“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Os 100 Anos da Revolução Russa

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Com os bolcheviques e a Revolução de Outubro, ocorrida há exatos cem anos, a revolução assumiu, com efeito, um papel inédito. Ela não levava mais a bandeira da burguesia e sim a da classe operária. Pelo menos, foi sob essas cores que ela avançou, como a realização da demonstração de Marx sobre a queda da burguesia e do capitalismo. A dificuldade do caso está no fato de que esse capitalismo mal existiu: a revolução proletária estourou no mais atrasado dos países europeus. 

Mas o poder da Revolução Bolchevique sobre as imaginações veio também do reaparecimento, a mais de um século de distância, da mais intensa representação política da democracia moderna: a ideia revolucionária. Esse ressurgimento já havia sido interiorizado há muito tempo pelos bolcheviques, que discutiam desde o início do século XX sobre o precedente jacobino. Lênin e seus correligionários eram, antes de 1914, apenas um pequeno grupo extremista na Internacional Socialista. Quando foram projetados ao primeiro plano das transformações políticas mundiais, no outono de 1917, isso não ocorreu apenas porque foram vitoriosos. Ocorreu porque enfeitaram com o encanto irresistível da vitória um modo de ação histórica em que a esquerda europeia reconheceu seus ancestrais e a direita, seus inimigos. Encontro que se renovou ao longo de todo o século XX, e graças ao qual qualquer território ou país, por mais remoto e exótico, mais improvável que fosse, foi considerado um potencial "soldado da revolução universal". 

Adaptado de FURET, François. O Passado de Uma Ilusão. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Siciliano, 1995, p. 80. 

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