Em 1689, Guilherme III e Maria II foram coroados rei e rainha da Inglaterra.
A Inglaterra foi um caso único, fazendo a passagem para um crescimento econômico sustentado ainda no século XVII. As grandes mudanças econômicas foram precedidas por uma revolução que gerou um novo conjunto de instituições econômicas e políticas, muito mais inclusivas do que qualquer uma da sociedade anterior. Essas instituições teriam implicações profundas não apenas para os incentivos econômicos e a prosperidade, mas também na definição de quem colheria os benefícios dessa prosperidade. E não foram criadas por consenso. Na verdade, resultaram de intenso conflito entre os grupos que competiam pelo poder, contestando a autoridade uns dos outros que competiam pelo poder, contestando a autoridade uns dos outros e tentando estruturar instituições que lhes fossem favoráveis. O ápice das disputas institucionais dos séculos XVI e XVII foram dois acontecimentos decisivos: a Guerra Civil Inglesa, entre 1642 e 1651, e, sobretudo, a Revolução Gloriosa de 1688.
A Revolução Gloriosa limitou o poder do rei e do Executivo, realocando para o Parlamento o poder de determinar as instituições econômicas. Ao mesmo tempo, abriu o sistema político para uma ampla parcela da sociedade, que exercia uma influência considerável sobre o modo como o Estado funcionava. A Revolução Gloriosa foi a base para a criação de uma sociedade plural, e não só iniciou, como também acelerou o processo de centralização política. Foi a criação do primeiro conjunto de instituições políticas inclusivas do mundo.
Como consequência, as instituições econômicas também passaram a se tornar mais inclusivas. Nem a escravidão nem as severas restrições econômicas do período feudal medieval, como a servidão, existiam na Inglaterra em princípios do século XVII. No entanto, havia muitas restrições quanto às atividades econômicas que as pessoas podiam desenvolver. Tanto a economia doméstica quanto a internacional estavam estranguladas por monopólios. O Estado estabelecia taxas arbitrárias e manipulava o sistema legal. A maior parte das terras estava presa a formas arcaicas de direitos de propriedade que impossibilitavam a venda e tornavam arriscado qualquer investimento.
Isso mudou depois da Revolução Gloriosa. O governo adotou um conjunto de instituições econômicas que oferecia incentivos aos investimentos, ao comércio e à inovação. Essas instituições deram garantias quanto ao direito de propriedade, incluindo a concessão de patentes sobre ideias, oferecendo assim um grande estímulo para a inovação. Elas protegiam a lei e a ordem. A aplicação da lei inglesa a todos os cidadãos foi uma inovação histórica sem precedentes. A taxação arbitrária cessou, e os monopólios foram quase completamente extintos. O Estado inglês proporcionou intenso incentivo às atividades mercantis e trabalhou para promover a indústria nacional, não apenas removendo barreiras à expansão da atividade industrial, como também usando todo o poder da Marinha inglesa para defender os interesses mercantis. Ao criar uma lógica racional para os direitos de propriedade, a Inglaterra facilitou a construção de infraestrutura, sobretudo de rodovias, canais e, mais tarde, ferrovias, que se revelariam cruciais para o crescimento industrial.
Esses fundamentos estabeleceram mudanças cruciais nos incentivos para que a população engajasse em atividades econômicas e deram impulso aos motores da prosperidade, pavimentando o caminho para a Revolução Industrial. (...) Não é coincidência que a Revolução Industrial tenha começado na Inglaterra poucas décadas depois da Revolução Gloriosa. Os grandes inventores, como James Watt (que aperfeiçoou o motor a vapor), Richard Trevithick (construtor da primeira locomotiva a vapor), Richard Arkwright (inventor da máquina de fiar) e Islamabad Kingdom Brunel (criador de várias embarcações a vapor revolucionárias), foram capazes de desfrutar as oportunidades econômicas geradas por suas ideias, confiavam que o direito à propriedade seria respeitado e tinham acesso a mercados em que suas inovações podiam ser vendidas e usadas de modo lucrativo.
ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 113-116.