“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Deskulakização na URSS (1929-1932)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Propaganda soviética anti-Kulak.

"O kulak é o adversário de classe, e isso é o essencial. As qualificações variam conforme o igualitarismo: emprega um ou dois assalariados, tem uma casa grande, tem duas vacas, etc. E até, quando o camponês que deve ser deportado é tão pobre quanto os outros, basta declará-lo 'kulakizante' para fazer a maldição cair sobre ele. A categoria vale não pelo que engloba, mas pelo que autoriza. Ela é o disfarce de uma guerra contra o campensinato: matam-se ou deportam-se uns, escravizam-se os outros em grandes fazendas sob o controle do partido, kolkhozes [propriedade coletiva] ou sovkhozes [fazenda estatal]. Nunca antes algum regime no mundo se lançara numa operação tão monstruosa, de dimensão tão gigantesca e de tão vastas consequências: eliminar milhões de camponeses, destruir a vida rural até a raiz. Quando o historiador relaciona o caráter do evento com a indiferença que ele encontrou, na época, no Ocidente, e mesmo com os elogios que muitas vezes provocou, ele tem a opção entre dois tipos de explicação, que não são incompatíveis: ou o que se passava realmente na União Soviética era ignorado por ser sistematicamente ocultado, ou então a ideia da 'coletivização dos campos' evocava em muitos espíritos o funcionamento de uma utopia positiva, somado a um sucesso sobre a contra-revolução. A capacidade de mitologizar sua própria história constituiu uma das mais extraordinárias façanhas do regime soviético. Mas essa capacidade teria sido menos eficaz se não se tivesse somado a uma tendência à credulidade inscrita na cultura europeia da democracia revolucionária." 

FURET, François. O Passado de uma Ilusão. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Siciliano, 1995, p. 178.

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