“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A África e o comércio escravagista

domingo, 26 de março de 2023

 

Antes do início da era moderna, as sociedades africanas eram politicamente menos centralizadas do que as da Eurásia. A maioria das sociedades era pequena, com chefes tribais e talvez reis que controlavam a terra e os recursos. Muitas, como mostramos com o caso da Somália, não tinham qualquer estrutura hierárquica de autoridade política. O comércio escravagista deu início a dois processos políticos adversos. Em primeiro lugar, muitas sociedades se tornaram mais absolutistas de início, organizadas em torno de um único objetivo: escravizar e vender outros povos para os escravizadores europeus. Em segundo lugar, como consequência, mas paradoxalmente em oposição ao primeiro processo, as guerras e a escravidão destruíram qualquer tipo de ordem e de autoridade estatal na África subsaariana. Além de guerras, escravos também eram raptados e capturados em pequenas incursões. A lei também se transformou em uma ferramenta de escravização. Independentemente do crime que se cometesse, a pena era a escravidão. 

ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 282. 

20 Anos da Guerra do Iraque

segunda-feira, 20 de março de 2023

 

Um ano de invasão russa na Ucrânia

domingo, 19 de março de 2023

 

Há pouco mais de um ano, quando as Forças Armadas da Rússia iniciaram a invasão da Ucrânia, eu tive o privilégio de promover um live com o jornalista Ruben Dargã Holdorf. Ele vivia e trabalhava na Ucrânia até algumas semanas antes da "operação militar especial" da Rússia. Na live acima, fala de diversos aspectos do sistema político e da sociedade dessa antiga república soviética.

Caso queira ouvir uma análise mais atualizada, recomendo o vídeo do Professor HOC: Por que a Rússia não conseguiu conquistar a Ucrânia.

O Cerco de Jerusalém

sábado, 18 de março de 2023

 

Massacre de Halabja

quinta-feira, 16 de março de 2023

 

Num dia como hoje, há 35 anos, a população curda de Halabja sofreu um brutal ataque químico por parte das forças do ditador iraquiano Saddam Hussein.

A guerra entre Irã e Iraque ia no seu oitavo ano [em 1988]. Em fevereiro, cada um dos beligerantes enviou bombardeiros e mísseis contra a capital do outro, a despeito dos apelos das Nações Unidas ao fim do morticínio de civis. Em [16 de] março, tropas iraquianas bombardearam com armas químicas Halabja, uma cidade curda, matando 5000 civis curdos. O recurso a armas químicas - proibidas por acordo internacional - valeu ao Iraque a condenação da maioria dos membros das Nações Unidas. Mesmo assim, o líder iraquiano, Saddam Hussein, não hesitou em usar armas químicas contra a sua minoria curda que, desejosa de viver sob um regime menos repressivo, tinha apoiado o Irã. 

GILBERT, Martin. História do Século XX. Tradução de Francisco Agarez. 3ª edição. Alfragide, Portugal: Dom Quixote, 2014, p. 553.

O Exército Assírio

domingo, 12 de março de 2023

 

10 de Março: Dia do Conservador

sexta-feira, 10 de março de 2023

 

O arquipélago das Molucas - Banda

domingo, 5 de março de 2023

 

Os turistas, ao visitarem esse paraíso que são as Ilhas Banda, não imaginam que no século XVII esse mesmo lugar foi transformado num cemitério pelos neerlandeses. 

Os holandeses também assumiram o controle das Ilhas Banda, na intenção de monopolizar a mácide e a noz-moscada. As Ilhas Banda, porém, eram organizadas de modo diferente de Amboína. Elas eram compostas de várias pequenas cidades-Estado autônomas, onde não havia hierarquia social nem estrutura política. Esses pequenos Estados, que na verdade não eram mais do que vilarejos, eram administrados por assembleias compostas pelos cidadãos locais. Não havia autoridade central que os holandeses pudessem coagir a assinar um tratado de monopólio e nenhum sistema de tributos que pudessem assumir para pôr as mãos em todo o suprimento de mácide e noz-moscada. De início, isso significou que os holandeses precisaram concorrer com mercadores ingleses, portugueses, indianos e chineses, perdendo para seus concorrentes quando não pagavam preços altos. Os planos iniciais de estabelecer um monopólio de mácide e noz-moscada naufragaram, e o governador holandês da Batávia, Jan Pieterszoon Coen, propôs um plano alternativo. Coen fundou a Batávia, na Ilha de Java, que em 1618 se tornou a nova capital da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Em 1621, ele navegou até as Ilhas Banda com uma frota e começou um massacre de quase toda a população das ilhas, provavelmente cerca de 15 mil pessoas. Todos os líderes foram executados, e só algumas pessoas foram deixadas vivas, o suficiente para preservar o conhecimento da produção de mácide e noz-moscada. Depois que o genocídio estava completo, Coen criou a estrutura política e econômica necessária para seu plano: uma sociedade de plantations. As Ilhas foram divididas em 68 domínios, que foram entregues a 68 holandeses, quase todos empregados ou ex-empregados da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Esses novos latifundiários aprenderam a produzir especiarias com os poucos habitantes originários sobreviventes e compraram escravizados da Companhia Britânica das Índias Orientais para povoar as ilhas esvaziadas e produzir especiarias, que seriam vendidas a preços fixos para a própria companhia.

As instituições extrativistas criadas pelos holandeses nas Ilhas das Especiarias tiveram os efeitos desejados, mas em Banda isso aconteceu ao custo de 15 mil vidas inocentes e ao estabelecimento de um conjunto de instituições econômicas e políticas que condenariam as ilhas ao subdesenvolvimento. No fim do século XVII, os holandeses haviam reduzido a oferta mundial dessas especiarias em cerca de 60%, e o preço da noz-moscada dobrara.

Os holandeses disseminaram a estratégia aperfeiçoada nas Molucas por toda a região, trazendo consequências profundas para as instituições econômicas e políticas do restante do Sudeste Asiático. A longa expansão comercial de diversos Estados na área, iniciada no século XIV, começou a retroceder. 

ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 276-278. 

O arquipélago das Molucas - Amboína

sexta-feira, 3 de março de 2023

O arquipélago das Molucas, na atual Indonésia, é composto de três grupos de ilhas. No início do século XVII, as Molucas do Norte abrigavam os reinos independentes de Tidore, Ternate e Bacan. As Molucas Médias abrigavam o reino insular de Amboína. No sul havia as Ilhas Banda, um pequeno arquipélago que ainda não havia sido unificado politicamente. Embora hoje pareçam remotas, na época as Molucas eram centrais para o comércio internacional por serem as únicas produtoras das especiarias cravo-da-índia, mácide e noz-moscada. Dessas, a mácide e a noz-moscada só podiam ser encontradas nas Ilhas Banda. Os habitantes das ilhas produziam e exportavam essas especiarias raras em troca de comida e de bens manufaturados que chegavam de Java, do entreposto de Malaca, na península Malaia, e da Índia, da China e da Arábia.

O primeiro contato que tiveram com os europeus com os portugueses, que capturaram Malaca em 1511. Estrategicamente situada na porção ocidental da península Malaia, a região recebia mercadores de todo o Sudeste Asiático que iam vender suas especiarias a outros mercadores - indianos, chineses e árabes -, que depois as enviavam para o Ocidente. Então, com o domínio de Malaca, os portugueses tentaram sistematicamente conquistar um monopólio do valioso comércio de especiarias. Não conseguiram.

Os adversários eram consideráveis. Desde o século XIV, o enorme desenvolvimento econômico no Sudeste Asiático baseado no comércio de especiarias levou cidades-Estado como Aceh, Banten, Malaca, Macáçar, Pegu e Brunei a se expandirem rápido, produzindo e exportando especiarias junto com outros produtos, como madeiras de lei. A partir do século XVI, a presença dos europeus aumentou e passou a ter muito mais impacto com a chegada dos holandeses, que logo se deram conta de que monopolizar a oferta das valiosas especiarias das Molucas seria muito mais lucrativo do que competir contra outros comerciantes locais e europeus. Em 1600, convenceram o governante de Amboína a assinar um acordo de exclusividade que lhes dava o monopólio sobre o comércio do cravo-da-índia na ilha. Com a fundação da Companhia das Índias Orientais, em 1602, as tentativas dos holandeses de dominar o comércio de especiarias e eliminar seus concorrentes lhes renderam bons frutos, prejudicando imensamente o Sudeste Asiático. Graças ao seu poder militar, a companhia permitiu aos holandeses eliminar qualquer possível obstáculo e garantir que seu tratado com o governante de Amboína fosse respeitado. Em 1605, capturaram um forte importante que estava em mãos portuguesas e, a seguir, removeram à força todos os demais comerciantes. Depois, expandiram sua atuação para as Molucas do Norte.

Em Amboína, os súditos deviam tributos ao governante e eram obrigados a fazer trabalhos forçados. Os holandeses assumiram e intensificaram esses sistemas para obter mais mão de obra e mais cravo-da-índia. Os holandeses determinaram que os moradores de cada casa estavam presos a um pedaço de terra e deviam cultivar um certo número de árvores de cravo-da-índia. As famílias também eram obrigadas a prestar trabalhos forçados.

Adaptado de ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 272-276.