“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

José Bonifácio de Andrada (1763-1838)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016


José Bonifácio de Andrada e Silva (epíteto: "Patriarca da Independência") 
Santos, 1763 - Niterói, 1838. 

O estadista José Bonifácio pertencia a uma família aristocrática portuguesa que o alfabetizou em casa. Em 1783, partiu para Portugal, onde estou Direito e Filosofia na Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, prestou concurso para servir na magistratura do Desembargo do Paço. Em 1790, contudo, recebeu financiamento da Coroa portuguesa para retornar à Europa para estudar Mineralogia, Filosofia e História Natural. 

Seu primeiro destino foi Paris, onde testemunhou a efervescência do movimento revolucionário que derrubou o Antigo Regime. Acabou então aderindo à militância jacobina. Na Alemanha, conheceu os irmãos Wilhelm (filósofo) e Alexander Von Humboldt (cientista). Seguiu para a Áustria, Hungria, Itália, Dinamarca, Noruega e Suécia. Após uma década de estudos pela Europa, estava preparado para servir à Coroa portuguesa em diversas funções, sobretudo administrativas. Após a invasão de Portugal pelas tropas francesas em 1807, chegou a comandar o Corpo Militar Acadêmico. 

De volta ao Brasil, instalou-se em Santos em 1819. No ano seguinte, D. João VI outorgou-lhe o título de conselheiro. Devido à Revolução Liberal do Porto, o rei teve que retornar à metrópole. José Bonifácio candidatou-se então ao governo da província paulista, saindo vencedor. O processo de independência do Brasil estava em curso, e José Bonifácio teve participação decisiva no seu desenrolar. Mobilizou apoio em favor da permanência de d. Pedro no Rio de Janeiro e ganhou a confiança do regente, que o nomeou a ministro da Corte (16 de janeiro de 1822). 

Nesse cargo estratégico, Bonifácio passou a articular o respaldo de lideranças políticas regionais para seu projeto de Estado brasileiro conformado em monarquia constitucional. Empreendeu negociações com grupos políticos cariocas, paulistas e mineiros e, antes mesmo do Sete de Setembro (que não representou uma ruptura definitiva com Lisboa), designou diplomatas para representar o Brasil em Buenos Aires e nas principais capitais europeias. O poder no território brasileiro era então comandado por ele e seus irmãos, Martim Francisco (na pasta da Fazenda) e Antônio Carlos Ribeiro (influente deputado na Assembleia Constituinte de Lisboa iniciada em 1821, bem como na de 1823, tendo sido o autor do primeiro projeto de Carta Magna do Brasil). 

Por ocasião da declaração da Independência, José Bonifácio permaneceu à frente dos cargos ministeriais, e o Brasil, antes Reino, passou a ser Império, desligando-se formalmente de Portugal. Entre as ideias que defendeu no cargo estavam o fim da escravidão, a incorporação dos índios à sociedade brasileira, a miscigenação das raças e a restrição dos latifúndios em prol das pequenas e médias propriedades. Divergências com o imperador, contudo, provocaram a sua demissão em julho de 1823, e o seu exílio, quatro meses depois. Ele e sua família passaram a viver então na França, onde criticou fortemente o autoritarismo do monarca brasileiro. Somente em 1829, aos 66 anos de idade, pôde retornar ao Brasil, numa época de grande instabilidade política. No auge da crise, em 1831, D. Pedro I abdicou ao trono e indicou José Bonifácio para ser o tutor do seu filho e herdeiro do trono, então com cinco anos de idade. Todavia, políticos de tendência liberal e absolutista desencadearam uma campanha que culminou em sua destituição da tutoria em dezembro de 1833. O septuagenário José Bonifácio passou então à reclusão de sua residência na Ilha de Paquetá, na Baía de Guanabara. Faleceu no dia 6 de abril de 1838. 

De seus escritos, constata-se que no tocante ao pensamento político-econômico inclinava-se ao liberalismo clássico, tal como expressam suas críticas ao intervencionismo do Estado nos assuntos empresariais. Considerava também o desmatamento das áreas verdes brasileiras um erro irreparável. Graças aos seus conhecimentos científicos, integrou a Sociedade de História Natural de Paris e a Sociedade Filantrópica de Paris, além de pertencer ainda às principais academias científicas europeias. Participou também da alta hierarquia da Ordem Maçônica no Brasil. 

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Fonte: ERMAKOFF, George (org.). Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012, pp. 73-74.

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