segunda-feira, 13 de agosto de 2018
Pedro II em 1865, aos 39 anos de idade.
1. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga nasceu no dia 2 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro. Sendo o filho mais novo de D. Pedro I e da imperatriz Leopoldina de Áustria, que já possuíam quatro filhas, tornou-se o príncipe herdeiro de todas as esperanças nacionais. O príncipe era o oitavo duque de Bragança, e ainda trazia no sangue a herança dos Bourbons e Habsburgos da Áustria.
2. Os pais do futuro D. Pedro II não viviam bem, e dez dias após o primeiro aniversário do príncipe, sua mãe morreu. Logo circularam boatos de que D. Pedro I teria espancado a imperatriz, que era traída e vivia amargurada. Lenda ou não, o fato é que Dona Maria Leopoldina sucumbiu a um parto prematuro, o que contribuiu ainda mais para a construção popular da imagem do "mártir da nação". No dia 7 de abril de 1831, D. Pedro I, após profunda crise política e econômica, abdicou do trono em favor do seu filho. Partiu, então, para Portugal, deixando para trás o príncipe d. Pedro, com pouco mais de cinco anos, e as princesas imperiais d. Januária e d. Francisca.
3. Os príncipes foram confiados pelo imperador a José Bonifácio de Andrada e Silva, seu antigo inimigo político dos últimos anos. Contudo, Andrada acabou substituído pelo marquês de Itanhaém, e entraram em cena então os três personagens mais influentes da juventude de d. Pedro II: D. Mariana de Verna, a camareira-mor; Paulo Barbosa, o mordomo-mor; e Aureliano Coutinho, que exercia uma espécie de professorado político. D. Pedro II foi por eles educado para ser de todo diferente do pai, no caráter, na educação e sobretudo na personalidade.
4. O tedioso cotidiano do jovem herdeiro e as regras estritas, seguidas com a precisão de um relógio, mantinham d. Pedro afastado de seus súditos. O novo imperador era um mito antes de ser realidade: seria justo mesmo se não o fosse, culto mesmo sem inteligência criativa, de moral elevada mesmo tendo amantes. D. Pedro II foi meticulosamente construído como rei, e os limites entre o visível e o invisível esfumavam-se no ar. Longe da tranquilidade e do controle que pareciam reinar no Paço, rebeliões eclodiam em diferentes províncias. Por essa razão, a antecipação da maioridade assumiu ares de salvação nacional. Assim, ainda que faltassem três anos e meio para d. Pedro II completar 18 anos e assumir o governo, ele foi entronizado.
5. Uma vez no trono, procurar uma noiva para o jovem imperador passou a ser uma preocupação. A escolhida foi Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, com a qual D. Pedro II se casou por procuração em 30 de maio de 1843. No dia 3 de setembro, a fragata Constituição, que a trouxe ao Brasil, atracou próximo ao forte de Villegagnon. Dizem que a reação do imperador, assim que viu sua esposa, não foi das melhores. E todo caso, ele cumpriu sua missão de Estado: em 1845, nasceu d. Afonso, o primeiro filho do casal que morreu de febre amarela com um ano; em 1846, nasceu Isabel e, no ano seguinte, Leopoldina.
Enquanto isso, nessa época, a Europa vivia uma onda de revoluções, o Brasil era um oásis em meio à também conturbada situação latino-americana. A entrada do café brasileiro no mercado internacional estabilizou a economia e a criação do cargo de "presidente do conselho de ministros", em 1847, garantiu maior poder de intervenção do imperador no governo.
6. Em 1850, o gabinete conservador aprovou a lei antitráfico negreiro. Consequentemente, uma massa de recursos apareceu do dia para a noite. A década conheceu um surto industrial e a figura central do período foi o banqueiro e empresário barão de Mauá. No Rio de Janeiro, a rua do Ouvidor transformou-se no símbolo de uma nova forma de vida em que se pretendia, nos trópicos, imitar os boulevares europeus. Na capital também se criou uma febre de bailes, concertos, reuniões e festas. Na política, entre 1853 e 1857 o gabinete da "conciliação" misturou representantes dos luzias (liberais) e dos saquaremas (conservadores). Fora esse período, eles se revezaram no poder.
7. Com a construção de um novo palácio no alto da Serra dos Órgãos, as idas de D. Pedro II à fazenda Santa Cruz foram rareando. Logo, não apenas o palácio, mas toda uma cidade à sua imagem e semelhança seria construída: Petrópolis, a "cidade de Pedro". O projeto esteve sob a superintendência do major engenheiro Frederico Koeler, e para povoar a região deserta foi criada uma colônia de imigrantes alemães. A cidade tornou-se uma espécie de vila europeia, e lá todos viviam como se estivessem "na civilização". Assim, Petrópolis tornou-se o local predileto do monarca - ele passou, no total, quarenta verões na cidade, durantes as férias da Câmara e do Senado.
8. No apogeu do império, nem tudo eram festas. Em 1864 estourou a Questão Uruguaia - uma guerra civil entre os partidos Colorado, de Venâncio Flores, liberal, e Blanco, do presidente Aguirre, ruralista. Tanto o presidente argentino, Bartolomé Mitre, e o imperador D. Pedro II apoiaram os Colorados. As forças de Flores e do Brasil cercaram Montevidéu, e em fevereiro de 1865 o senador Villalba assinou a paz com os invasores. Flores assumiu a presidência.
No entanto, a guerra recomeçaria. O ditador paraguaio Solano López, em protesto contra a invasão do Brasil no Uruguai, aprisionou o vapor Marquês de Olinda, em Assunção (10 de novembro de 1864) e, no mês seguinte, declarou guerra ao Brasil e invadiu o Mato Grosso. Dessa forma, mais uma imagem acabou se adicionando à figura do monarca: a de "rei guerreiro", que participaria de modo ativo nos conflitos do Prata, especialmente na Guerra do Paraguai (1864-1870).
No entanto, a guerra recomeçaria. O ditador paraguaio Solano López, em protesto contra a invasão do Brasil no Uruguai, aprisionou o vapor Marquês de Olinda, em Assunção (10 de novembro de 1864) e, no mês seguinte, declarou guerra ao Brasil e invadiu o Mato Grosso. Dessa forma, mais uma imagem acabou se adicionando à figura do monarca: a de "rei guerreiro", que participaria de modo ativo nos conflitos do Prata, especialmente na Guerra do Paraguai (1864-1870).
9. Terminada a guerra, reapareceram pressões pelo fim da escravidão, e as fugas e quilombos se multiplicaram. D. Pedro II era favorável à abolição total, mas temiam-se perturbações sociais. O caminho encontrado foi uma reforma gradual e controlada. Os proprietários de escravos começaram então a se voltar contra o monarca, mas o momento era favorável ao império. Cada vez mais afastado das festas oficiais, dos bailes da elite carioca e mesmo das festas populares, D. Pedro II começava a se portar e a se vestir como um "monarca cidadão", inspirado no seu contraparente Luís Filipe I (1773-1850), o "rei-cidadão" da França entre 1830 e 1848.
10. Apresentando-se como um "monarca moderno", na década de 1870 Pedro II renunciou ao título de soberano (porque a soberania era do povo). Em 1871, deixou de lado o costume português do beija-mão; manteve a liberdade de imprensa e rejeitou títulos e estátuas. D. Pedro II tinha junto ao trono uma biblioteca, um museu, além de um laboratório e seu famoso observatório astronômico, isso sem falar do Colégio Pedro II, a grande predileção do monarca. Na verdade, o imperador dissimulava o poder que efetivamente dispunha. Ele utilizou com muita frequência o Poder Moderador, destituindo ministérios ou dissolvendo o Parlamento.
11. Até a década de 1870, Pedro II não havia saído do país, embora conhecesse parte significativa do seu império. Após decretar o luto pela morte da princesa Leopoldina de Saxe-Coburgo, vítima de febre tifoide aos 23 anos, o monarca partiu em 25 de maio de 1871 rumo à Europa e ao Oriente Médio. Isabel se tornou regente provisória pela primeira vez aos 24 anos.
De Portugal, o imperador prosseguiu pela Espanha, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha (onde evitou Bismarck, mas não perdeu a chance de conhecer Richard Wagner, um de seus compositores prediletos) e Itália. De lá seguiu para o Egito, onde ganhou um sarcófago; prosseguiu para a Palestina, para a Ásia Menor e, finalmente, retornou à França. Em março de 1872, retornava ao Brasil, acompanhado do duque de Saxe, viúvo de d. Leopoldina e de seus dois filhos, Pedro Augusto e Augusto Leopoldo.
De Portugal, o imperador prosseguiu pela Espanha, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha (onde evitou Bismarck, mas não perdeu a chance de conhecer Richard Wagner, um de seus compositores prediletos) e Itália. De lá seguiu para o Egito, onde ganhou um sarcófago; prosseguiu para a Palestina, para a Ásia Menor e, finalmente, retornou à França. Em março de 1872, retornava ao Brasil, acompanhado do duque de Saxe, viúvo de d. Leopoldina e de seus dois filhos, Pedro Augusto e Augusto Leopoldo.
12. Após a volta da viagem, o monarca revelava sinais de cansaço e tédio por sua missão como governante. Assim, em 1876, planejou uma segunda viagem ao exterior. Depois de escalas em Salvador, Recife e Belém, seu vapor chegou a Nova York, onde uma comissão o recebeu em grande estilo. Era a primeira vez que um monarca pisava o território norte-americano e se tratava sobre tudo do the only American Monarch. Além de inaugurar, junto com o presidente Grant, a Exposição da Filadélfia, Pedro II conheceu Alexander Graham Bell.
Dos Estados Unidos, a comitiva seguiu para a Europa onde, desta vez, incluiu uma passagem pelos países bálticos. A imperatriz ficou em Gastein, na Áustria, para se tratar. Após passar pela Turquia e Grécia, a viagem seguiu para a Palestina, e Pedro II passou seu aniversário em Belém. Datam dessa época os rumores sobre as relações entre o imperador e a condessa de Barral, tutora das filhas do monarca e sua companheira de viagem.
13. A partir de sua segunda viagem, o imperador mais parecia um estrangeiro em terras próprias, assistindo de camarote aos movimentos políticos. Data dessa época o aparecimento das primeiras caricaturas, que descreviam um "Pedro Banana", um "Pedro Caju", e assim o imperador era um dos alvos mais constantes de ataques e desenhos satíricos. O período era adverso e as contradições se sobressaíam - a agricultura de exportações gerava 70% das rendas, via impostos, o que resultava num claro compromisso da Coroa com os agricultores. Em 1885, um novo surto de cólera dizimou a população da corte. Quanto ao imperador, um sexagenário que mais parecia um velho consumido, adoeceu em 1887 (e também em 1888), pelo que decidiu retornar à Europa. Mais uma vez, a princesa Isabel assumiu o trono como regente, gerando apreensão, uma vez que o conde D'Eu, seu esposo, se tornara bastante impopular. Enquanto isso, o movimento abolicionista ganhava as ruas.
14. Para Isabel e seus conselheiros, a única saída era se antecipar ao inevitável. Assim, no dia 13 de maio de 1888, ela assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. Com os augúrios do ato que selou a história da escravidão, d. Pedro voltou ao Brasil. Voltava enfermo, assim como a realeza como instituição. Desde 1874, devido à prisão dos bispos d. Vital e d. Macedo Costas, um abismo separava a Igreja do Estado.
Apesar disso, o ano de 1889 pareceu começar bem. No dia 9 de novembro, o governo imperial ofereceu à Marinha do Chile o famoso Baile da Ilha Fiscal. Enquanto isso, militares se reuniam em seu clube para combinar os últimos detalhes do golpe para derrubar a monarquia. Jovens oficiais positivistas, liderados por Benjamin Constant, atraíram para o complô o marechal Deodoro da Fonseca, que havia sido demitido do cargo de comandante de armas do Rio Grande do Sul. Com a deposição do imperador, ele e a família imperial foram enviados para o exílio na madrugada de 17 de novembro de 1889.
15. Além da expulsão, o decreto de 23 de dezembro de 1889 proibia que a família imperial tivesse imóveis no país. Apesar do tratamento rude do novo regime, para a população negra, porém, a monarquia continuou a representar, mesmo que metaforicamente, a libertação. Para a ex-família imperial, o exílio começou de maneira penosa, seja porque o príncipe Pedro Augusto dava sinais de pertubação mental, sendo internado depois em um sanatório em Viena, seja pelo falecimento de Teresa Cristina, em 28 de dezembro de 1889, aos 67 anos, seja pelas dificuldades financeiras - Pedro de Alcântara recusou a ajuda financeira do governo brasileiro, e vivia com a ajuda de amigos mais abastados. Enfraquecido, d. Pedro morreu à meia-noite do dia 5 de dezembro de 1891. Em seu caixão, a seu próprio pedido, foi colocado um pacote lacrado que continha terra trazida do Brasil.
Bibliografia consultada: SCHWARCZ, Lilia Moritz & SPACCA. As Barbas do Imperador - D. Pedro II, a História de um Monarca em Quadrinhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
1 comentários:
Ave Império!, maior período de florescimento e construção da nossa cultura.
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