segunda-feira, 1 de maio de 2017
Michel-Barthélémy Oliivier, Chá da tarde, óleo sobre tela (1766).
"Quando tratavam de maneiras à mesa, os manuais de civilidade medievais - ou talvez devamos dizer 'manuais de cortesia', tendo em vista a época - condenavam as manifestações de gula, a agitação, a sujeira, a falta de consideração pelos outros convivas. Tudo isso persiste nos séculos XVII e XVIII, porém novas prescrições se acrescentam às antigas.
Em geral, elas desenvolvem a ideia de limpeza - já presente na Idade Média -, ordenando que se usem os novos utensílios de mesa: pratos, copos, facas, colheres e garfos individuais. O emprego dos dedos é cada vez mais proscrito, bem como a transferência dos alimentos diretamente da travessa comum para a boca.
Isso evidencia não só uma obsessão pela limpeza, como ainda um progresso do individualismo: o prato, o copo, a faca, a colher e o garfo individuais na verdade erguem paredes invisíveis entre os comensais. (...) Cada conviva é encerrado numa espécie de gaiola imaterial. Por que tais precauções, dois séculos antes de Pasteur descobrir a existência dos micróbios? O que vem a ser essa sujeira que tanto se teme? Não será principalmente o medo do contato com o outro?"
FLANDRIN, Jean-Louis. A distinção pelo gosto. In: ARIÈS, Philippe & DUBY, Georges. História da Vida Privada, 3 - Da Renascença ao Século das Luzes. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 267-268.
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