“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Perfil do Imperador Cômodo

domingo, 31 de dezembro de 2017

Detalhe do busto de Cômodo vestido como Hércules. Museus Capitolinos. Cômodo passou a ser chamado "Hércules Romano" após matar animais selvagens no anfiteatro de Lanúvio (HA, Vida de Cômodo, 8.5).

Em 192 d.C., num 31 de dezembro tal como hoje, era assassinado o imperador Cômodo. Ele reinava sozinho desde 180 d.C., quando sucedeu o pai, Marco Aurélio (161-180). Cômodo foi retratado no épico A Queda do Império Romano, de 1964, e na série de 2016 da Netflix intitulada Roma: Império de Sangue.

Segundo uma fonte produzida no século IV, Cômodo "logo desde a primeira infância se mostrava vil, vergonhoso, cruel, lascivo, conspurcado até da boca e pervertido" (História AugustaVida de Cômodo, 1.7). Um vez no trono, ele chocou a aristocracia ao modelar cálices, dançar, cantar, assobiar e de "exibir na perfeição a arte do bufão e do gladiador" (de fato, ele participou de inúmeros combates de gladiadores, e matou com as próprias mãos elefantes e outros animais selvagens). O exibicionismo não parava por aí. Por exemplo, num triunfo, ele aberta e frequentemente beijava um liberto, o amante Saótero. Tal comportamento, desprezível para a elite imperial, foi repetido na orquestra (a parte do teatro reservada aos altos dignitários). 

A relação de Cômodo com o senado era das piores. Seu governo era tão opressivo que sua irmã Lucila e Quadrato, com a anuência do prefeito do pretório Tarruténio Paterno, tramaram para matá-lo. O plano foi frustrado, e a vingança contra os conspiradores foi brutal (nem Lucila, inicialmente apenas enviada ao exílio, seria poupada da execução). 

Ainda mais violenta e ampla foi a repressão aos envolvidos no assassinato de Saótero. A partir de se esbaldar em sua vingança, Cômodo delegou as tarefas da administração do império a Perene. Passou a então a dedicar-se à luxúria desenfreada e às lutas na arena. Após a morte de Perene, o poder de facto passou a Cleandro. Nesse sentido, a corrupção e a venalidade de cargos e de sentenças se intensificaram: para se ter ideia, pela primeira vez, houve 25 cônsules num só ano (189 d.C.), e todos os governos de províncias eram colocados à venda. Como sempre, o povo pagava o preço, na forma de tributos e de escassez. 

Cleandro, contudo, acabaria executado, juntamente com vários outros membros da elite romana. Entretanto, apesar do seu dissoluto "reinado de terror", os legados de Cômodo derrotaram os mauros e os dácios, e promoveram a pacificação das províncias da Panônia, da Britânia, da Germânia e da Dácia. 

A descoberta de uma nova lista de execuções, que incluía Ecleto, o prefeito Quinto Emílio Leto e Márcia, a concubina do imperador, levou os dois últimos a conspirarem contra Cômodo. Primeiro, deram-lhe veneno, mas este foi pouco eficaz. Assim, ordenaram a Narciso, com o qual Cômodo costumava treinar, que o matasse por estrangulamento. Desse modo, um dos mais sanguinários imperadores romanos não viu o ano novo de 193 d.C.

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