“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Homem Medieval e os Vícios

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Livro de Horas (c. 1475) de Robinet Testard (França, 149 x 107 mm, M. 1001, fol. 98, detalhe). A luxúria se encanta consigo mesma e desordena o mundo. O cavaleiro é um jovem, muito bem vestido. Montado em um bode com grandes testículos (personificação da luxúria), ele traz um pássaro, que seduz com seu canto. Na cena inferior, o diabo, de nome Smodeus, tem longos chifres. Com sua mão direita, ele parece impulsionar seu pecado: no centro da cena, uma mulher é assediada por três homens - um, inclusive, a agarra por trás. Exibida, ela parece apreciar a corte e a luxúria. À direita, uma senhora é violentada por um homem. Uma jovem de vestido vermelho assiste a tudo, em êxtase. 
Análise iconográfica adaptada de ricardocosta. 

    O homem da Idade Média vivia obcecado pelo pecado. Ele o cometia quando se entregava ao Demônio, quando se declarava vencido perante os portadores do pecado, os vícios. Para ele, esses vícios têm a forma de animais simbólicos, de alegorias ameaçadoras, encarnação dos pecados capitais que, no século XX, se constituíram em septenário: o orgulho, a avareza, a gula, a luxúria, a ira, a inveja e a preguiça. Ou, então, adotam a forma falsamente sedutora das filhas do Diabo, casadas com os "estados" da sociedade. 

     O Diabo tem nove filhas que ele casou da seguinte forma: 
        a simonia desposou os clérigos seculares 
        a hipocrisia desposou os monges 
        a rapina desposou os cavaleiros 
        o sacrilégio desposou os camponeses 
        o fingimento desposou os oficiais de justiça 
        a usura desposou os burgueses 
        o luxo mundano desposou as matronas. 

   Tem ainda uma nona filha - a luxúria - que ele não quis casar, mas que oferece a todas as pessoas como amante comum. 

P.s. O texto - que omite uma filha - foi anotado na guarda de um manuscrito florentino do século XIII.      

Adaptado de: LE GOFF, Jacques. O Homem Medieval. In: LE GOFF, Jacques (dir.). O Homem Medieval. Tradução de Maria Vilar de Figueiredo. Lisboa: Presença, 1989, p. 25.

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