“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

As Origens da Guerra do Peloponeso

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Num mundo de cidades gregas muitas vezes rivais, a guerra era uma atividade não apenas corriqueira, como essencial. Com suas particularidades e rivalidades, as póleis (as cidades-estado gregas) foram galvanizadas, no início do século V a.C., em sua luta contra os persas. Foi assim que surgiu a Liga Helênica (481 a.C.), da qual participavam todas as principais póleis gregas. Outra aliança militar era a Liga do Peloponeso, restrita a Esparta e a outras cidades do interior. 

Em 478 a.C., o espartano Pausânias liderou uma expedição conjunta para tomar Bizâncio de uma guarnição persa. Posteriormente, Pausânias foi acusado pelos atenienses de ter libertado os altos dignitários persas e mesmo de ter trocado cartas com o rei persa Xerxes. Ainda que sem confirmação, o episódio foi revelador de uma diferença de estratégia entre Esparta, propensa a acordo com os orientais, e Atenas, defensora dos interesses das cidades gregas da Jônia recém-liberadas do jugo persa. Nesse mesmo ano de 478 a.C., surgiu a Liga de Delos, formada por diversas cidades que deviam fornecer belonaves e fundos a serem administrados por tesoureiros atenienses. Além das ilhas do Egeu, foram adicionadas as Ilhas Cícladas, Lesbos, Quíos, Samos, Rodes, cidades da Trácia e da Calcídica, e a maioria das cidades gregas a oeste e ao sul da Ásia Menor. 

A Guerra do Peloponeso foi a primeira grande guerra narrada por uma testemunha ocular, Tucídides (464-401 a.C.). As cidades da Liga Beócia, lideradas por Tebas, eram os aliados continentais de Esparta, desde o início, com o apoio posterior de Siracusa e outras cidades da Sicília. Os persas, com o desenrolar da guerra, apoiaram financeira e logisticamente a Esparta, cidade que também contava com a simpatia das oligarquias de muitas outras cidades. 

Atenas dispunha do apoio de outras tantas cidades que se opunham aos persas e que prosperavam com o comércio - a leste na Jônia e nas ilhas do mar Egeu, assim como ao norte na Trácia e às bordas do mar Negro - , além de contar com o apoio dos democratas em outras cidades. No Peloponeso, contou com a neutralidade e, depois, com o apoio de Argos, rival de Esparta.    

Entre 460 e 455 a.C. foi travada a Primeira Guerra do Peloponeso, o que já enunciou os caminhos da disputa que duraria até o final do século V a.C., assim como as escolhas estratégicas das partes. Atenas estabeleceu alianças com Argos e Mégara, reunindo assim dois grandes aliados para contrapor-se a Esparta. Ao se aliarem, finalmente, a Naupacto, os atenienses passaram a circundar Esparta e Corinto. A batalha decisiva se deu em Tânagra, que terminou com pesadas perdas para ambos os lados e com a vitória dos peloponésios. Os atenienses concluíram a partir daí que a estratégia defensiva seria decisiva. 

O tratado de paz foi firmado em 451 a.C., e nos anos seguintes a Liga de Delos foi gradualmente transformada em um domínio de Atenas sobre as outras cidades. Apesar de exercer um poder discricionário, Atenas possuía uma fragilíssima estrutura administrativa imperial. Esparta e outras cidades aliadas, por sua vez, voltavam-se para o fortalecimento das suas milícias e para um futuro enfrentamento com a potência marítima e comercial emergente ateniense.

A Guerra do Peloponeso foi inovadora: nela os atenienses estrearam a estratégia defensiva de abandono de campo, refúgio da população na cidade e a adoção de um sistema imperial de sustentação do esforço de guerra, o que seria adotado posteriormente pelos exércitos macedônios e romanos. 

O conflito contou também com uma ampla área de operações. Seus limites foram a Sicília, a ocidente; a Ásia Menor, a oriente; o Helesponto e a Trácia, a norte, e Rodes, ao sul. A tentativa tebana de atacar Plateia, aliada de Atenas, a 4 de abril de 431 a.C., assinalou o início do conflito, que só terminou a 25 de abril de 404 a.C., com a capitulação de Atenas. 

Bibliografia consultada: FUNARI, Pedro Paulo. Guerra do Peloponeso. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006, p. 19-29.

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