“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Calvinismo: a Cristalização da Reforma

domingo, 8 de outubro de 2017

Os síndicos da guilda dos alfaiates (1662). Óleo sobre tela de Rembrandt (1606-1669). Rijksmuseum, Amsterdã, Países Baixos. 
A propósito dessa imagem, leia o artigo Traços puritanos na pintura de Rembrandt.

"O Calvinismo cristalizou a Reforma. Lutero e Zuínglio tinham modificado radicalmente a antiga religião, mas, para além do vigoroso realce dado à Palavra de Deus, as crenças reformadas careciam duma autoridade precisa, duma direcção organizada e duma filosofia lógica. João Calvino deu-lhes tudo isso e mais ainda. Ele foi um daqueles raros caracteres em que o pensamento e a acção se conjugam e que, se chegam a deixar marca, gravam-na profundamente na história. A influência que ele exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541 até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela América." 

"O Calvinismo foi a base dos movimentos protestantes em França, em Genebra, na Escócia e na Holanda, e uma influência importante na Alemanha e na Inglaterra, e mais especialmente nas colónias que os Puritanos emigrados fundaram na América no século XVII. A força deste movimento nasceu da excelência da sua organização e da imponente majestade da sua teologia. Essa organização, moldada na de Genebra e abrangendo tanto o laicado como o clero, consistia, em resumo, numa série de associações ligadas umas às outras; em França, onde estas incluíam o consistório, o colóquio e o sínodo, forneceu a espinha dorsal do movimento de resistência huguenote. Noutros lugares assumiu, por vezes, uma tal importância política e social que veio a ser o factor determinante da história do país. Na Holanda deu novo ímpeto à rebelião contra a Espanha e derrotou os críticos arminianos do rigorismo calvinista no começo do século XVII. 

O Calvinismo foi indubitavelmente robustecido nas lutas contras as potências e os principados pela sua sublime fé na sabedoria orientadora e na graça misericordiosa de Deus. Longe de tornar os homens indiferentes à virtude (como realmente de início poderia supor-se), a crença na predestinação estimulou-os a viverem uma vida digna, interpretada às vezes num sentido demasiado estreito. Segue-se que eram raros os calvinistas que pensavam em termos da sua própria condenação eterna (...). A maior parte dos calvinistas estavam convencidos de se encontrarem entre os eleitos da graça divina."   

GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 187 e 194. 

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