quinta-feira, 12 de junho de 2014
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HOBSBAWM, E. J. Era dos Extremos - o breve século XX (1914-1991). Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Não me lembro de como soube desse livro, mas eu me recordo de perguntar sobre ele ao meu professor de História do 3º ano do Ensino Médio. No ano seguinte, estava me preparando para o vestibular e pedi a um primo, que então se graduava na UFES, para que o tomasse emprestado para mim na Biblioteca Central. Li-o "de cabo a rabo". No ano seguinte - o já longínquo 2006 - ingressei no curso de História da UFES e descobri que Era dos Extremos era uma espécie de "Bíblia" dos historiadores da contemporaneidade. Felizmente, o professor de História Contemporânea do DEPHIS não é marxista, e lemos o Hobsbawm en passant. E não faltaram críticas a certas interpretações de Hobsbawm.
Antes disso, porém, no primeiro período, conheci o primeiro crítico do historiador britânico. O Dr. Ricardo da Costa (que depois viria a ser o meu orientador), fez duras críticas ao seu trabalho. Lembro-me de ter-lhe falado que para o Hobsbawm o regime stalinista não era totalitário, algo que despertou profundamente a minha atenção, desde de que o li. O Dr. Ricardo pacientemente conversou comigo sobre a falácia da argumentação de Hobsbawm, e hoje eu vejo claramente como eram pífios os argumentos a favor do autocrata soviético.
Ora, anteontem (10 de junho de 2014), o mesmo Dr. Ricardo publicou um texto, no Facebook, o qual reproduzo abaixo, com exceção da última frase:
O Brasil é estranho. Quando aconteceu o lançamento de Era dos Extremos (início da década de 90), o jornal O Globo (no Rio) convidou o Eric Hobsbam para palestrar. Roberto Marinho queria aproveitar a coincidência para comemorar não sei quantos anos de fundação do Partido Comunista no Brasil. Era só telefonar para o jornal e reservar o lugar (entrada gratuita). Tradução simultânea (com fone de ouvido à disposição).
Pois é, Roberto Marinho comemorando a fundação do PC. E na sede do jornal O Globo! Estavam todos os comunas lá (eu havia acabado de me formar na graduação). Leandro Konder sentou na minha frente. Se jogassem uma bomba, boa parte dos vermelhos brasileiros seriam varridos do mapa. Encontrei uma professora minha. Marxista roxa, havia passado A evolução do capitalismo (Maurice Dobb) na disciplina do semestre - e pasmem: eu fui o ÚNICO aluno da turma dela. O semestre todo! A mulher era grossíssima! Mas consegui sobreviver e ir até o fim do semestre. Li aquela xaropada toda ("feudalismo tardio" na Europa Oriental...). Dobb era "o cara" da análise marxista. Hoje está esquecido (talvez seja muito difícil para a garotada da geração "redes sociais"). Mas tenho o livro até hoje. Talvez seja trauma...
Ela, ao me ver na platéia, veio me dar um beijo! Como o marxismo enternece os rudes... Perguntou se eu iria tentar mesmo o mestrado em História Medieval - havia ficado todo o semestre me perturbando com isso, com o velho chavão da esquerda da minha geração "Brasileiro tem que estudar História do Brasil". Respondi que sim. Ela disse: "Ah, Ricardo, você não tem jeito mesmo!".
Sentamos para ouvir o messias britânico/egípcio. A mesa estava decorada com uma grande bandeira vermelha do PC. Com rosas. Na sede do jornal O Globo!!! O homem entrou, falou e foi embora. Sem direito a perguntas! Ao falar da Revolução Russa, comparou os bolcheviques aos cavaleiros templários! Impressionante o anacronismo! Mas como o ambiente transpirava admiração, o homem podia falar qualquer coisa...
Porque fui? Tive que ler TUDO de Hobsbawm. Desde a primeira parte de minha graduação - 1981-1983 (mais tarde, comprei e li até sua autobiografia, livro com passagens inacreditáveis)! Ainda hoje é leitura obrigatória nos cursos de História. E o que mais me surpreendente é que sua narrativa não apresenta NENHUMA fonte primária. Mas para que Deus precisa comprovar o que diz?
Assim que li esse post, resolvi citar algumas pérolas do "deus" dos historiadores marxistas. Vejam como um historiador, com pose elegante e venerado mundo afora, torna-se ridículo quando descreve os seus próprio ídolos:
Por toda a América Latina, entusiasmados grupos de jovens lançaram-se em lutas de guerrilha (...). (...) A maioria dessas iniciativas desmoronou quase imediatamente, deixando atrás de si os cadáveres dos famosos - o próprio Che Guevara na Bolívia; o igualmente bonito e carismático padre rebelde Camilo Torres na Colômbia - e dos desconhecidos. (p. 428)
Imagens de Che Guevara eram carregadas como ícones por manifestantes estudantis em Paris e Tóquio, e seu rosto barbudo, inquestionavelmente másculo e de boina fez bater corações mesmo não políticos na contracultura. (p. 430) - destaques acrescentados.
Não para por aí. Na p. 426, o Che Guevara é chamado de "médico argentino altamente talentoso como líder guerrilheiro" (uma mentira). Todos conhecem as história do "El Paredón", e do sadismo do monstro de "La Cabaña" (Che), que escreveu: "Para enviar homens para o esquadrão da morte não são precisas provas judiciais. Estes procedimentos são um pormenor burguês arcaico. Esta é uma revolução. E um revolucionário é uma máquina fria de morte, motivada pelo ódio puro" (leia mais no site do IMB). No entanto, Hobsbawm preferiu pintar a Revolução Cubana como "uma lua-de-mel coletiva" (p. 426).
No capítulo sobre a Guerra Fria, Hobsbawm "soltou" o seguinte:
Como a URSS, os EUA eram uma potência representando uma ideologia, que a maioria dos americanos sinceramente acreditava ser o modelo para o mundo. Ao contrário da URSS, os EUA eram uma democracia. É triste, mas deve-se dizer que estes eram provavelmente mais perigosos.
Pois o governo soviético, embora também demonizasse o antagonista global, não precisava preocupar-se com ganhar votos no congresso, ou com eleições presidenciais e parlamentares. O governo americano precisava. (p. 232)
Por todos os absurdos citados aqui, e muito mais, Era dos Extremos é um livro que só posso recomendar com reservas.