“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

As Causas da Crise de 1929

domingo, 5 de novembro de 2017

Manchete do London Herald sobre o colapso financeiro de Wall Street.

As causas do "estouro" de outubro de 1929 são muito mais difíceis de serem explicadas do que, por exemplo, a desintegração das principais bolsas de valores do mundo no final de julho de 1914, quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Para se ter uma ideia, na página inicial do The New York Times do dia 23 de outubro de 1929 (a véspera da "Quinta-Feira Negra"), foram destacados artigos sobre a queda do premier francês, Aristide Briand, e sobre uma votação no Senado americano a respeito dos impostos sobre produtos químicos importados. Além disso, o jornal exibia também pelo menos quatro reportagens sobre o vendaval que havia castigado a costa leste no dia anterior. 

Alguns historiadores consideram como "gatilhos" da Depressão as reparações financeiras impostas à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e o aumento do protecionismo americano. Por outro lado, muitos culparam a especulação. Dentre eles, o presidente Franklin Delano Roosevelt e o economista John M. Keynes, que insinuaram que a crise fora parcialmente provocada por uma má conduta financeira (enquanto o primeiro espinafrou "os inescrupulosos cambistas" de Wall Street, o segundo comparou a bolsa de valores a um cassino). 

De algum modo, as raízes da Grande Depressão estiveram nos transtornos econômicos globais que surgiram na crise anterior de 1914. Quando a produção europeia reapareceu no mercado após a guerra, houve um excesso crônico de produção de gêneros primários, o que fez despencar os seus preços. Isso ocorreu muito antes de 1929. Essa queda de preços dificultou ainda mais a situação de países com grandes dívidas externas, como a Alemanha. Além disso, a força do trabalho organizado na maioria dos países combatentes aumentou, tornando mais difícil os cortes de salários por causa da queda dos preços. Assim, para evitar a falência, empresas foram forçadas a demitir trabalhadores. Todavia, os Estados Unidos - o epicentro da crise de 1929 -, gozavam de boa situação econômica quando a Depressão eclodiu. No Entreguerras, não havia escassez de produtividade na economia americana e a inovação tecnológica foi intensificada. 

No entanto, aparentemente essas mesmas forças provocaram o deslocamento inicial que colocou em movimento uma clássica bolha da bolsa de valores. Entre 1925 e 1929, por exemplo, as ações da RCA (rádio) subiram incríveis 939%. A euforia encorajou uma corrida nas novas ofertas iniciais públicas (IPOs) e, ainda, a proliferação de consórcios de investimento, concebidas para capitalizar sobre o boom da bolsa de valores.

A política do presidente Herbert Hoover, empossado em 4 de março de 1929, foi desastrosa. Sob influência da "nova economia", que preconizava o planejamento central, ele embarcou em uma política de déficits orçamentários e apelou aos governos locais para que estes se endividassem mais e gastassem seus empréstimos em obras públicas. Meses após a quebra da Bolsa de Valores, foi aprovada a tarifa Smoot-Hawley (junho de 1930), que elevou as tarifas de importação a níveis sem precedentes, o que praticamente fechou as fronteiras dos Estados Unidos a produtos estrangeiros. Isso contribuiria decisivamente para que a crise evoluísse para uma depressão econômica.   

Milton Fridman e Anna Schwartz argumentaram que foi o Federal Reserve System o responsável por induzir a transformação da crise de 1929 numa Grande Depressão. Eles não culparam o Fed pela bolha em si que, verdade seja dita, sob o comando de Benjamin Strong, por ter impedido a bolha de crescer ainda mais. Após sua morte, no entanto, em outubro de 1928, o Federal Reserve Board, em Washington, começou a administrar a política monetária, com resultados desastrosos. Primeiro, por fazer bem pouco para deter os efeitos da quebradeira dos bancos, iniciada vários meses antes do crash da bolsa de Nova York. Depois, por piorar as coisas, ao reduzir a quantidade de crédito pendente (dezembro de 1930-agosto de 1931). 

A incapacidade do Federal Reserve para evitar a falência de 10 mil bancos foi uma catástrofe financeira. Prejudicou os consumidores (que perderam seus depósitos), acionistas e a economia em geral, que se estagnou pela falta do suprimento do dinheiro e de crédito. 

A grande lição que ficou para os economistas é que uma política monetária ineficiente ou inflexível na sequência de um declínio agudo nos preços de ativos pode pode transformar a correção em recessão, e uma recessão em depressão. 

Bibliografia consultada: FERGUSON, Niall. A Ascensão do Dinheiro - A História Financeira do Mundo. Tradução de Cordelia Magalhães. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009, p. 150-155. 

Leia um artigo sobre o assunto no site Mises Brasil e assista a um documentário tema aqui. Leia o post As Tarifas Smoot-Hawley    

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