“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Último Dia do Reino Unido na UE

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020


A partir da meia-noite de hoje, o Reino Unido está formalmente fora da União Europeia. É uma grande vitória do povo britânico, que decidiu em referendo, no ano de 2016, o Brexit (neologismo criado a partir dos termos British e Exit). Confira, abaixo, o último (e fantástico) discurso de Nigel Farage no Parlamento Europeu. Compreenda também o que mudará na Europa após esse processo a partir do vídeo da BBC Brasil.

  

Os "Flagelos" dos Judeus

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Certos ilustres teólogos e pregadores, bem como certos santos devidamente canonizados do fim da Idade Média, dedicaram ao Diabo um interesse imoderado e persistente, especializando-se acessoriamente na perseguição de judeus. Debruçando-se sobre seus gestos e seus escritos, historiadores acreditam poder circunscrever deste ponto de vista um certo tipo reformador e profético, característico da época, e de que o doutor Martinho Lutero será o modelo mais acabado.

Tal foi o caso de São Vicente Ferrier (1350-1419) (acima), o mais célebre dos monges pregadores, que percorria a Espanha e a França, e cuja prédica provocou entusiasmo e trouxe mudanças consideráveis na vida moral dos indivíduos. Esse poderoso sedutor das multidões, que ainda hoje os católicos veneram como autêntico fazedor de milagres, permanece na imaginação popular como "o pregador do fim do mundo". Como julgava iminente o Juízo Final, dedicou-se particularmente à conversão dos judeus. À frente de um bando de flagelantes, irrompia nas sinagogas e exigia dos assistentes que rejeitassem imediatamente a Torá e aceitassem a Cruz. Não é de se espantar que os judeus tenham guardado dele uma detestável lembrança. De fato, São Vicente Ferrier entrou nas crônicas judaicas como o "Flagelo dos Judeus".

Não obstante, São Vicente recriminava os assassinatos de judeus. "Os cristãos não devem matar os judeus com o cutelo, mas com palavras", e tinha mesmo a seu respeito palavras bastante lisonjeiras, mas com a condição de que se convertessem. Caso contrário, prescrevia o isolamento hermético deles. Foi por sua instigação que criaram, em 1412, os primeiros guetos espanhóis, as juderías, e promulgou-se toda uma legislação antijudaica.

Um outro "flagelo dos judeus" foi São João de Capistrano (1383-1456). Enérgico inquisitor, foi considerado pelo seu biógrafo como "aquele de nossos santos que exerceu a ação mais marcante e mais decisiva sobre os homens e as coisas de seu tempo". Exerceu seu apostolado na Itália e na Alemanha. Ele escolhia para as suas arengas e sermões a morte, o julgamento e o inferno, e seus principais escritos são consagrados ao Anticristo, ao Juízo Final e ao Apocalipse. Raramente perdia a oportunidade de atacar em seus discursos o judaísmo. Ameaça com a cólera de Deus os príncipes que protegiam os judeus, e gabava-se de ter abolido os "privilégios diabólicos" de muitas comunidades judaicas.

É assim que nesses grandes homens de ação, de alma atormentada, a obsessão do fim do mundo ia de par com a do castigo e o ódio antijudaico. O célebre demagogo religioso Savonarola, durante alguns anos senhor incontestável de Florença, pertence à mesma categoria. Ele tinha visões e ouvia os diabos sussurrarem em seus ouvidos. Foi excomungado pela Igreja e queimado na fogueira.

O temperamento mais suave de outros santos célebres da mesma época não os impediu de odiar os judeus com igual virulência. São Bernardino de Siena (1380-1444), por exemplo, dizia que os judeus conspiravam contra os cristãos por meios de suas extorsões, ao atuarem como usurários, e através da medicina, roubando-lhes "a saúde e a vida". Seu caridoso discípulo, São Bernardino de Feltre (1439-1494), transmutava-se em "cão que ladra" (segundo sua própria expressão) quando tratava dos judeus. Sob sua enérgica iniciativa, os franciscanos criaram os montepios (fins do séc. XV), a fim de livrar os deserdados dos usurários cristãos ou judeus. Pregando em Trento, no Tirol, advertia aos fiéis do perigo judeu, e especifica que "a festa da Páscoa não passará sem que saibais de alguma coisa". Alguns dias mais tarde, explodia o célebre caso do assassinato ritual do pequeno Simão de Trento.      

Adaptado de POLIAKOV, Léon. De Cristo aos Judeus de Corte. Tradução de Jair Korn e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: 1979, p. 123-126.

Dia Internacional da Lembrança do Holocausto

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Num dia como hoje, em 1945, os Aliados libertavam o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, o principal do regime nazista. Por isso, a ONU escolheu a data de 27 de janeiro para assinalar a lembrança da Shoah (Holocausto), que teve como saldo cerca de seis milhões de judeus mortos.

«O Lado Certo da História»

domingo, 26 de janeiro de 2020

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Sátira Antissemita Medieval

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Os judeus resgatavam, durante o shabat, um animal que tivesse caído num buraco (ver Mt 12:11). Mas, e se um ser humano estivesse na mesma situação?

Pode-se dizer que o antissemitismo cresceu na medida do desenvolvimento da arte e da literatura e em função de sua difusão entre as massas populares. Não há quase gênero, trovas, sátiras, legendas ou baladas, de onde os judeus estejam ausentes ou não sejam descritos em cores ridículas ou odiosas, amiúde por meio do toque escatológico de que o século XIV era tão ávido. Esses temas se entrecruzaram e caminharam de país para país.

Uma sátira francesa do século XIV, escrita em língua vulgar, põe em cena um judeu de Paris, muito renomado entre seus correligionários, que um dia cai nas latrinas públicas. Os outros judeus se reúnem para acudi-lo. "Poupai-vos", grita o desafortunado, "de me tirar daqui, pois é o dia do shabat, e esperai até amanhã, para não violar nossa lei." Eles lhe dão razão e se afastam. 

Cristãos que estavam presentes se apressam a anunciar o fato ao rei Luís. O soberano então dá ordens a seus homens a fim de impedir que os judeus tirem o correligionário da fossa no dia do Senhor. "Ele observou o shabat; observará também nosso domingo."

Assim feito, e quando retornaram na segunda-feira para tirar o infeliz de sua deplorável posição, estava morto.     

Adaptado de POLIAKOV, Léon. De Cristo aos Judeus de Corte. Tradução de Jair Korn e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: 1979, p. 106.

A Reconquista da Península Ibérica

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Com o declínio do Império Romano do Ocidente, os visigodos se instalaram na Hispânia (Península Ibérica), onde fundaram seu reino. Como uma minoria de conquistadores arianos, dominando uma população majoritariamente católica, seus desafios eram grandes, até que o rei Recaredo converteu-se ao catolicismo (c. 586). Pouco depois, foi celebrado o III Concílio de Toledo. Com isso, o cristianismo trinitário enraizou-se entre os hispanos.

O mundo medieval é normalmente visto como o resultado da fusão de elementos germânicos e romanos em transformação. Isso é particularmente verdade no caso da Espanha visigótica, onde o legado do direito escrito romano foi unido ao direito consuetudinário hispânico e germânico em meados do século VII. No início do século VIII, no entanto, a conquista muçulmana varreria o Reino Visigodo do mapa. Em apenas dez anos, apenas as partes setentrionais da Península Ibérica não estariam sob domínio mouro.

A conversão generalizada e a arabização cultural da península ganharam ritmo no século X. As relações intercomunitárias na região baseavam-se nas três religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo). Apesar dos atritos, ocorreram grandes avanços culturais a partir do diálogo que então se estabeleceu, sobretudo na região da Andaluzia.

A conquista muçulmana foi acompanhada, desde o início, pela resistência cristã. O cristianismo, de fato, tornou-se o mais importante vínculo de resistência contra o domínio muçulmano. Os novos reinos cristãos que lentamente foram surgindo no contexto da reconquista adotaram a lex gothica. Em 801, foi criado o condado de Barcelona para controlar os territórios de ambos os lados da cordilheira até a Provença. Em finais do século X, a fragmentação do Império Carolíngio tornou esse condado autônomo. Em consequência, houve a emergência da língua catalã.

A Reconquista cristã da Península Ibérica produziu novas formas de identidade coletiva ao longo do eixo norte-sul da expansão a partir das Astúrias (o refúgio dos visigodos). A Galícia veio a se integrar a Leão, que se associou a Castela em 1037; em 1230 houve a união formal entre ambos. A Catalunha associou-se ao reino de Aragão em 1150. Portugal (condado Portucalense) tornou-se independente em 1139. Navarra, separada de Leão em 1134, perdeu o território ao sul dos Pireneus, conquistado em 1512 por Fernando, rei de Castela e de Aragão.

A Reconquista cristã foi legitimada pelo papa como Cruzada nos séculos XII-XIII. Muitos francos, borgonheses ou ingleses se tornaram governantes e bispos da região. O ritual visigodo foi substituído pelo romano e a colonização dos territórios reconquistados foi reforçada pelos recém-chegados. Esses novos imigrantes envolveram-se na conquista de cidades importantes e, no geral, integraram-se prontamente às entidades políticas cristãs.

À reconquista seguiu-se a recristianização. O status dos muçulmanos após a conquista cristã variou de comunidade para comunidade - de pilhagem, massacre e escravidão, a rendição e um pacto (o que, em geral, ocorreu). Leis de segregação e uma pressão religiosa irresistível provocaram um declínio acentuado, ao longo de dois séculos, das comunidades muçulmanas na Península Ibérica ocidental e central. Com a queda de Granada, em 1492, teve fim a presença muçulmana na Península Ibérica enquanto potência política. Como comunidade religiosa distinta, os muçulmanos persistiram até 1502 (em Granada) e 1526 (em Aragão).    

Adaptado de BETHENCOURT, Francisco. Racismos - das Cruzadas ao Século XX. Tradução de Luís Oliveira Santos e João Quina Edições. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 53-56.

Cidades Privadas Livres

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Vista parcial da cidade privada de Tatu City, no Quênia. 

O cantor americano Akon está construindo a cidade de Wakanda, próximo a Dacar, no Senegal. Planejada para ser gerida por meio de criptomoeda, a Akoin, o projeto foi visto com muita surpresa por seus fãs. Mas o rapper está empreendendo em um segmento de mercado que vem ganhando destaque desde o século passado e que pode ser uma tendência global: o das Zonas Econômicas Especiais (ZEE) geridas por empresas.

Para atrair pessoas, empresas e investimentos, essas zonas precisam oferecer instituições que gerem incentivos virtuosos: caso a oferta não seja atraente o suficiente, ninguém se mudará para lá. Ou seja, a ZEE precisa ser melhor do que o marco regulatório do estado-nação em que ela está estabelecida. Em outras palavras, as instituições da cidade autônoma concorrerão como a do país em que ela está estabelecida, criando incentivos de boa governança daquele local para atrair moradores e fazê-los ficarem por lá. Se as instituições não forem suficientes, empresas e indivíduos não se interessarão em permanecer no local.
Para isso, essas zonas costumam oferecer bens públicos como serviços de segurança, infraestruturas e regras sociais. Um exemplo é a Nkwashi, na Zâmbia, que está sendo desenvolvida pela empresa Thebe e oferece diversos serviços, tal como o poder público local: coleta de lixo, manutenção de estradas, parques públicos, espaços verdes e demais áreas de lazer, serviços de segurança e combate a incêndio, instituições educacionais e hospitais, além de transporte público.
Outra cidade privada, em desenvolvimento pela empresa Rendeavor, é Tatu City, localizada no Quênia e que conta com mais de 12 mil hectares.
Baixos impostos, ordem e segurança estão entre os principais desejos de indivíduos e empresas para se estabelecerem em uma cidade privada. Outra vantagem é que toda a gestão é feita por empresa privada, que tem interesse em lucrar com o negócio. Assim, há incentivos para o planejamento ser de longo prazo, estimulando previsibilidade e segurança jurídica (itens muito caros para qualquer investidor) - ao contrário das cidades tradicionais, suscetíveis a diversos fatores de imprevisibilidade, como governantes que desequilibram contas públicas de olho nas próximas eleições, intervenções de governadores na cidade ao limitarem possíveis repasses e legislações aprovadas no parlamento nacional.
“Instituições são o grande fator de sucesso ou fracasso das sociedades. Moldar o futuro da governança e prover serviços melhores podem ser feitos mais facilmente por meio de cidades e jurisdições especiais, que criam zonas de desenvolvimento sustentável sem interesses políticos atrapalharem”, defende Michael Castle Miller, CEO da Politas Consulting, empresa que faz consultoria para criação de ZEEs.
O catarinense Francisco Litvay atualmente vive em Linz, na Áustria, e trabalha como assistente executivo da Free Private Cities (FPC), empresa que busca implementar o modelo de cidade privada em uma ZEE. Ele explica que a ideia é criar cidades com arcabouço semelhante ao de Hong Kong ou Macau em relação à China. Atualmente a empresa está envolvida em projeto que deve dar início às operações em 2020 na América Central, além de negociar com governos no Cáucaso e na África subsaariana.

Exemplo da China
“A governança competitiva promovida por ZEE abre a possibilidade para experimentações de instituições: com elas é possível fazer pequenos experimentos com novos códigos legais. Se funcionarem, essas zonas podem ser replicadas. Se falharem, o fracasso custa pouco, muito menos que fracassos nacionais”, afirma Litvay.
“Um exemplo disso foi a China. Inicialmente, ela estabeleceu meia dúzia de ZEEs para ‘testar’ um modelo mais capitalista. A primeira delas foi Shenzen, hoje conhecida como 'Vale do Silício Chinês'. Com o enorme sucesso dessas áreas, o governo chinês foi multiplicando as ZEEs e hoje centenas delas são responsáveis por tirar centenas de milhões da pobreza. Testando e selecionando o que funciona, temos uma verdadeira evolução de sistemas de governo”, diz.
Ou seja: com Zonas Especiais que permitem autonomia jurisdicional é possível adotar instituições de primeiro mundo e que já foram testadas mundo afora sem precisar alterar a legislação de um país inteiro.
“Um exemplo interessante foi a adoção pela Dubai International Financial Centre da legislação britânica nos Emirados Árabes. Como foi bem-sucedido, a Abu Dhabi's International Financial Centre e a Astana International Financial Center (AIFC) copiaram o modelo nas regiões que administram, que também são bem-sucedidas. Mais recentemente, a Anaklia City iniciou sua implementação na Geórgia”, afirma.
“A AIFC justifica a posição afirmando ser vantajoso para investidores porque eles não precisarão se aventurar em sistemas desconhecidos, corruptos e burocráticos. Eles têm um sistema judicial de common law totalmente independente para resolver rapidamente disputas civis e comerciais. O sistema é caracterizado por confiabilidade, justiça, incorruptibilidade, acessibilidade, aplicação incondicional do Estado de Direito e flexibilidade que responda às necessidades das empresas internacionais", explica Litvay.

O que o Estado tem a ganhar com as cidades privadas?
Ao criar uma ZEE, um governo atrai investimento estrangeiro para desenvolver uma área até então despovoada e sem infraestrutura alguma. A maioria dos países que têm ZEE isenta a região de impostos e tarifas por determinado tempo e, aos poucos, com o desenvolvimento do local, vai subindo as alíquotas.
Um exemplo é a Stupino Quadrat, ZEE da Rússia, localizada a cerca de 107 quilômetros do centro de Moscou. A região conta com pouco mais de 120 mil habitantes e terá vantagens tributárias por 49 anos.
A Astana International Financial Center (AIFC) é uma ZEE localizada no Cazaquistão e posicionada estrategicamente para ser um centro financeiro. Ela fica próximo aos países da Ásia Central, região do Cáucaso, países da Eurásia, do Oriente Médio, da China Ocidental, da Mongólia e países da Zona do Euro.
Astana foi criada por lei em dezembro de 2015 e suas atividades se iniciaram em julho de 2018. Ela tem o propósito de ser considerada uma região autônoma desenvolvida até 2050. Com apenas um ano de atividade, já há 235 empresas de 26 países diferentes instaladas na região, incluindo grandes bancos de investimentos. A projeção é de que até o final de 2020 o número chegue a 500. Além do ambiente de negócios frutífero, há a garantia de vantagens tributárias até 2065, entre elas a isenção de impostos corporativos, isenção de imposto de renda de pessoas físicas e isenção de impostos fundiários ou prediais.
Após o fim da concessão, o estado-nação passar a ter uma região mais desenvolvida, com um melhor sistema legal e arrecadações tributárias mais representativas do que as que seriam possíveis sem a adoção de uma ZEE.

Por que não há cidades privadas no Brasil?
Akon já tentou investir no Brasil, mas reclamou da burocracia. "Eu me lembro bem de vir aqui e tentar melhorar a iluminação das favelas. Ainda estamos nas fases de negociação, tentando botar em prática. Eu quero estar em lugares que precisem de ajuda e encontrar soluções para dar essa ajuda", afirmou ele ao G1. Mas por que criar Wakanda em Senegal e não no Brasil?
Não há projetos de “Wakandas” no Brasil porque não há legislação que os permita. É necessária legislação específica para possibilitar Zonas Econômicas Especiais e projetos de criação de um arcabouço jurisdicional do zero.
Enquanto diversos países do mundo estão se empenhando em criar ecossistemas de zonas especiais, como visto recentemente em países na África e em Honduras, ainda não há no Brasil legislação a respeito do assunto.
Isso quase mudou em 2019. Neste ano, tramitou no Congresso proposta de possibilitar a criação de ZEEs a partir da chamada MP da Liberdade Econômica.
O texto definia que cada ente federativo poderia criar uma zona de regime jurídico especial a partir de lei estadual. A área poderia corresponder a até 0,01% da extensão total do ente federativo e o objetivo seria o de promover a inovação e a competitividade de novas tecnologias e modelos de negócios. Isso significa que o Brasil poderia passar a ter 28 Zonas Econômicas Especiais com jurisdições diferentes.
O dispositivo, no entanto, foi retirado do texto final aprovado e que se transformou na Lei de Liberdade Econômica sancionada em setembro.

Fonte: Gazeta do Povo

«Pensadores da Nova Esquerda»

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

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Revelações sobre John M. Keynes

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

John Maynard Keynes (1883-1946) foi um dos mais representativos líderes intelectuais de uma geração emancipada dos costumes morais tradicionais. Levando em conta efeitos previsíveis, Keynes acreditava que podia construir um mundo melhor do que se submetendo a regras abstratas tradicionais. Em um revelador relato autobiográfico, ele contou que o círculo de Cambridge dos seus anos de juventude eram "no sentido mais estrito do termo, imoralistas". 

Keynes justificou algumas das suas concepções econômicas, assim como sua crença no gerenciamento da ordem de mercado, com o fundamento de que "no longo prazo, estaremos todos mortos". Com isso, ele queria dizer que não importavam os estragos de longo prazo que causasse; apenas o presente, o curto prazo - que consiste em opinião pública, reivindicações, votos e todo o substrato e a tentação da demagogia - é que contava.

Keynes também se opôs à tradição moral da "virtude de poupar", recusando-se a admitir que a redução da demanda por bens de consumo costuma ser necessária para tornar possível o aumento da produção de bens de capital (isto é, investimento). Finalmente, à sua teoria 'geral" da economia devemos a ímpar inflação mundial do último terço do século XX e a inevitável consequência do desemprego severo que a ela se seguiu.

Nem Keynes nem seus alunos reconhecem que a ordem ampliada deve se basear em considerações de longo prazo. Edward Morgan Forster (1879-1970), que integrou o mesmo círculo intelectual de Keynes, argumentou a sério que libertar a espécie humana dos males do "comercialismo" tornara-se tão urgente quanto fora libertá-la da escravidão.

No campo da saúde, chama a atenção a que ponto chegou o rompimento dos valores tradicionais. George Brock Chisholm (1896-1971), psicanalista que se tornou o primeiro secretário-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), defendeu a "erradicação dos conceitos de certo e errado". A tarefa principal do psiquiatra seria libertar a espécie humana "do paralisante fardo do bem e do mal." 

Adaptado de: HAYEK, Friedrich A. von. Os erros fatais do socialismo. Tradução de Eduardo Levy. Barueri: Faro Editorial, 2017, p. 79-81.

«Filosofia Verde», de Roger Scruton

domingo, 19 de janeiro de 2020

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Doc. "O Belo e a Consolação"

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Personificação dos Continentes

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Afresco dos quatro continentes, seção sobre a Ásia. Teto do salão da Escadaria na Residência de Würzburg, 1752-3, de Giambattista Tiepolo.

Durante o século XVII, a tradição de associar mapas do mundo (continentes ou regiões) a imagens das cidades mais importantes e dos povos mais "típicos", em geral representadas em pares nas margens, enraizou-se no trabalho dos principais cartógrafos neerlandeses (Jodocus Hondius, Pieter van den Keere, Vischer, Willem Blaue e Frederik de Wit, seguindo Braun e Hogenberg). Os volumes sobre vestuário aproveitavam, ao mesmo tempo que também criavam, muitas das imagens usadas em mapas, atlas e panoramas de cidades do mundo. No longo prazo, surgiram gêneros de livros que unem quase perfeitamente a representação de cidades e a imagem de povos específicos. Destaca-se o livro publicado por Carel Allard por volta de 1695, Orbis habitabilis oppida et vestitus.

Entre 1570 e 1790 foram executadas muitas obras de arte (desenhos, gravuras, pinturas e esculturas) que se serviram de personificação dos continentes. Sabine Poeschel compilou 112 exemplos, com a grande maioria tendo sido criada na Itália. Na impossibilidade de analisar todos esses trabalhos, destaco o significado simbólico da obra-prima de Giambattista Tiepolo, o afresco pintado em 1752-3 no teto do Salão da Escadaria na Residenz de Würzburg (ver detalhe acima), considerado a mais vasta e uma das mais imponentes pinturas da Europa.

Nessa composição, a posição subalterna da Ásia, da África e da América perante a Europa é claramente indicada pela escolha de posições em relação às escadas e pela representação das figuras: a Europa é o único continente coroado, e as figuras restantes olham diretamente o espectador. Os elementos iconográficos estabelecidos são usados na composição: a Europa, com vestes ricas mas com cores e ornamentos sóbrios, é representada com os símbolos da sua origem (o mito da violação por Zeus), da natureza domesticada (o cavalo), da verdadeira religião (o templo, a mitra e a cruz, e a crossa do príncipe-bispo), das artes liberais (música, geografia, arquitetura, pintura e escultura) e da capacidade bélica (um canhão e um oficial).

Entretanto, a África quase nua monta um camelo, com um macaco, um avestruz e um pelicano representados no mesmo friso, completado pela figura do Nilo, ao lado de várias cenas que exibem mercadores orientais e europeus, e homens locais fumando cachimbo. A Ásia, de turbante, está sentada num elefante, cercada por um grupo de escravos, um criado com um turíbulo, caça a tigres e leões, e temos uma seção que indica a falsa religião, representada por um obelisco e um ídolo. Segundo alguns especialistas, na cena asiática, o escravo com a grilheta no pulso direito está agarrando o pulso esquerdo, o que pode significar que está acorrentando a si próprio - uma inovação iconográfica que vai ao encontro da ideia europeia de despotismo e falta de liberdade oriental. Isso também é sublinhado pelas mãos em posição de súplica ao lado do escravo manietado.

A América, nua, com um toucado de penas, está sentada num crocodilo, num cenário amplo com músicos, frutos e um criado com um pote de chocolate, e é contrastada com uma caça a um aligátor e com uma cena de canibalismo observada de modo um tanto bizarro pelo autor europeu com o seu quê de deturpado.

É marcante a oposição entre a Europa e os continentes exóticos, representados com vida selvagem, caça e canibalismo, mas também repletos de elementos comerciais (barris, fardos, troncos), para-sóis, turbantes, chapéus cônicos e estranhos toucados, que criam uma atmosfera orientalizada no friso, mesmo na África e na América.  

Adaptado de BETHENCOURT, Francisco. Racismos - das Cruzadas ao Século XX. Tradução de Luís Oliveira Santos e João Quina Edições. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 114-116.

Pérola de Marco Aurélio

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Lugares incríveis: Irã

domingo, 5 de janeiro de 2020

O ano começou com as tensões entre os Estados Unidos e o Irã se intensificando. Embora analisar a geopolítica seja fundamental, é preciso ver cada país a partir de sua complexidade cultural e histórica. O vídeo acima poderá ser útil nesse sentido. 

Jesus, a Água da Vida

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Cena do filme Ben-Hur (1959), dirigido por William Wyler (1902-1981).