“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Desafio da Reprodução em Roma

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Escultura em bronze do século I, conhecida como Vênus de Barcelona. "O amor é fastidioso nas mulheres", segundo Aristóteles; "a fêmea, em razão da sua debilidade constitutiva, alcança rapidamente a idade adulta e a velhice...". Com o corpo estropiado e os problemas do pós-parto mal solucionados, a mulher prefere prescindir das relações (ROUSSELLE, p. 354). 
Museu da História da cidade de Barcelona.

No Império Romano, a população poderá ter sido de 60 milhões de habitantes. A esperança de vida à nascença situava-se entre os 20 e os 30 anos. A realidade era especialmente dramática para as crianças e para as mulheres. Tanto no mundo romano quanto em todas as sociedades anteriores aos progressos da obstetrícia e da profilaxia neonatal, o destino das mulheres era fixado pela maternidade. Entre 5 e 10% das mulheres que davam à luz morriam do parto ou de suas sequelas.

Assim, a primeira certeza sobre a vida feminina em Roma é a do risco mortal dos partos, em todas as classes sociais. As parteiras e os médicos nunca estavam seguros de garantir que o parto chegaria a um final feliz. Sabia-se bem que a largura da bacia condicionava os partos. Nas famílias abastadas, os médicos aconselhavam que se moldasse o corpo da moça, assim como o do rapaz, com a ajuda de ligaduras que envolviam completamente a criança nos dois primeiros meses de vida. A ama ou a mãe apertavam as ligaduras nos ombros e em volta do peito, que se desejava estreito, deixando completamente livre o quadril para obter uma bacia larga (ao passo que se comprimiam as ancas dos rapazes). 

Contudo, apesar do perigo dos partos, a obsessão das mulheres era sobretudo a esterilidade. Outra preocupação era com o risco de morte dos filhos, quer durante a gravidez, quer à nascença, quer nos primeiros anos de vida. Todas as classes sociais estavam expostas e acostumadas a esses riscos. A mortalidade infantil devia aproximar-se de um quintoNa Etrúria, na Gália, na região do Eufrates e em todas as civilizações do império, as mulheres e os seus maridos invocaram as divindades para obter a segurança do feto, do recém-nascido e da criança. Os ex-votos testemunham a importância da sua preocupação.

Bibliografia consultada: ROUSSELLE, Aline. A política dos corpos: entre procriação e continência em Roma. In: DUBY, Georges & PERROT, Michelle. História das Mulheres. PANTEL, Pauline Schmitt (dir.). Volume 1 - A Antiguidade. Tradução de Alberto Couto et. al. Porto: Afrontamento, s/d, p. 352-355.

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