Não Nos Representam
Pérola de Sêneca
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
"Pratica moral para poderes ser feliz, e não te importes que fulano ou sicrano te ache estúpido. Deixa que os outros te ofendam e te injuriem; desde que possuas a virtude, em nada serás lesado por isso. Se queres ser feliz, se queres ser um homem de bem e digno de confiança, não te importes que os outros te desprezem."
SÊNECA, Cartas a Lucílio, 71.7.
Ecocídio na União Soviética
terça-feira, 24 de novembro de 2020
No dia 26 de abril de 1986, ocorreu a explosão de um reator de Chernobil, na então Ucrânia soviética. Essa fotografia aérea mostra os danos na usina.
Murray Feshbach e Alfred Friendly observam em seu importante livro Ecocide in the USSR que a poluição foi parcialmente responsável pelo aumento da mortalidade infantil na União Soviética até níveis só encontrados em países do Terceiro Mundo e em algumas cidades americanas. Os autores concluíram que "embora os vínculos entre a agressão ambiental e a doença permaneçam inevitavelmente mais presumidas que provadas, existe pouca dúvida a respeito do volume da poluição. Poucas áreas industrializadas da União Soviética estão livres de risco ambiental, e algum tipo grave de condição ecológica prevalece em 16 por cento do território do país, onde vive um quinto da população."
O que Feshbach e Friendly documentam em termos de poluição ambiental foi um legado da atitude bolchevique com relação à natureza. Neste, e em muitos outros aspectos, os bolcheviques seguiram fielmente a Marx. Na melhor das hipóteses, eles viam a natureza como um recurso a ser explorado para os objetivos do homem, e, na pior, como um inimigo a ser conquistado. A atitude ocidental semelhante à de Prometeus diante do mundo natural serviu de base às políticas soviéticas durante a vida do regime. Foi também uma das causas de seu colapso.
A lenta reação da liderança soviética ao desastre de Chernobil foi o gatilho para os primeiros movimentos políticos populares na União Soviética. Esses movimentos ambientalistas mobilizaram amplas coalizões em torno da oposição a grandes projetos de construção de barragens na Sibéria. Junto com os movimentos nacionalistas no "exterior próximo" da União Soviética, foram estes movimentos ecológicos de massa, muito mais que as divergências intelectuais, que se constituíram no catalisador interno para o colapso soviético.
Adaptado de GRAY, John. Falso Amanhecer - os equívocos do capitalismo global. Tradução de Max Altman. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1999, p. 194-195.
As Incríveis Estradas Romanas
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
As escavações arqueológicas revelam que as estradas romanas, construídas dois mil anos atrás, são superiores à maioria das estradas atuais. Cortes transversais, como o revelado acima, mostram que os construtores - soldados, normalmente - abriam valas e, a seguir, as cobriam com sucessivas camadas de cascalho e pedras de diferentes tamanhos. A ilustração abaixo é mais esclarecedora:
A Secularização na Rússia e na Turquia
domingo, 22 de novembro de 2020
Uma mulher turca, sem o véu e com roupas ocidentais, logo após as reformas de Kemal Atatürk. Ao fundo, a Hagia Sophia.
"Para muitos reformistas, o rompimento com o modelo tradicional tinha que ser total. Geralmente começava com um ataque ao modo como as pessoas se vestiam e se barbeavam. Pedro, o Grande, obrigou os boyars, ou aristocratas rurais, a raspar a barba e os sacerdotes a proferir sermões sobre as virtudes da razão. Mas isso era pouco quando comparado a Kemal Atatürk, que jurou em 1917 que, se algum dia chegasse ao poder, mudaria de um só golpe a vida social na Turquia. E, em 1923, deu início a seu projeto. A indumentária oriental, geralmente portadora de um significado religioso, foi abolida. As mulheres não mais podiam usar véu e, como os líderes japoneses da Era Meiji, ele incentivou bailes sofisticados e outras formas de entretenimento à moda ocidental. Como os japoneses, acreditava que o estilo ocidental era essencial para se tornar uma nação moderna.
Se roupas e penteados são sinais superficiais de mudança, a demolição dos 'muros monásticos', para usar outra metáfora de Weber, era considerada por muitos, inclusive Karl Marx, como um ingrediente essencial para a modernização. Novamente, Atatürk oferece-nos um bom exemplo. Alegando que 'a ciência é o mais confortável guia da vida', ele implementou um sistema de educação secular e fechou todas as instituições que tinham por base a lei canônica muçulmana. No governo de Atatürk, o secularismo tornou-se uma outra forma de fé dogmática."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 112-113.
Sobre o Ocidentalismo
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
"O ocidentalismo pode ser visto como a expressão de um amargo ressentimento contra uma agressiva ostentação de superioridade por parte do Ocidente, com base na alegada superioridade da razão. Ainda mais corrosivo que o imperialismo militar é o imperialismo da mente imposto pela difusão da crença ocidental no cientificismo: a fé de que a ciência é o único meio de obtenção do conhecimento.
O fato de o cientificismo ter sido avidamente incorporado por reformadores radicais no mundo não-ocidental apenas aguça a hostilidade dos nativistas. Pois o inimigo imediato dos ocidentalistas, como vimos o exemplo dos islamistas revolucionários, nem sempre é o Ocidente propriamente dito, mas principalmente os ocidentalizados em suas próprias sociedades. Os modernizadores chineses do início do século XX exigiam reformas em nome da ciências e da democracia. Muitos eram iconoclastas extremistas que viam a total ocidentalização como a única solução para a China. Seus adversários intelectuais frequentemente invocavam o espírito chinês como um antídoto contra essa doutrina."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 95-96.
Um Perfil dos Tokkotai
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
"O mais terrível e certamente o mais conhecido símbolo de sacrifício humano nos conflitos armados do século XX é o piloto kamikaze, arremessando-se para a morte a quase mil quilômetros por hora sobre o convés de uma embarcação inimiga. Muitos não atingiram os alvos, e explodiram ou despedaçaram-se no mar. Uma forma alternativa de morte violenta para os kamikazes, ou Tokkotai (Forças Especiais de Ataque), como os japoneses mais usualmente os denominam, era colocar-se num caixão de aço no formato de um charuto e lançar-se de um submarino como um torpedo-humano. (...)
A maioria dos voluntários Tokkotai (sob variados níveis de pressão) era formada por estudantes provenientes dos departamentos de humanidades das melhores universidades. Estudantes de ciências eram considerados menos descartáveis. As cartas revelam que todos leram muito, frequentemente em pelo menos três línguas. Na filosofia alemã, os autores favoritos eram Nietzsche, Hegel, Fichte e Kant. Na literatura francesa: Gide, Romain Rolland, Balzac, Maupassant. Na alemã: Thomas Mann, Schiller, Goethe, Hesse. Muitos refletiam sobre o suicídio de Sócrates e sobre os escritos de Kierkegaard acerca do desespero. Poucos eram cristãos praticantes e um número surpreendentemente tinha uma visão marxista da política e da economia."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 63-64.
Materialismo Ocidental x Alma Asiática
sábado, 14 de novembro de 2020
"Jamais uma grande nação empreendera transformação tão radical quanto o Japão entre as décadas de 1850 e 1910. O principal slogan da era Meiji (1868-1912) era Brunmei Kaika, ou Civilização e Iluminismo, isto é, civilização ocidental e iluminismo. Tudo o que vinha do Ocidente, da ciência natural ao realismo literário, foi vorazmente absorvido pelos intelectuais japoneses. O vestuário ocidental, a lei constitucional prussiana, as estratégias navais britânicas, a filosofia alemã, o cinema americano, a arquitetura francesa e muito, muito mais foi incorporado e adaptado.
A transformação rendeu frutos generosos. O Japão permaneceu imune à colonização e tornou-se rapidamente uma grande potência, a qual, em 1905, conseguiu derrotar a Rússia numa guerra integralmente moderna. De fato, Tolstoi descreveu a vitória japonesa como um triunfo do materialismo ocidental sobre a alma asiática da Rússia."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 9-10.
Leituras do 4º Trimestre de 2020
domingo, 1 de novembro de 2020
Neste quarto trimestre, fiz as seguintes leituras (post em construção até o fim do trimestre):
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução de Luciano Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.
HARARI, Yuval Noah. 21 Lições para o Século 21. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
JESUS, Tomaz Amaral de. Antes que seja tarde. Linhares, ES: SGuerra Design, 2020.
MORIN, Edgar & VIVERET, Patrick. Como viver em tempo de crise? Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
OZ, Amós. Como Curar um Fanático - Israel e Palestina: entre o certo e o certo. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
PIPES, Richard. História Concisa da Revolução Russa. Tradução de T. Reis. Rio de Janeiro: BestBolso, 2018.