“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos A Segunda Revolta Judaica

domingo, 17 de dezembro de 2017

Tetragrama de Simão bar Kokhba, cunhado em Jerusalém em comemoração à independência da Judeia.

1. No ano 70 d.C., após a derrota dos rebeldes judeus que defendiam Jerusalém, o general romano e futuro imperador Tito ordenou aos legionários da X Fretensis que arrasassem totalmente a cidade e, na sequência, que construíssem entre as ruínas um acampamento permanente para as tropas. 

2. Foi esse cenário de desolação que o imperador Adriano e seu séquito encontraram quando chegaram às colinas da Judeia, no verão de 131 d.C. Restavam poucas construções. Assim, o imperador deu ordens a seus subordinados para que construíssem uma nova cidade (Aelia Capitolina), no mesmo lugar da antiga Jerusalém. Ela teria o status de colônia e seria destinada a receber legionários reformados.

3. Aos judeus, era intolerável que povos estrangeiros vivessem em sua santa cidade, praticando ritos religiosos pagãos. Além disso, Adriano havia proibido a prática da circuncisão em todo o império. Tudo isso levou os judeus da Judeia a se reunirem em torno de Simão bar Kokhba, o líder da Segunda Revolta Judaica contra o Império Romano (132-135).   

4. A liderança de Bar Kokhba adquiriu credibilidade entre os judeus por ele afirmar ser descendente do rei Davi e por ser respaldado pelo rabino mais influente da época, Akiva ben Yosef, que chamava o líder revoltoso de o "Filho da Estrela". Isso implicava que ele era o tão esperado Messias judeu. 

5. A revolta de Bar Kokhba foi planejada com calma e astúcia. No restante do ano de 131, embora Adriano estivesse nas proximidades da Judeia (Egito e depois na Síria), Bar Kokhba e seus seguidores seguiam fabricando as armas que deviam entregar aos seus senhores romanos como forma de tributo. Contudo, as fabricavam com defeitos, enquanto preparavam boas armas para si próprios. Ao mesmo tempo, começaram a construir baluartes subterrâneos em lugares isolados. 

6. Os funcionários romanos da Judeia não prestaram atenção à revolta latente. Na primavera de 132 d.C., a agitação havia se estendido por toda a província, com judeus se reunindo em todas as partes, tanto em segredo quanto publicamente. O movimento rebelde recebia então ajuda de regiões distantes, onde existiam grandes comunidades judias (como as localizadas a leste do Eufrates, na Pártia).

7. A revolta estourou num dia da primavera de 132 d.C. Por toda a província da Judeia, uma série de ataques simultâneos e coordenados que surpreenderam os romanos, mostraram a força dos revoltosos. As legiões aquarteladas na província (X Fretensis, em Jerusalém, e VI Ferrata, na Galileia) levaram a pior nesse levante. 

8. O governador da província, Tineu Rufo, sobreviveu ao início da revolta porque estava na costa, no quartel-general da Cesareia. Os habitantes dos territórios judeus que não apoiavam a revolta - como os cristãos - sofriam nas mãos dos rebeldes sendo, inclusive, assassinados. Ao saber da revolta, Adriano destacou um de seus melhores generais, Sexto Júlio Severo, então governador da Britânia, para esmagar a sedição.

9. É provável que Severo não conseguiu chegar à Judeia antes da primavera ou do inverno do ano 133 d.C. A situação que encontrou era dramática - Dião Cássio escreveu que os romanos foram duramente penalizados ao longo da revolta, embora nenhuma fonte afirme que uma legião tenha sido destruída, ou ao menos perdido a sua águia.

10. Bar Kokhba estabeleceu o seu quartel-general na fortaleza de Bethar, localizada a 12 Km a sudoeste de Jerusalém. A fortaleza, de forma quase ovalada, cobria dez hectares. Logo no início da revolta, os rebeldes conquistaram e destruíram a fortaleza da X Fretensis em Jerusalém. Os legionários capturados foram passados ao fio da espada e, finalmente, o ofensivo porco de mármore que os romanos haviam colocado sobre a porta da cidade foi derrubado.

11. Nos três anos seguintes, Bar Kokhba governou a Judeia a partir de Bethar. Ele era assessorado por um Sinédrio, e chegou a cunhar suas próprias moedas, provavelmente após fundir moedas romanas tomadas como butim. 

12. Severo enfrentou o mesmo desafio que Vespasiano no ano 67 d.C.: recuperar Jerusalém e boa parte da Judeia das mãos dos rebeldes judeus. Para consegui-lo, precisou de reforços, provenientes da III Cyrenaica e da III Galica

13. A resposta romana foi dura e implacável, do mesmo modo que havia sido o massacre dos romanos pelos rebeldes no começo do levante. Tendo em vista a inferioridade numérica de suas forças frente a centenas de milhares de rebeldes armados, o general romano Severo concebeu uma estratégia brutal, porém efetiva. Ele dividiu suas unidades em uma série de grupos menores e de amplo alcance que interceptavam agrupamentos pouco numerosos de judeus. Estes eram capturados, aprisionados e, privados de alimento, morriam de fome. 

14. Em outras regiões, as colunas volantes romanas empreendiam razias relâmpago. Ao localizarem postos avançados de judeus escondidos, todos os revoltosos eram aniquilados, em número de até cinquenta de uma só vez. Foi posta em prática uma verdadeira operação de limpeza étnica que ceifou as vidas de 580 mil homens. Assim, Severo derrotou a revolta sem enfrentar seus oponentes em campo aberto uma única vez.

15. Ao promover o assédio a Bethar (onde, segundo o Midrash judaico, chegaram a reunir-se 200 mil judeus em torno de Bar Kokhba), Severo seguiu o modelo utilizado no cerco a Massada, 62 anos antes. A queda de Bethar e o massacre de todos os que se encontravam no interior de seus muros pôs fim à Segunda Revolta Judaica. Aos judeus, foi proibido até mesmo se aproximar de Jerusalém, e a província da Judeia passou a se chamar Síria Palestina.   

Bibliografia consultada: DANDO-COLLINS, Stephen. Legiones de Roma - La Historia definitiva de todas las legiones imperiales romanas. Traducción de Teresa Martín Lorenzo. Madrid: La Esfera de los Libros, 2012, p. 464-474.

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