“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos O Diabo na Idade Média

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O Triunfo da Morte (1336-1341), de Buonamico Buffamalcco. Cemitério Monumental, Pisa, Itália.
Nesse afresco, as almas dos moribundos são disputadas por anjos e demônios.

1. O Diabo - Satã e seus demônios - foi certamente uma das figuras mais destacadas do universo do Ocidente medieval. Ele era onipresente e seu poder sentia-se em todos os aspectos da vida. 

2. O Diabo era a encarnação do mal, o oponente das forças ocultas, o tentador do justo, inspirador dos ímpios e dos pecadores, verdugo dos condenados. 

3. Até o século IX, contudo, o Diabo esteve quase ausente das imagens cristãs. Por volta do ano 1000 é que se desenvolveu uma representação específica enfatizando sua monstruosidade e animalidade.

4. Embora não se possa fazer do cristianismo medieval uma variante das religiões dualistas (Deus é senhor de todas as coisas e Satã é um anjo caído, submetido a ELE), uma forte tendência centrífuga - uma tentação politeísta - trabalhou os estratos mais profundos do cristianismo medieval.

5. No Novo Testamento e nos textos medievais, o Diabo ou os diabos eram designados principalmente por dois termos de origem grega: Diabolus ("que separa") e daemon (na origem, os espíritos, bons e maus, intermediários entre os deuses e os homens). Lúcifer, outrora o anjo de luz, continuo a ser assim designado, mesmo após se tornar o príncipe do Inferno. 

6. Embora decaídos, os diabos mantiveram a mesma natureza dos anjos. São, portanto, de corpo etéreo. Além disso, tendem à diversidade e às metamorfoses, podendo se manifestar em forma animal. O Tentador, inclusive, podia usurpar uma aparência totalmente humana - mesmo a da Virgem ou de Cristo. 

7. A partir do século XI, desenvolveu-se uma iconografia específica do Diabo: sua silhueta antropomórfica, feita por Deus, foi pervertida, tornada monstruosa pela deformidade e pelo acréscimo de características animais. 

8. Na sua própria essência, os diabos, como os anjos, não têm sexo (ou melhor, não há mulheres entre eles).

9. Apesar disso, atribuía-se a eles uma intensa atividade sexual (embora os clérigos afirmassem que eles não praticavam a homossexualidade entre si). Numerosas crenças folclóricas atribuíam a eles, inclusive, a capacidade de procriação. 

10. Guilherme de Auvergne e São Tomás de Aquino admitiam a veracidade do testemunho de mulheres que se diziam vítimas de demônios íncubos. Entretanto, esses teólogos consideravam que esses demônios se limitavam a transmitir uma semente que não era sua, de modo que embora desempenhassem um papel na procriação, os seres nascidos dessas uniões (como Merlin) não seriam seus filhos. 

11. Os demônios conservavam vantagens de sua natureza angélica, em particular uma potência intelectual notadamente superior à dos homens. 

12. Desde Agostinho, admitia-se que os demônios poderiam prever o futuro e anunciá-lo aos homens, embora não possuíssem o dom de profecia como os anjos. Toda tentativa de recorrer a essa ciência diabólica, uma tendência crescente em fins da Idade Média, era condenada como pecado grave.   

13. Segundo Agostinho, por causa do Pecado Original, Satã era o príncipe dos pecadores. Essa concepção foi dominante ao longo do Medievo. 

14. O Inimigo era responsabilizado por todas as catástrofes: tempestades e tormentas, destruição dos frutos da terra, doenças em seres humanos e animais, naufrágios e desabamentos de edifícios.

15. O homem medieval não estava só diante dos demônios. Dispunha de práticas, de gestos e de ritos para se proteger. Por meios dos sacramentos que dispensa, a Igreja era e é considerada um baluarte contra o Diabo. Os jejuns e as preces seriam as armas mais eficazes dos mortais, e o sinal da cruz seria um gesto de poder infalível. 

Bibliografia consultada: BASCHET, Jérôme. Diabo. In: LE GOFF, Jacques & SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval - vol. II. Coordenador de tradução - Hilário Franco Júnior. Bauru, SP: Edusc, 2006, p. 319-331.

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