“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Imperador Tibério, o 'Caprino'

domingo, 4 de junho de 2017

Ruínas de Villa Jovis, residência do imperador Tibério em Cápri.

Segundo Suetônio, após sua ascensão ao império, Tibério (14-37) permaneceu em Roma durante dois anos inteiros. Posteriormente, só se ausentou para viajar a cidades vizinhas. Depois de percorrer a Campânia, estabeleceu-se na ilha de Cápri. Deixou a ilha devido à catástrofe ocorrida em Fidenas, onde mais de 20 mil morreram sob as ruínas de um anfiteatro durante um espetáculo de gladiadores, mas... 

"De volta à sua ilha, Tibério se desinteressou a tal ponto pelos negócios públicos que a partir dessa data nunca mais completou as decúrias dos cavaleiros, nem fez qualquer modificação entre os tribunos militares, os comandantes da cavalaria e os governadores das províncias, deixando por bom tempo a Espanha e a Síria sem legados consulares. Permitiu que os partas ocupassem a Armênia, que os dácios e sármatas devastassem a Mésia, e que os germanos assolassem as Gálias, para grande vergonha e perigo do império. 

Imerso na solidão e subtraído, por assim dizer, aos olhos da cidade, permitiu enfim que transbordassem todos os seus vícios até então dissimulados. Examiná-los-ei um por um, desde o princípio. Já quando de sua iniciação no exército a paixão excessiva pelo vinho fazia com que o chamassem de Bibério ao invés de Tibério, Cáldio ao invés de Cláudio e Mero ao invés de Nero [o nome completo do imperador é Tibério Cláudio Nero César]. Mais tarde, feito imperador, no instante mesmo em que reformava os costumes públicos passou dois dias e uma noite seguidos bebendo e banqueteando em companhia de Pompônio Flaco e L. Pisão; logo depois, entregava ao primeiro a província da Síria e ao segundo a prefeitura da cidade (...). Enfim, instituiu um novo cargo, a 'intendência dos prazeres', que confiou ao cavaleiro romano T. Cesônio Prisco. 

Em seu retiro de Cápri, planejou até mesmo instalar um local guarnecido de bancos para a exibição de obscenidades secretas; ali, bandos de moças e rapazes libertinos, trazidos de todas as partes, e os tais inventores de acasalamentos monstruosos a que ele chamava 'espíntrias', formando uma tríplice cadeia, prostituíam-se em sua presença, espetáculo destinado a reavivar seus desejos extintos. (...) Imaginou também dispor a espaços, nos bosques e jardins, retiros consagrados a Vênus (...). De sorte que já todos o chamavam abertamente de 'Caprino', por um jogo de palavras com o nome da ilha." 

SUETÔNIO. Tibério, 41-43. In: Os Doze Césares.Tradução de Gilson C. C. de Sousa. São Paulo: Germape, 2003, p. 135-136.

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