“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos O Prazer em Roma

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Cena de banquete em Herculano. Afresco de ca. de 50 a.C.

1. Para os romanos, o prazer não era menos legítimo que a virtude. Alguns chegavam a levar isso longe demais - segundo Suetônio, o imperador Tibério (14-37 d.C.) criou um novo cargo, a "intendência dos prazeres", confiado ao cavaleiro T. Cesônio Prisco. 

2. A urbanidade constituía um dever de bem viver. Os homens só eram plenamente eles mesmos na cidade, e uma cidade era composta de comodidades materiais (commoda), tais como banhos públicos, edifícios suntuosos e muros ("o mais belo enfeite de uma cidade" - P. Veyne). 

3. A amizade, ao contrário da paixão, era o valor que resumia a reciprocidade das relações entre indivíduos e a liberdade interior que cada um desejava preservar. O amor era escravidão, uma fraqueza quase vergonhosa, ou ainda uma espécie de loucura; a amizade, por outro lado, era sinônimo de liberdade e de igualdade. Foi apenas com o poeta Catulo (87/84 - 57/54 a.C.) que o amor passou a ser louvado. 

4. O banquete, para todos os usos, era a circunstância em que o homem privado desfrutava do que ele de fato era e o que mostrava verdadeiramente a seus pares. Até os pobres (90% da população) tinham as suas noites de festim. 

5. A comida servida nos banquetes continha muitos temperos e molhos complicados. A carne era fervida antes de cozinhar ou assar e adoçada. A melhor parte do jantar, a mais longa, era aquela em que se bebia, tanto é que constituía o banquete propriamente dito (comissatio). 

6. O povo conhecia com menos ostentação o prazer de estar junto: a taberna e os "colégios" ou confrarias (collegia) eram os seus principais espaços de sociabilidade. Quanto a estas últimas, eram vistas com desconfiança pelos imperadores, uma vez que reuniam muitos homens e seus objetivos não eram claramente definíveis. 

7. Nas cidades, o evergetismo proporcionava à população oportunidades de comer e beber à vontade. 

8. A festa e a devoção coexistiam nas seitas ou confrarias porque o paganismo era uma religião de festas. A festa religiosa oferecia o duplo prazer de ser também um dever, e num texto grego ou latino o termo "sacrifício" sempre implicava festim. 

9. Banhos e espetáculos eram pagos, pelo menos em Roma. Contudo, o preço de ingresso era módico e existiam lugares gratuitos para os espetáculos. Assim, homens livres, escravos, mulheres, crianças e até estrangeiros tinham acesso aos espetáculos e aos banhos. 

10. O banho não era uma prática de higiene, e sim um prazer complexo, como a nossa praia. Os cristãos e os pensadores recusavam tal prazer. 

11. Em Roma e em todas as cidades, os espetáculos constituíam o grande acontecimento, que, em terra grega, eram os concursos atléticos. Eram também as lutas de gladiadores. Saiba mais: Circos e Anfiteatros de Roma 

12. No espetáculo, o prazer tornava-se uma paixão cujo excesso os sábios e os cristãos reprovavam. Contudo, a crítica que fazemos ao sadismo dos espectadores não ocorreu a nenhum romano, filósofo ou não. Apesar disso, a literatura, a imaginária e a cultura greco-romana não eram sádicas em geral. 

13. Um autêntico libertino era reconhecido pela violação de três proibições: fazer amor antes do cair da noite, fazer amor sem criar penumbra ou ainda fazê-lo com uma parceira que ele havia despido por completo. 

As más línguas diziam que os tiranos libertinos - Calígula, Nero, Domiciano e Heliogábalo - violaram outras interdições: transaram com damas casadas, com virgens de boa família, com adolescentes de nascimento livre, com vestais e, ainda, com as próprias irmãs.

14. A tolerância antiga levou a pederastia a difundir-se bastante e superficialmente. Saiba mais: Os Vícios de Roma

15. Como o álcool e todos os prazeres, a volúpia era vista como perigosa para a energia viril e, portanto, não se devia abusar dela. A paixão amorosa era ainda mais temível, pois tornava um homem livre escravo de uma mulher.  

Bibliografia consultada: VEYNE, Paul. O Império Romano. In: ARIÈS, Philipe & DUBY, Georges (diretores da coleção). História da Vida Privada. Volume 1: Do Império Romano ao ano mil / organização de Paul Veyne. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 179-199.

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