“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Importância da Instrução

quinta-feira, 29 de março de 2018

"A instrução é algo tão importante, que a natureza tornou possível adquiri-la de outra pessoa sem que esta, ao fornecê-la, a perdesse. Outros bens louváveis são ou impossíveis de receber de outras, tais como força, a saúde, a beleza e a coragem, ou então quem os fornece perde a sua posse, como a riqueza e o poder." 
Pitágoras, séc. VI a.C.

Introdução ao Livro de Daniel

quarta-feira, 28 de março de 2018

Considerando a importância do livro do profeta Daniel para a formulação da filosofia da história judaico-cristã, apresentarei aqui algumas notas introdutórias sobre esse sucinto documento de apenas 12 capítulos. 

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que o livro de Daniel é sobretudo um livro religioso. Sua estrutura apresenta uma íntima ligação entre o sobrenatural e o ritmo diário da oração. O livro menciona sete orações, e algumas outras ficam implícitas. A mais longa de todas encontra-se no capítulo 9, precisamente entre a profecia dos 70 anos de Jeremias, que anuncia o retorno de Israel do exílio, e outra, sobre as 70 semanas, que fala da restauração de Jerusalém e a salvação do mundo.

O livro também se apresenta na forma de poesia, empregando artifícios literários como paralelismos, ecos, jogos de palavras e ritmos. Nesse livro, beleza é sinônimo de verdade. Daniel apela ao nosso raciocínio e inteligência. Como livro sapiencial, ele traz as reflexões mais profundas sobre história, Deus, ética e existência. O próprio profeta é apresentado como um sábio (Dn 1:20, 2:13) e o livro apresenta a verdade como algo a ser compreendido. 

Algo raro nas Escrituras, a profecia de Daniel é permeada por cifras matemáticas. A predição de um evento segue o rigor do pensamento científico. O livro de Daniel nos ensina que inteligência e raciocínio são pré-requisitos essenciais, mas ele também permanece desafiador, uma vez que suas palavras permanecem "seladas" (Dn 12: 4, 9). 

Além da língua hebraica, Daniel usa o aramaico (Dn 2:4 - 7:28), o idioma internacional da época, assim como palavras derivadas do acadiano, do persa e até do grego. Essa diversidade de idiomas no livro de Daniel é um exemplo singular de uma mensagem que transpõe as fronteiras de Israel e se apresenta à inteligência das nações. 

O caráter universal do livro também fica patente no próprio conteúdo. Ele é uma obra religiosa que fala em nome de Deus e revela a visão celestial; ao mesmo tempo, é uma obra histórica que faz referências ao passado, presente e futuro. 

Adaptado de DOUKHAN, Jacques. Segredos de Daniel - Sabedoria e sonhos de um príncipe no exílio. Tradução de Matheus Cardoso. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2017, p. 6-9.

Os Pobres Gratos (1894)

sábado, 24 de março de 2018

Os pobres gratos é uma pintura de Henry Ossawa Tanner (21 de junho de 1859 - 25 de maio de 1937). Professor universitário, Tanner foi o primeiro pintor afro-americano a conquistar a aclamação internacional. A imagem foi compartilha no no Twitter por @AHistoryofPaint . 

Essa imagem me tocou profundamente. Quão gratos temos sido a Deus por todas as bençãos que recebemos?  

Início da Guerra do Vietnã

domingo, 18 de março de 2018

O contratorpedeiro americano USS Maddox, pivô de um episódio chave no início da Guerra do Vietnã.

Em 1964, no Vietnã, o governo militar de Saigon continuava determinado a acabar com a influência política e a superioridade militar do Vietcong. No dia 2 de fevereiro, o presidente Lyndon Johnson renovou a promessa que ele e seu antecessor (Kennedy) tinham feito de que os Estados Unidos continuariam a fornecer suporte militar contra a insurreição comunista. Contudo, hesitou em envolver-se mais no Vietnã, e através de um mediador, propôs a Ho Chi Minh uma redução da intensidade do conflito. Se os norte-vietnamitas aceitassem cortar seu apoio aos comunistas no Sul, os Estados Unidos dariam apoio econômico, e até reconhecimento diplomático, ao Vietnã do Norte. Se tal abrandamento não fosse aceito, os Estados Unidos estariam prontos a considerar ataques navais e aéreos contra o Vietnã do Norte. 

Com o fracasso das negociações, durante a primavera o presidente Johnson anunciou que o número de conselheiros americanos no Vietnã do Sul subiria de 15 mil para 20 mil. Muitos deles já participavam ativamente nos combates. Os novo efetivos chegaram bem no momento em que o Vietcong iniciava sua mais eficiente estratégia de longo prazo, a criação de uma linha de abastecimento de norte para sul, o Trilho Ho Chi Minh. Seu objetivo era evitar a Zona Desmilitarizada atravessando o vizinho Laos e reentrando no Vietnã do Sul pela fronteira laosiana. A via foi construída por engenheiros que contaram com moderno equipamento chinês e soviético. Ao longo dos seus 800 Km de extensão, foram construídos no subsolo quartéis, oficinas, hospitais, depósito de combustível e armazéns, tudo praticamente imune a bombardeios aéreos. Até finais de 1964, cerca de 10 mil militares norte-vietnamitas utilizaram o trilho para penetrar no Sul e tomar posições à volta da maior parte das suas cidades. 

Perante a crescente eficácia da infiltração do Vietcong no Sul, Johnson admitiu bombardear as suas linhas de abastecimento. No mês de junho de 1964, um projeto de resolução lhe deu poderes para enviar tropas estadunidenses para qualquer país do Sueste Asiático ameaçado de "agressão ou subversão" comunista. A primeira oportunidade surgiu a 2 de agosto, depois de um ataque secreto do Vietnã do Sul contra o Vietnã do Norte em que participou um contratorpedeiro americano denominado Maddox. Três navios do Vietcong atacaram o Maddox em águas internacionais, o que deu ao presidente norte-americano a oportunidade de que precisava. A "resolução do golfo de Tonquim" foi discutida no Congresso nos dias 6 e 7 de agosto. Só teve dois votos contrários no Senado; na Câmara dos Representantes ela foi aprovada por unanimidade. 

Imediatamente após a aprovação da resolução, bombardeiros americanos atacaram cinco instalações costeiras do Vietnã do Norte. Quatro navios-patrulha e um depósito de petróleo foram atingidos. Enquanto isso, em segredo, Johnson insistia em tentar convencer os norte-vietnamitas a cessar as hostilidades mediante as condições já lhes apresentadas. Os norte-vietnamitas, por sua vez, voltaram a rejeitar aquilo que consideraram uma solução dominada pela ameaça. Além disso, acreditavam na possibilidade de vitória.

Adaptado de GILBERT, Martin. História do Século XX. Tradução de Francisco Agarez. 3ª edição. Alfragide, Portugal: Dom Quixote, 2014, p. 410-411.

Hélade x Primeiro Império Persa

segunda-feira, 12 de março de 2018

Representação da Batalha de Salamina (480 a.C.).

Enquanto a lealdade política dos medos e persas se centralizava no imperador Aquemênida, a lealdade política dos gregos centralizava-se em abstrações deificadas, as cidades-estado soberanas. Essas duas civilizações possuíam culturas bem distintas, e quando se cruzaram, no século VI a.C., o choque foi inevitável. 

Por volta de 546 a.C., quando as cidades-estado greco-asiáticas foram, pela primeira vez, subjugadas pela Pérsia, todas elas, à exceção de Mileto, já haviam sido dominadas pela Lídia. Esta, por sua vez, havia sido anexada pela Pérsia. O domínio lídio parecera mais palatável aos gregos, uma vez que eles haviam adquirido uma "tintura" de civilização helênica. Os persas, em contrapartida, sob a ótica dos gregos, eram forasteiros exóticos. 

A resistência em relação aos dominadores orientais resultou na revolta greco-asiática, combatida pelos persas entre 499-494 a.C. Os revoltosos súditos greco-asiáticos então contaram com o apoio de Atenas e da Eritréia. Tudo isso ensinou aos persas que eles não haviam assegurado ainda a hegemonia da fronteira noroeste. O mar Egeu era um lago grego, e os persas deveriam conquistar também a margem ocidental, o que comprometeria anexar o restante do Mundo Helênico.

Ao longo do período de confrontação greco-pérsica (499-330 a.C.) apenas em dois momentos um certo número de estados gregos formaram uma frente comum contra o Império Persa. Na primeira dessas ocasiões, entre 480-479 a.C., os gregos repeliram uma poderosa invasão persa da Grécia europeia. Na segunda ocasião, eles próprios invadiram e conquistaram o Império Persa.  

Antes mesmo de 499 a.C., quando eclodiu a revolta acima mencionada, Dario I havia estabelecido uma cabeça-de-ponte europeia, localizada entre o curso inferior do rio Danúbio e o Monte Olimpo. Em 490 a.C., ele enviou por mar, às cidades de Eritreia e Atenas, uma força expedicionária punitiva. Os eritreus foram vencidos e deportados, mas os atenienses conseguiram rechaçar os persas. Em 480-479 a.C., o filho e sucessor de Dario, Xerxes, invadiu por terra a Grécia europeia, ocupando a Ática e saqueando Atenas. A população ateniense, no entanto, foi evacuada e a armada dos estados gregos beligerantes permaneceu intacta.    

O ano de 480 a.C. marcou uma dupla vitória para os gregos. No Ocidente, uma minoria de colônias gregas momentaneamente unidas derrotaram o Império Cartaginês. No Mediterrâneo oriental, os gregos obtiveram uma decisiva vitória sobre a armada persa em Salamina. Em 479 a.C., outra decisiva vitória grega foi obtida em terra, em Platéia (Beócia), a qual se seguiu uma segunda vitória naval grega nas proximidades de Mícale, na costa ocidental da Ásia Menor. Os gregos asiáticos revoltaram-se então mais uma vez, e o Império Persa perdeu também suas possessões na Europa, inclusive o reino da Macedônia. Em 449 a.C., Atenas e o Império Persa finalmente fizeram a paz - a primeira em arrebatar o Chipre e o Egito ao Império Persa, e este fracassara em reconquistar a Grécia continental asiática. 

Tão logo o perigo imediato representado pela Pérsia e por Cartago, os gregos voltaram à sua desunião. A divisão política da Grécia representava um grande perigo, sobretudo porque o Mundo Helênico havia se tornado uma unidade econômica desde o século VII a.C. Nesse sentido, ao final da desgastante Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), o Império Ateniense, formado a partir da Confederação de Delos em 478 a.C., foi aniquilado. 

Em 386 a.C., aproveitando-se do enfraquecimento da Hélade e em concluio com Esparta, a Pérsia restabeleceu sua soberania sobre os estados gregos da Ásia continental. O próprio Império Espartano, no entanto, que substituiu o Império Ateniense em 404 a.C., foi destruído em 371 a.C. Estava aberto o caminho para que Filipe II (359-336 a.C.), da Macedônia, conquistasse a Grécia.          

Bibliografia consultada: TOYNBEE, Arnold. A Humanidade e a Mãe-Terra - Uma História Narrativa do Mundo. Tradução de Helena Maria C. M. Pereira e Alzira S. da Rocha. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987, p. 246-250.

Mapa Mental da Revolução Russa

domingo, 11 de março de 2018

Lembre-se de clicar na imagem para ampliá-la. 

Outros mapas mentais podem ser conferidos no blog História em Quadrinhos Blog.

A Propaganda Antigermânica

quinta-feira, 8 de março de 2018


Pôster divulgado na Grã-Bretanha pela British Empire Union após o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) traz o título: "Uma vez alemão, sempre alemão!"

Os alemães são retratados como bárbaros, que atravessam bebês com baionetas, torturam soldados e violentam mulheres das regiões ocupadas. Enquanto os britânicos são associados à atividade industrial, ao progresso e à felicidade, os alemães são associados à guerra e à destruição. 

No centro do pôster, a cruz de uma cova estampa o nome da enfermeira Edith Cavell (1865-1915). Acusada de traição por ter ajudado soldados aliados a escapar da Bélgica ocupada pelos alemães, Edith Cavell foi condenada pela Corte Marcial do Império Germânico. Apesar do clamor internacional, e dos esforços diplomáticos dos Estados Unidos e da Espanha, ela foi fuzilada, sendo considerada internacionalmente uma heroína da Primeira Guerra Mundial e primeira mártir do conflito. A história de Cavell serviu de argumento para os aliados destruírem moralmente a campanha do exército alemão.

O Homem que Salvou o Mundo Livre

terça-feira, 6 de março de 2018

Campo de Batalha Escandinavo

segunda-feira, 5 de março de 2018

Nas áreas destacadas em vermelho, as concessões territoriais que a Finlândia fez à União Soviética. 

Inverno de 1939-1940. 

Stálin aprovou decisões do supremo conselho militar do Exército Vermelho que diminuíram a capacidade defensiva soviética. Por outro lado, ao mesmo tempo, Stálin procurava obter um máximo de concessões vindas de Hitler. Este, por sua vez, aceitou as exigências de Stálin (que incluíram planos de aperfeiçoamento em matéria armamento naval). O Führer não queria fazer nada que levasse o ditador soviético a quebrar a sua neutralidade durante a ofensiva no Ocidente. 

Através de seus serviços secretos, Hitler soube que ingleses e franceses planejavam desembarcar um contingente militar em Stavanger, Bergen e Trondheim. Assim, o estado-maior do exército começou a preparar uma contraofensiva. Em 21 de fevereiro de 1940, Hitler nomeou o general Nikolaus von Falkenhorst como comandante da invasão. As tropas alemãs desembarcariam em Stavanger, Bergen, Trondheim, Arendal, Kristiansand e Oslo, a capital da Noruega. Além disso, Nikolaus ampliou os planos para que incluíssem uma invasão à Dinamarca, o que asseguraria as vias de comunicação entre a Alemanha e a Noruega. 

Os planos da Alemanha para ocupar a Noruega e a Dinamarca aproximavam-se ainda mais da conclusão, em 1º de março. No dia 4 desse mês, as forças soviéticas lançaram uma ofensiva maciça contra a cidade finlandesa de Viipuri. No dia 5 de março, o governo soviético anunciou que estava "mais uma vez" pronto para negociar a paz com a Finlândia. Sem condições de reagir, o governo finlandês aceitou a "oferta". 

Enquanto isso, os preparativos alemães para a invasão à Noruega prosseguiam e a atividade da força aérea britânica permanecia restrita ao lançamento de panfletos sobre as zonas ocupadas pelos alemães. 

O subsecretário de Estado do presidente Roosevelt, Summer Welles, buscava uma fórmula para conter a guerra antes que esta adquirisse maiores proporções. Os britânicos, contudo, recusavam-se a confiar em Hitler. 

A Finlândia pagou um preço alto pela paz, por exemplo, cedendo à Rússia grandes extensões de território ao longo da costa do Báltico e ao norte. Mais de 27 mil militares finlandeses morreram, contra pelo menos 58 mil russos. Apesar das perdas, as tropas soviéticas deram mostras de perícia, tenacidade e coragem. 

Na Alemanha, um pequeno grupo de diplomatas, eclesiásticos e militares procurava um meio de evitar a guerra aberta com a Grã-Bretanha. As conversas, todavia, foram infrutíferas. Entre os aliados, Paul Reynaud, novo primeiro-ministro francês, e Neville Chamberlain, seu equivalente britânico, concordaram em tomar medidas ativas contra o III Reich. Por exemplo, todas as medidas seriam tomadas para evitar que a Alemanha se abastecesse de minérios de ferro na Suécia e, além disso, as jazidas petrolíferas soviéticas de Baku, no Cáucaso, seriam atacadas para privar a Alemanha desse fornecimento. 

Enquanto isso, desde setembro de 1939, a guerra no mar transcorria com sérias perdas para a marinha mercante aliada. O plano britânico acabou se limitando a uma operação de lançamento de minas ao longo da costa norueguesa. 

No dia 5 de abril, cinco mil oficiais poloneses foram exterminados pelo exército soviético em Katyn. No dia 9 desse mês, a Dinamarca tornava-se a segunda conquista militar de Hitler. A Noruega também cairia sob o jugo nazistas. Na guerra  dos serviços secretos, a Alemanha, e não a Grã-Bretanha, saiu vencendo na Noruega. 

Na Polônia, torturas e mortes prosseguiam sem parar. Há indícios, no etanto, de que a população alemã não estivesse entusiasmada com a brutalidade da guerra. No fim de abril, o diretor de polícia de Berlim, o conde Wolf Heinrich von Helldorf, relatou ao cel. Oster que apenas entre 35 e 40% de seus compatriotas apoiavam a guerra. 

Enquanto as tropas alemãs se preparavam para iniciar as hostilidades no Ocidente, um contratorpedeiro polonês, o Grom, foi partido em dois após ser atacado por bombas alemãs. 

Na manhã de 9 de maio, Hitler estabeleceu para o dia seguinte o início de sua ofensiva ocidental. Na véspera desse dia que marcou a mais ambiciosa, ousada e arriscada ofensiva do Reich, os comandantes-chefes de Hitler estudaram uma grande quantidade de valiosos dados extraídos em parte de documentos britânicos capturados na Noruega pelos serviços secretos alemães.     

Bibliografia consultada: GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 62-83.

Retratos da Mulher Moderna

domingo, 4 de março de 2018

The Duchess of Sutherland (1904), de John Singer Sargent. 
Essa imagem foi compartilhada hoje no Twitter pelo perfil @ATrueArt .

John Singer Sargent nasceu em Florence, Estados Unidos, em 1856. Um dos artistas mais famosos e ricos do seu tempo, ele ficou conhecido como um pintor de cenas da sociedade. Excelente retratista, Sargent escandalizou e encantou a alta sociedade de Londres e Paris, com os seus majestosos retratos de corpo inteiro. Ele pintou de forma brilhante a opulência do estilo de vida dos seus modelos, embora fosse eventualmente acusado de superficialidade. Pintou também aquarelas impressionistas representando paisagens e cenas urbanas. 

Um americano que se fixou na Europa, Sargent apoiava a vanguarda e admirava Monet, Manet e outros coetâneos. Notabilizou-se também com os seus retratos da mulher moderna, numa altura em que as mulheres estavam a afirmar a sua independência e a luta pela igualdade. O seu retrato radical Mr and Mrs I N Phelps Stokes (1897) sugere que Mrs Sotkes era a figura dominante do casal. 

Por outro lado, em The Sitwell Family (1900), Sargent conferiu uma grandeza barroca aos seus retratos da aristocracia inglesa. Transmite habilmente a imagem do patriarca dominante, da esposa bela e servil e dos filhos obedientes, rodeados por objetos transmitidos de geração em geração.

John Singer Sargent faleceu em Londres, em 1925.       

Bibliografia consultada: GRAHAM-DIXON, Andrew (consultor editorial). Arte - Grande Enciclopédia, da Pré-História à Época Contemporânea. tradução de Sofia Gomes. Porto: Dorling Kindersley - Civilização, Editores, 2009, p. 14, 15, 371, 391 e 393.

Origens da Hélade

sábado, 3 de março de 2018

Ruínas do oráculo de Delfos.

No período de c. 750 a.C. a 500 a.C., a luta internacional e doméstica no mundo das cidades-estado helênicas tornou-se intensa. Entretanto, nessa mesma época, os gregos, em que pese dia crescente discórdia econômica e política, adquiriram consciência de sua unidade e solidariedade cultural. Essa tomada de consciência se refletiu no surgimento de várias instituições pan-helênicas. 

"Helenos" ("habitantes da Hélade") passou a ser o novo nome comum dos gregos para se referirem a si mesmos. A Hélade era um distrito da Grécia central que continha o santuário de Ártemis e da deusa Terra e dos deuses Apolo e Dioniso em Delfos, sede de um oráculo muito respeitado e visitado. Esses dois santuários passaram a se administrados por doze estados gregos adjacentes (anfictiônicos). Nesse colegiado de Anfictiões até estados importantes que não eram membros originais dessa Anficionia conseguiram ser nela representados. 

Graças a essa expansão da Anfictionia, os nomes "Hélade" e "Helenos" passaram a significar, respectivamente, toda a área e todos os adeptos da nova civilização que surgira na bacia do Egeu no século XI a.C. e que de lá se vinha expandindo desde o século VIII a.C.     

Bibliografia consultada: TOYNBEE, Arnold. A Humanidade e a Mãe-Terra - Uma História Narrativa do Mundo. Tradução de Helena Maria C. M. Pereira e Alzira S. da Rocha. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987, p. 226-227.

Grandes Pensadores do Séc. VI a.C.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Templo de Fogo em Yazd, Irã. Os edifícios religiosos do zoroastrismo denominam-se "templos de fogo". 

O lapso temporal entre c. 1060 a.C. e 632 d.C. é considerado um "Período Axial" - período que constitui o pivô sobre o qual girou a história humana. Mais especificamente, o século VI a.C. foi basilar porque nessa época surgiram quatro grandes videntes - Zaratustra ou Zoroastro (Pérsia), Buda (Índia védica), Confúcio (China) e Pitágoras (Grécia). Durante alguns anos, todos eles viveram simultaneamente, embora seja improvável que, vivendo em ambientes regionais tão diferentes, alguma vez tenham se encontrado ou que alguma vez tenham tido consciência da existência de qualquer dos outros. Chama a atenção que nenhum deles seja originário das duas mais antigas civilizações - a sumério-acadiana e a egípcia faraônica. 

As crenças objetivas e práticas de Buda e Pitágoras assemelham-se tanto que faz perecer virtualmente certo que sua inspiração se tenha derivado de uma fonte comum. Ambos acreditavam que a morte não é o término da vida, mas é normalmente seguida de um renascimento, e que a série de mortes e renascimentos continuará ad infinitum se medidas extremas não forem adotadas para haja o rompimento desse círculo doloroso. Quebrá-lo era o objetivo compartilhado por esses dois videntes. 

Zoroastro, Buda, Confúcio e Pitágoras arregimentaram ou aceitaram discípulos, o que levou à criação de novas sociedades, dado que o relacionamento entre os seres humanos tem de ser institucionalizado, se houver que ser mantido por mais de uma única geração e abranger mais pessoas do que o pequeno número que compõe os limites de uma comunidade baseada, apenas, em relações pessoais. Buda fundou uma ordem monástica (sangha) mantida por adeptos leigos; Confúcio fundou uma escola filosófica; Pitágoras fundou uma sociedade, algo mais do que uma escola, embora não chegasse a ser uma ordem monástica formal. Zoroastro, por sua vez, tornou-se o fundador de uma nova religião. Da mesma forma, o interesse de Buda em comunicar sua descoberta espiritual conduziu à fundação de uma nova religião; é notável esse resultado do esclarecimento de Buda. Este dispôs-se a erradicar o egocentrismo e a ambição inatas aos seres vivos; além disso, acreditava que cada ser tem de atingir o esclarecimento por esforços próprios e que, se e quando atingir, é livre de passar ao Nirvana. 

O budismo obteve o primeiro patrocínio real mais de dois séculos após a morte de Buda, na pessoa de Asoka, imperador máuria entre 273 e 232 a.C. Confúcio buscava um emprego real e não o conseguiu - um malogro pessoal que levou este funcionário público desempregado a criar uma carreira para si mesmo como professor de Ética. 

Desses quatro videntes, Buda revelou-se único em seu distanciamento da política. Confúcio teria iniciado uma carreira política, caso tivesse tido a oportunidade. Só após 350 anos após a sua morte a filosofia confuciana tornou-se um salvo-conduto de nomeação para cargos públicos. Zoroastro percebeu que o patrocínio governamental era condição necessária para que sua missão tivesse êxito, e Pitágoras e seus discípulos não puderam evitar entrar na política. 

Zoroastro via o mundo como um campo de batalha entre o bem e o mal. O bem estava destinado a vencer a guerra; enquanto isso não ocorre, é dever do Homem ser ativo e combatente ao lado do deus bom contra o deus mau. Essa concepção provavelmente foi marcada pela circunstância histórica da época e do local onde esse profeta viveu, marcada pelos combates constantes entre os pastores nômades eurasianos e seus vizinhos sedentários. Em sua guerra histórica, Zoroastro era, certamente, um combativo oponente dos nômades. 

Confúcio era um reformador ético que se julgava, sem dúvida sinceramente, conservador consciencioso. Prescindindo do problema religioso, sua intenção era reabilitar inestimáveis instituições ancestrais de uma sociedade que se desviara de sua estrutura tradicional e havia perdido seus esteios. Ele viveu em tempos difíceis, quando a fé dos chineses num Céu justo decaiu, chegando mesmo a desembocar em ateísmo. Sem negar ou afirmar a fé num deus criador e reitor do mundo, Confúcio insistiu antes na necessidade premente de aperfeiçoamento moral de todos, do camponês ao imperador Filho do Céu. Quem perseguisse esse objetivo deveria cumprir os ritos, que aplacavam as paixões, estabeleciam o lugar de cada um na hierarquia familiar e social e mantinham a obediência. A sinceridade seria a meta de quem almejasse a perfeição e o Céu. Apesar do seu conservadorismo, chama a atenção que Confúcio tenha lançado mão de recursos inovadores. 

Graças a Buda, Pitágoras, Zoroastro e Confúcio, os quatro videntes do século VI a.C., a perspectiva da realidade suprema e as diretrizes para a conduta humana transformaram-se irreversivelmente.    

Bibliografia consultada:
ALMARZA, Meritxell & SÁNCHEZ, José Luis (dir.). História das Religiões - Origem e desenvolvimento das religiõesTradução de Carlos Nougué. Barcelona: Folio, 2008, p. 66. 
TOYNBEE, Arnold. A Humanidade e a Mãe-Terra - Uma História Narrativa do Mundo. Tradução de Helena Maria C. M. Pereira e Alzira S. da Rocha. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987, p. 228-237.