“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Contexto Histórico do Êxodo - I

sábado, 6 de maio de 2017

Uma estátua em granito de Hatshepsut, uma das poucas que sobreviveram ao vandalismo de Tutmés III. Rijksmuseum van Oudheden, Países Baixos. 

De José à fuga de Moisés 

É possível que José tenha servido a um dos reis hicsos semitas da 15ª dinastia dinastia. Sua alta posição como um estrangeiro pode ser melhor entendida como tendo sido mantida durante o período de governo dos hicsos, que também eram outsiders no Egito. Foi Sekenenre, um príncipe de Tebas, que iniciou a luta contra os hicsos; seus filhos, Kamose e, depois, Amose, continuaram a batalha até que os hicsos foram expulsos do Egito. 

Amose tornou-se o fundador de uma nova dinastia, a 18ª. De espírito intensamente "nacionalista", seus reis estenderam os limites do império desde o sul da Núbia, na África, até o rio Eufrates, na Ásia. Teria sido um dos primeiros reis dessa dinastia que decidiu reduzir os israelitas à escravidão e controlar sua população, matando os recém-nascidos do sexo masculino (cf. Êx 1:8). Segundo I Reis 6:1, o início da construção do templo de Salomão em Jerusalém se deu no quarto ano de reinado do rei (967/966 a.C.) e no 480º ano após o êxodo. Esse evento permite-nos estabelecer a data do êxodo em 1445 a.C., mesmo período em que o Egito foi governado pelos poderosos reis da 18ª dinastia. 

Moisés nasceu provavelmente sob o reinado de Tutmés I (c. 1542 - c. 1524 a.C.). Sem um filho legítimo, esse rei casou sua filha Hatshepsut com o meio-irmão dela, que assumiu o trono como Tutmés II (c. 1524 - c. 1504 a.C.). Quando morreu, não possuía um herdeiro do sexo masculino (apenas duas filhas), pelo que Hatshepsut passou então a reinar. Ela governou com bastante êxito, até que uma revolução no templo, muitos anos depois, forçou-a a aceitar como corregente Tutmés III, um filho ilegítimo de seu meio-irmão e esposo. Mais tarde, por volta de 1486 a.C., com o desaparecimento ou morte de Hatshepsut, ele assumiu sozinho o poderTutmés III reinou até c. 1450 a.C., e foi um grande líder militar, construindo o maior império da história do Egito. 

É possível que em 1485 a.C. Moisés tenha fugido de Tutmés III; isso ocorreu pouco após a morte de Hatshepsut, sua presumível mãe adotiva. Esta pode ter cogitado casá-lo com uma de suas filhas para torná-lo faraó, caso as circunstâncias o permitissem. Entretanto, tais planos teriam sido frustrados pela revolução que alçou Tutmés III à corregência do reino. O fato de ter sido preterido para  a sucessão justificaria o ódio de Tutmés III por Hatshepsut, e explicaria porque Moisés, sem perspectivas no palácio e odiado pelo futuro rei, decidiu assumir a liderança de seu povo subjugado, a quem tentou ajudar ao assassinar certo egípcio que maltratara um hebreu. Esse contexto adverso da corte explica também porque tal crime foi considerado tão grave a ponto de Moisés ter, a partir de então, sua vida ameaçada no Egito, de onde resolveu fugir. 

Bibliografia consultada: Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 477-479. 

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