelos romanos e seus aliados posteriormente, os gauleses inspiraram um medo duradouro nos romanos. 

7. As "guerras samnitas" opuseram os exércitos romanos às populações "itálicas" do Apenino central e meridional. Essas populações não haviam conhecido no mesmo grau que os romanos a influência da civilização etrusca e do comércio marítimo. Eram camponeses vigorosos, cheios de determinação e de astúcia. Impuseram uma derrota humilhante aos romanos, mas o Senado recusou-se a pedir a paz. Anos mais tarde, a situação se inverteu e um exército romano apoderou-se de Bovianum. Os romanos, finalmente, tornaram-se senhores de toda a Itália.  

8. A maioria das colônias gregas do sul havia sido conquistada, há muito tempo, pelos montanheses do Apenino, sem a intervenção de Roma. Restava, porém, uma última grande potência de língua e civilização gregas - Tarento. Quando outra colônias grega da região, Thurium, foi ameaçada por um ataque externo, recorreu a Roma. Os romanos aceitaram protegê-la. Assim, enviaram uma frota para a região. Os tarentinos, por outro lado, irritaram-se com a provocação e afundaram quatro navios romanos. Explodia assim a guerra entre Roma e Tarento, mas esta teve que recorrer ao rei de Épiro, Pirro (306-302 a.C. / 297-272 a.C.). 

9. Pirro era parente próximo de Alexandre, o Grande e sonhava em fundar um império na Itália. Instruído pelas campanhas dos reis do Oriente, contava com uma "cavalaria" pesada, formada por elefantes. Numa primeira ocasião, forçou os romanos a recuarem. No ano seguinte, Pirro voltou a lançar mão de seus paquidermes, mas com menos sucesso. A vitória obtida nesse dia foi tão custosa que ele teve que negociar; o Senador de Roma, no entanto, rejeitou suas propostas. Dali partiu para a Sicília, onde se aliou aos siracusanos contra os cartagineses, mas a empreitada não deu certo e a aventura acabou repentinamente. Pirro então retornou à Itália, mas foi derrotado em Benevento e teve que deixar a península. Anos mais tarde, em 227 a.C., Tarento capitulou e os romanos passaram a controlar toda a Itália.  

10. Durante essa longa sequência de guerras, Roma evoluiu e os plebeus acabaram por se equiparar aos patrícios quanto aos direitos civis. Para auxiliar os cônsules, surgiram outras magistraturas, como os pretores, os questores e os censores. Essa multiplicação de magistraturas explica, em boa medida, a razão de os plebeus terem conquistado cargos na administração do Estado. Os patrícios já não davam mais conta de tudo sozinhos. Essa política foi favorável ao sentimento republicano, uma vez que os cidadãos romanos passaram a sentir que participavam mais plenamente da vida do seu país.  

11. Cartago, uma colônia fenícia no norte da África, logo se tornou senhora incontestável de todo o comércio africano. Sua agricultura era uma das mais "científicas" do mundo. Assim, sustentada por sua riqueza, sua marinha e suas feitorias longínquas, Cartago pretendia ditar a lei no Mediterrâneo ocidental. Quando um exército cartaginês ocupou Messina, que até então sofria pilhagens por parte de mercenários que outrora serviam aos tiranos de Siracusa, os romanos intervieram para livrar Messina dos novos ocupantes. Era 264 a.C. e assim se iniciava o primeiro dos conflitos das Guerras Púnicas (264-146 a.C.), entre Roma e Cartago. 

12. No fim, foi a obstinação romana que venceu Cartago nesse primeiro enfrentamento. Foi após a batalha das ilhas Égatas, em 241 a.C., que Cartago pediu a paz e se retirava, assim, da Sicília. Aproveitando-se da fraqueza da rival, Roma ocupou a Sardenha e a Córsega, e a seguir livrou a região de Gênova dos ligúrios e a região da Lombardia ao Vêneto dos gauleses. Temendo que Cartago fosse asfixiada pela mais nova potência do Ocidente, Amílcar obteve do Senado cartaginês a autorização para conquistar o único país do Ocidente ainda disponível - a Espanha. Seu filho e sucessor, Aníbal, atacou Sagunto, aliada dos romanos, provocando o início da Segunda Guerra Púnica.   

13. De forma genial, Aníbal conduziu seu exército pelos Alpes até adentrar a Itália. Contudo, apesar de suas vitórias brilhantes contra sucessivas forças romanas, ele encontrou um país cada vez mais hostil à medida que avançava pela Itália. Os soldados que ele recrutara na Gália Cisalpina se cansavam ou desertavam, e o Senado de Cartago recusou-lhe reforços. Apesar disso, conseguiu uma vitória estrondosa sobre Roma em Canas (216 a.C.). Os romanos, no entanto, se reergueram e, comandados por Cipião, derrotaram o exército de Cartago em Zama (202 a.C.). Entretanto, apenas ao final da Terceira Guerra Púnica a cidade de Cartago foi destruída. Roma passou a controlar, de forma absoluta, o Mediterrâneo ocidental.

14. Os despojos de Cartago fizeram de Roma uma potência econômica - todo o comércio do Mediterrâneo ocidental caiu em suas mãos, bem como as minas da Espanha, e novos mercados se abriram à sua agricultura. No entanto, menos de dez anos após ter vencido Aníbal, os romanos voltaram a pegar em armas para resolver, como bem entendessem, os assuntos do Oriente. Em 197 a.C., em Cinocéfalo, Filipe, rei da Macedônia, foi derrotado pelo cônsul Flamínio, uma punição por ter cedido às solicitações de Aníbal. Mas, logo a seguir, o cônsul apressou-se a devolver a "liberdade" às cidades gregas. As últimas décadas do século II a.C. em Roma foram marcadas pelas guerras contra Mitrídates, pelas reformas de Caio Mário, que profissionalizou o exército, e pelas tentativas de reformas sociais dos irmãos Graco.  

15. Cornélio Sula, antigo tenente de Mário, assumiu as operações no Oriente e, após concluir sua missão, retornou à Itália, onde enfrentou uma guerra civil contra os "populares" - em novembro de 82 a.C., mais de 50 mil deles foram mortos em combate, além de 8 mil prisioneiros, mortos a sangue frio. Sula abdicou da ditadura em 79 a.C. Na sequência, as legiões esmagaram na Espanha a revolta de um ex-partidário de Mário, Sertório. Mas o Oriente voltou a se agitar, e para derrotar definitivamente a Mitrídates, Pompeu foi designado. Na própria Itália, uma grande revolta de escravos, liderada por Espártaco, foi derrotada em 71 a.C. O popular Pompeu formou, secretamente, o primeiro triunvirato com Crasso e Júlio César. Com a morte de Crasso em Carras, em 53 a.C., tornou-se inevitável a guerra civil entre Pompeu e César. Este venceu, em 45 a.C., tornando-se dictator. No entanto, foi assassinado em 44 a.C., no Senado. Formou-se o segundo triunvirato (Marco Antônio, Lépido e Otávio), que também se dissolveria. A própria república morreria, na Batalha de Áccio, em 31 a.C., e Otávio viria a ser proclamado o primeiro imperador. 

Bibliografia consultada: GRIMAL, Pierre. História de Roma. Tradução de Maria Leonor Loureiro. São Paulo: Editora Unesp, 2011, p. 35-117.

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