“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«A Civilização do Ocidente Medieval»

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

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Ditadores: Mussolini e Hitler

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Sobre a Resiliência

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

«Desconstruindo Paulo Freire»

terça-feira, 27 de novembro de 2018

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O Ocaso da Monarquia Brasileira

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A Escola da Jaqueta Azul, óleo sobre tela de John Kemp (1833-1923).

Baixe aqui o artigo O Ateneu e o Ocaso da Monarquia brasileira.

«Encyclopedia of Invasions»

domingo, 25 de novembro de 2018

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A Amante... A Estranha Verdade...

sábado, 24 de novembro de 2018

Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade. 

Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, a convidou a viver com nossa família. 

A estranha aceitou e, desde então, tem estado conosco. 

Conheça o restante dessa história no Jornal da Cidade.  

Racismo nas Escolas Norte-Americanas

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Ruby Nell Bridges Hall, em 1960, sendo escoltada por delegados federais até a Escola Elementar William Frantz. Ruby foi a primeira criança negra a estudar numa escola primária caucasiana, em Lousiana, Estados Unidos. 

"Durante anos, por todo o Sul, os defensores dos direitos civis haviam sido encarcerados, espancados, mortos, suas casas sofreram atentados à bomba, as igrejas onde se reuniam foram completamente queimadas. Nove anos antes, em 1954, a Suprema Corte havia decidido que a segregação em escolas públicas era inconstitucional, que era uma afronta à nação, já que se constituíra a si mesma, que teria de acabar, com juízes federais aos poucos ordenando que a decisão fosse tirada do papel e aplicada onde as pessoas efetivamente viviam, distrito por distrito, ano após ano, as crianças negras tentando entrar em escolas anteriormente só para brancos eram agora empurradas, cuspidas e xingadas por multidões cruéis que as teriam matado se a Guarda Nacional não estivesse ao seu lado." 

MARCUS, Greil. Like a Rolling Stone: Bob Dylan na encruzilhada. Tradução de Celso Mauro Parciornik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 28-29.

O Boi e a Bezerra

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Ao ver um boi trabalhando, uma bezerra pôs-se a lamentar a fadiga que ele experimentava. Mas, quando chegou o dia de uma festa religiosa, libertaram o boi e dominaram a bezerra para ser degolada. Ao ver isso, o boi sorriu e lhe disse: "É por isso que você não trabalhava, bezerra, pois seu futuro era ser imolada muito cedo." 

Moral: A fábula mostra que o perigo ronda o desocupado.

ESOPO. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste C. Dezotti e ilustrações de Eduardo Berliner. 3ª reimpressão. São Paulo: Cosac Naify, 2016, p. 65.

«Diários da Descoberta da América»

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

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Guerras entre Estados Unidos e México

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Em pouquíssimos anos, após a Revolução Americana (1775-1783), a nação se expandiu pelo continente até se estender do Atlântico ao Pacífico. Mais ao sul, um jovem chamado Stephen Austin cavalgou para a parte do México espanhol conhecida como Texas, onde fundou sua colônia em 1821, mesmo ano em que o México venceu sua guerra de independência contra a Espanha. 

No mundo do oeste, povoado por caçadores, colonos, índios e todo o tipo de gente, os produtos comerciais muitas vezes viajavam à frente das pessoas, de modo que franceses vendiam armas para os índios (embora os espanhóis não) e germes viajaram para o norte a partir do Novo México espanhol. Para as autoridades de Washington, a colônia de Austin estava a 2,6 mil quilômetros de distância, enquanto que, para as autoridades na Cidade do México, o Texas parecia muito distante. Ainda assim, em março de 1836, as duas fronteiras se confrontaram e entraram em guerra. Nessa época, mais de 40 mil norte-americanos viviam na região, dez vezes mais que os mexicanos. 

Esse conflito culminou na batalha de San Jacinto, quando Sam Houston, ex-governador do Tenessee, derrotou o general Antonio López de Santa Anna e o forçou a conceder independência ao Texas. Dez anos depois, o Congresso dos Estados Unidos finalmente concordou em anexar o Texas e torná-lo um Estado. Enquanto isso, os norte-americanos estavam descobrindo a costa do Pacífico e suas fazenas mexicanas. Em meados de 1840, todos os verões, uma nova estrada de carroças conhecida como Overland Trail trazia milhares de pessoas para Oregon (governado em conjunto pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos) e a Califórnia. 

Em 1844, Samuel Morse aperfeiçoou o telégrafo. Nesse mesmo ano, James K. Polk foi eleito presidente. Suas pretensões sobre o Oregon abriram uma crise com o governo britânico, mas a disputa foi resolvida diplomaticamente. Como ele também pretendia anexar a Califórnia, ordenou ao general Zachary Taylor que conduzisse tropas norte-americanas até o Rio Grande, terra reivindicada tato pelo México quanto pelos Estados Unidos. Em abril de 1846, as tropas de Taylor foram atacadas pelas tropas mexicanas e a Guerra Mexicano-Americana começou

Como as linhas de telégrafo ainda não haviam sido levadas para além das Montanhas Rochosas, passaram-se meses até que alguém na Califórnia soubesse da guerra. Ainda assim, um grupo de norte-americanos de lá, liderados por John Frémont, declarou a independência da Califórnia. A marinha americana chegou à região, e reivindicou a Califórnia para os Estados Unidos. No México, em Buena Vista, o general Taylor impôs nova derrota a Santa Anna. Quando outra força americana conquistou a Cidade do México, o México se rendeu. No fim da guerra, os Estados Unidos ganharam mais de meio milhão de quilômetros quadrados de novo território (veja o mapa acima). 

Nem todos estavam satisfeitos. Henry David Thoreau, um transcendentalista, escreveu em 1849 A desobediência civil, ensaio que defende opor-se a guerras que sejam moralmente erradas. Outro oponente da guerra, Ralph Waldo Emerson, previu: "Os Estados Unidos conquistarão o México, mas será como o homem que toma o arsênico que o mata. O México nos envenenará." Com isso ele queria dizer que o debate sobre permitir a escravidão nos novos territórios envenenaria a União, a destruiria, a dividiria. A história provaria que ele estava com a razão.
          
DAVIDSON, James West. Uma breve história dos Estados Unidos. Tradução de Janaína Marcoantonio. Porto Alegre, RS: LP&M, 2016, p. 138-148.

Os 40 Anos do Massacre de Jonestown

domingo, 18 de novembro de 2018

Há exatos 40 anos, Jim Jones, líder e fundador da seita Templo do Povo, induziu 908 seguidores a cometerem suicídio em Jonestown, na selva da Guiana. A seguir, o próprio Jim Jones se matou. Até 11 de setembro de 2001, nunca tantos civis norte-americanos haviam morrido de uma só vez (sem contar as vítimas dos desastres naturais). Além de entrar para a história das seitas apocalípticas, o trágico episódio diz muito sobre o contexto da Guerra Fria e a luta pelos direitos civis à época, nos Estados Unidos. 

Conheça essa história a partir da excelente reportagem do Observador

A Seita dos Saduceus

sábado, 17 de novembro de 2018

Do grego Saddoukaioi, transliteração do heb. Tsaduqim, tanto do verbo tsadaq, "ser justo" ou de Zadoque, um sumo sacerdote do tempo de Davi (2 Sm 8:17; 15:24), de quem sumos sacerdotes posteriores afirmaram descender. Partido minoritário religioso-político da época do Novo Testamento (NT) que representava a ala rica, aristocrática, liberal do judaísmo e voltada para as questões seculares. 

Praticamente nada se sabe de sua origem ou de sua história primitiva - as fontes sobre eles são essencialmente os escritos do NT e de Josefo. Na época dos macabeus, Alexandre Janeu (103-76/75 a.C.), filho de João Hircano I, favoreceu os saduceus, mas se desentendeu com eles perto do fim de sua vida, e no leito de morte aconselhou sua esposa a favorecer os fariseus, sendo atendido por ela. Após sua morte, os saduceus apoiaram seu filho Aristóbulo II, apoiando sua reivindicação contra João Hircano II, seu irmão. Mais tarde, os saduceus se aliaram ao partido herodiano e colaboraram com os romanos. 

Os saduceus se preocupavam bastante com o destino da nação, razão pela qual se dispuseram a aceitar ofícios públicos. Desta forma, eles exerceram uma influência muito maior do que a reduzida quantidade de membros da seita em princípio poderia garantir. Sob o domínio dos romanos e dos herodianos, o direcionamento das questões políticas dos saduceus estava, em grande parte, nas mãos dos saduceus. 

Como uma seita religiosa, os saduceus se gloriavam por sua interpretação rigorosa da "Lei", os cinco livros de Moisés, que aceitavam como inspirados, e rejeitavam qualquer ensinamento que não lhes parecesse ter o explícito apoio da Lei. Sem dúvida, isso deve ter motivado a acusação de Cristo de que erravam não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus (Mt 22:29). Ao negarem a ressurreição, a vida eterna e o juízo futuro (Mt 22:23; At 23:8; Antiguidades, xviii.1.4; Guerra dos Judeus, ii.8.14), tornaram dominantes os interesses seculares e materiais. Para eles, Deus dava pouca atenção à humanidade e não tinha muito interesse em suas questões. Assim, para os saduceus, o ser humano era o juiz do próprio destino, e eles não acreditavam na existência de anjos ou de espíritos. 

João Batista censurou severamente os saduceus, bem como os fariseus (Mt 3:7). Eles se uniram aos fariseus quando exigiram de Cristo um sinal do céu (Mt 16:1-4). Jesus advertiu Seus discípulos contra ambos (v. 6-12). Após a ascensão, os saduceus se uniram aos sacerdotes para perseguir Pedro e João (At 4:1-3). Tanto fariseus como saduceus estavam presentes no julgamento de Paulo perante o Sinédrio, e o apóstolo, notando isso, suscitou um debate entre eles (At 23:6-10). Um sumo sacerdote saduceu era líder do Sinédrio que foi responsável pela morte de Tiago, irmão de Jesus, e de outros cristãos. 

Com a destruição do templo e o fim do estado judaico em 70 d.C., os saduceus desapareceram como partido.         

Adaptado de Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 1190-1191.

O Pastor e os Lobinhos

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Um pastor encontrou filhotes de lobo e se pôs a cuidar deles com muito zelo, presumindo que, quando adultos, não só iriam vigiar suas ovelhas como também roubar outras e trazê-las para ele. Os filhotes cresceram, mas, assim que tiveram uma brecha, a primeira coisa que fizeram foi dizimar o rebanho do pastor. Ele disse, gemendo: "Mas é bem feito para mim! Por que é que fui salvar esses bichos, quando eram novinhos, se era preciso matá-los quando adultos?" 

Moral: Assim, as pessoas que salvam os malvados não percebem que serão as primeiras vítimas da maldade que elas próprias fortaleceram.

ESOPO. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste C. Dezotti e ilustrações de Eduardo Berliner. 3ª reimpressão. São Paulo: Cosac Naify, 2016, p. 413.

Os Pregadores de Fins da Idade Média

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Estátua de Girolamo Savonarola (1452-1498) em Ferrara, Itália. Savonarola foi um famoso padre dominicano e pregador na Florença renascentista. 

"Para a Igreja, era perigoso deixar que a santidade se desenvolvesse fora dela e mesmo, por vezes, contra ela, por tanto criticar as suas imperfeições. Assim, a partir de finais do século XIV, mas sobretudo no século XV, assiste-se a uma reconquista da opinião pública por parte dos elementos mais dinâmicos do clero, no mesmo terreno em que se tinham colocado os profetas e visionários: o terreno da palavra tornada valor fundamental numa sociedade onde as massas ganhavam uma importância crescente, embora permanecessem em larga medida excluídas do mundo da escrita e da leitura. Quando se examina a lista dos principais santos de finais da Idade Média, não se pode deixar de ficar surpreendido pelo lugar que nela ocupam os grandes pregadores da época (...), todos provenientes das ordens mendicantes e ligados ao movimento da Observância que, depois das crises do século XIV, tinha feito regressar essas ordens à integridade primitiva. (...) No século XV, o fenômeno assume uma amplitude sem precedentes: em todo o Ocidente, os únicos religiosos, à exceção dos eremitas, que suscitaram o entusiasmo das multidões são pregadores que consagraram a sua vida e as suas forças ao ministério da palavra. Percorrendo o Ocidente, desde Aragão até à Bretanha e desde a Itália até à Polônia e à Croácia, esses religiosos distinguiam-se claramente do clero a que os fiéis estavam habituados: iam de cidade em cidade, viviam na maior pobreza, mas tinham tempo para se fazer conhecer pelos seus auditores, dado que, muitas vezes, lhes dedicavam um ciclo completo de sermões (...). As suas intervenções assemelhavam-se mais a grandes espetáculos organizados, verdadeiros meetings ou sessões de happening de que eram, simultaneamente, organizadores e vedetas, do que as prédicas. Falando, em geral, ao ar livre, de um palco de madeira construído para o efeito, eram acompanhados por confessores que tinham o poder de absolver os pecados reservados aos bispos e ao papa e, por vezes, também por grupos de penitentes - os convertidos da véspera que cumpriam uma espécie de peregrinação expiatória -, que se autoflagelavam ou se entregavam a outras práticas de devoção antes de o orador tomar a palavra. Este falava, em geral, das grandes verdades necessárias à salvação, mas mais sob um ponto de vista moral do que dogmático. Preocupado em interessar e comover um grande número de ouvintes, procurava, acima de tudo, levá-los a tomar consciência dos seus pecados e a refletir neles. Se o conseguia, o orador exigia que lhes fossem dados sinais tangíveis da revolução espiritual que se tinha verificado por sua influência e o sermão concluía-se, frequentemente, com um auto-de-fé, durante o qual eram queimados os jogos de azar e os adornos femininos supérfluos."
  
VAUCHEZ, André. In: O Santo. LE GOFF, Jacques (dir.). O Homem Medieval. Tradução de Maria Vilar de Figueiredo. Lisboa: Presença, 1989, p. 222.

Maximiliano do México

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A execução do imperador Maximiliano do México (1868), óleo sobre tela de Édouard Manet (1832-1883). 

Em 1863, Napoleão III, imperador da França, ordenou a invasão do México. O empreendimento ocorreu em consórcio com a Espanha e a Inglaterra, e o objetivo foi o de cobrar dívidas não saldadas pelo governo de Benito Juárez (1858-1872). No ano seguinte, Napoleão III enviou ao México o arquiduque Maximiliano de Habsburgo, para ser o imperador do país. Irmão do imperador austro-húngaro Francisco José I, Maximiliano era o primogênito na linhagem dinástica e congratulou-se com a oportunidade de coroação como monarca de outro império. 

Entretanto, o imperador importado pelo México frustrou as expectativas dos diplomatas do Partido Conservador. Maximiliano buscou implementar reformas que protegessem os súditos indígenas da ganância dos antigos senhores; sua situação ficou mais delicada quando optou por permanecer no México mesmo após a retirada das tropas francesas, que lhe davam suporte. Terminou refém dos liberais, os quais jamais reconheceram a soberania do império. Foi fuzilado por ordem de Benito Juárez, nos arredores da cidade de Santiago de Querétaro, em junho de 1867. 

A derrota de Maximiliano representou a vitória das forças liberais. Benito Juárez restabeleceu-se na Cidade do México e o país ingressou em uma nova era de reformas modernizadoras.   

Bibliografia consultada: PELLEGRINO, Gabriela & PRADO, Maria Ligia. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2016, p. 62.

Geoffrey R. Elton (1921-1994)

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Geoffrey Rudolph Elton, filho de Eva Dorothea Sommer e do historiador da Antiguidade Victor Ehrenberg, graduou-se em história antiga na Universidade de Londres. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Elton alistou-se no Exército britânico. Após a guerra, ele iniciou um doutorado em história inglesa pela mesma universidade onde havia se graduado. 

Sob a orientação de J. E. Neale, ele pesquisou documentos sobre a administração de Thomas Cromwell, ministro do rei Henrique VIII de 1531 até sua execução em 1540. A tese resultante desse estudo continha ideias que fundamentariam todo o seu trabalho histórico subsequente. Após obter o título de doutor, Elton lecionou brevemente na Universidade de Glasgow e de lá seguiu para a Universidade de Cambridge. Nesta universidade ele trabalhou até sua aposentadoria, em 1988. 

O cerne do trabalho histórico de Elton é a ideia de que Thomas Cromwell promoveu uma "revolução Tudor no governo". O período Tudor, segundo o historiador, não teria sido despótico. A ordem e a paz pareciam mais importante nessa época do que os princípios e os direitos. Assim, tirando proveito do plano do rei de romper com a Igreja Católica, Cromwell promoveu tantas reformas expressivas que, no início do século XVII, a Inglaterra já era administrada de forma moderna. Essa tese foi radical, uma vez que poucos historiadores haviam identificado as raízes do governo moderno na década de 1530 e aqueles que o fizeram consideraram Henrique VIII o autor das reformas. 

Elton apresentou mais detalhes sobre sua tese em artigos e em dois livros, England under the Tudors (1956) e The Tudor Constitution (1960). Assim, ele logo convenceu os eruditos e o público em geral de que a "revolução" de Cromwell foi o evento britânico mais importante do século XVI. No entanto, dentre os críticos de sua obra, Penry Williams e G. L. Harris afirmaram que ele havia negligenciado precedentes medievais dos planos de ação de Cromwell. Para Elton, as reformas de Cromwell podem não ter sido originais, mas ainda assim foram significativas. 

Embora a essência da tese de Elton tenha permanecido a mesma, o retrato de Cromwell elaborado por ele mudou ligeiramente. Em 1986, seis pesquisadores (dentre eles, ex-alunos de Elton) publicaram Revolution reassessed: Revisions in the History of Tudor Government and Administration. A pesquisa de Elton sobre a corte, o Conselho Privado e os recursos financeiros do governo foram colocados em dúvida, bem como a importância que ele atribui a Cromwell. Sem se dobrar às críticas, Elton sustentou até a morte que as reformas financeiras da década de 1530 anunciaram o começo do governo moderno. 

Elton era duro consigo mesmo e com aqueles cujas ideias eram diferentes das dele. É a partir de suas investidas agressivas contra Christopher Hill, Adorno, Hayden White, E. H. Carr, Foucault, Arnold Toynbee e muitos outros que obtemos uma ideia mais clara sobre como ele entendia a natureza da história. 

O estudo da história, segundo Elton, deve ser reconstruído por pelo menos sete grupos de pessoas: 

1º) Os amadores. Essas pessoas tendem ao sentimentalismo e veem o excepcional no que é comum e vice-versa. Além disso, não estão aptas a formular perguntas significativas sobre o passado e a julgá-lo de acordo com as condições próprias do passado. 

2º) Aqueles que adotam ideias e métodos de disciplinas afins, sem seguir uma postura crítica. Elton não se opunha à tentativa de explorar novos métodos de investigação da história, mas alertava que quando o método obtido externamente se tornava uma doutrina, isso estupidifica o estudo da história, que se resume a um repositório de exemplos selecionados ou distorcidos para apoiar esse método. 

3º) Aqueles que buscam leis gerais no passado na esperança de conseguir prever o futuro. Os historiadores fazem generalizações, sem as quais não seria possível descrever para os outros o passado. Porém, os eventos e as pessoas são individuais e particulares. Assim, as tentativas de identificar leis serão frustradas, uma vez que a história demonstra quão imprevisíveis podem ser os pensamentos e os atos dos seres humanos.

4º) Há aqueles que "buscam a salvação" em estruturas teóricas. Essas teorias dizem mais sobre o presente do que sobre o passado, e aqueles que se deixam seduzir por elas fazem perguntas que sempre apoiam a teoria, e todas as respostas são predeterminadas por isso. Nesse quesito, historiadores marxistas foram nominalmente criticados por Elton, além de filósofos e teóricos que escrevem presunçosamente sobre a história sem nunca ter empreendido qualquer investigação histórica.

5º) Os que escrevem uma história "centrada no presente". Esse tipo de historiador seleciona no passado aqueles detalhes que se encaixam com as preocupações do presente. Tratar o passado dessa forma é "suspeito e perigoso". Se se pretende entender o passado, é necessário fazê-lo de acordo com as condições próprias do passado, de "dentro" para fora.  

6º) Os que usam a história para defender mitos. Embora esses mitos possam nos confortar, os historiadores devem perseguir inflexivelmente a verdade, por mais desconfortável que isso seja.  

7º) Finalmente, há aqueles que "absorveram a convicção visivelmente difundida de que determinados excessos correntes entre os estudantes de literatura acabam impossibilitando todas as formas de estudo objetivo e, portanto, inabilitam o historiador de algum dia alcançar o que há um bom tempo ele já havia estabelecido como sua ambição." 

Assim, Elton se opôs energicamente ao relativismo e, embora admitisse que o historiador não pudesse se autolibertar totalmente de pressuposições e ideias preconcebidas, ainda assim pensou que o conhecimento objetivo era possível. Para tal, os historiadores profissionais devem se basear no estudo meticuloso das fontes históricas. Para que esse estudo seja bem-sucedido, em primeiro lugar eles devem se certificar de que as perguntas que eles levantam em relação a uma evidência não tendem a uma resposta que eles já têm em mente. 

Depois, os historiadores devem conservar na memória que no passado as pessoas não possuíam o benefício da percepção tardia. Em terceiro lugar, os historiadores devem se manter imparciais e conceber a possibilidade de empreender estudos adicionais para modificar suas ideias. Por fim, os historiadores tentar apresentar suas ideias aos outros de uma maneira inteligível. Esses desígnios e princípios devem ser inculcados nos estudantes de história. Atividades que exigem a solução de problemas, raciocínio, muita leitura e avaliação de evidências são o meio para aplicar tudo isso.        

Adaptado de HUGHES-WARRINGTON, Marnie. 50 Grandes Pensadores da História. Tradução de Beth Honorato. São Paulo: Contexto, 2002, p. 101-109.

Os Atos Institucionais do Regime Militar

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Embora o poder real se deslocasse para outras esferas e os princípios básicos da democracia fossem violados durante o regime militar brasileiro (1964-1985), o governo quase nunca assumiu expressamente sua feição autoritária. Não se configurou uma ditadura pessoal. Até 1967, a Constituição de 1946 foi mantida, embora com modificações e, exceto por breves períodos, o Congresso continuou funcionando e as normas que atingiam os direitos dos cidadãos foram apresentadas como temporárias. A fim de tomarem decisões que se sobrepunham à ordem constitucional, foi lançados decretos denominados eufemisticamente "Atos Institucionais". 

O Ato Institucional Nº 1 (AI-1), assinado no dia 9 de abril de 1964, buscava reforçar o Poder Executivo e reduzir o campo de ação do Congresso. Ele suspendeu as imunidades parlamentares e autorizou o comando supremo da revolução a cassar mandatos em qualquer nível, além de suspender direitos políticos pelo prazo de dez anos. O ato criou também as bases para a instalação dos Inquéritos Policial-Militares (IPMs), mas o habeas corpus foi mantido e a imprensa continuou como relativamente livre. Finalmente, estabeleceu a eleição de um novo presidente da República, por votação indireta do Congresso Nacional. Em 15 de abril de 1964, o general Humberto de Alencar Castelo Branco foi eleito presidente, com mandato até 31 de janeiro de 1966. 

A fim de levar adiante a luta contra o comunismo e a corrupção, Castelo Branco baixou o AI-2, em 17 de outubro de 1965. Estabeleceu-se em definitivo que a eleição para presidente e vice-presidente da República seria realizada pela maioria absoluta do Congresso Nacional, em sessão pública e votação nominal. O governo passou a legislar sobre assuntos relevantes através de decretos-leis e os partidos políticos existentes foram extintos. A legislação partidária forçou na prática a organização de apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que reunia os partidários do governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia a oposição. Em fevereiro de 1966, o AI-3 estabeleceu o princípio da eleição indireta dos governadores dos Estados através das respectivas Assembleias estaduais. 

Em outubro de 1966, o Congresso foi fechado por um mês e reconvocado pelo AI-4 para se reunir extraordinariamente a fim de aprovar um novo texto constitucional, a Constituição aprovada em janeiro de 1967. Em março desse ano, tomaram posse como presidente e vice-presidente, o general Artur da Costa e Silva e o civil udenista Pedro Aleixo. 

O ano de 1968 foi repleto de agitações nos Estados Unidos, na França e mesmo na "Cortina de Ferro" (Tchecoslováquia). No fim de março, a morte do estudante Edson Luís catalisou uma série de manifestações no Rio de Janeiro. O ponto alto da convergência de forças que se empenhavam na luta pela democratização foi a passeata dos 100 mil, realizada em 25 de junho de 1968. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), ocorreram greves operárias agressivas. Grupos da luta armada intensificaram suas ações. Tudo isso levou a linha-dura a reforçar sua convicção de que era preciso criar novos instrumentos para eliminar os subversivos (termo amplamente utilizados nos meios militares para designar, de forma genérica, os opositores do regime). 

O pretexto foi um discurso do deputado Márcio Moreira Alves, eleito pelo MDB da Guanabara. Ele concitava a população a boicotar a parada militar de 7 de setembro, além de sugerir às mulheres que não namorassem oficiais que silenciassem diante da repressão ou que participassem de atos de violência. O ministros militares requereram ao Supremo Tribunal Federal (STF) que abrisse um processo criminal contra o deputado. Para que isso ocorresse, o Congresso deveria suspender suas imunidades, mas, por 216 votos contra 141, isso foi negado. Menos de 24h depois, Costa e Silva baixou o AI-5 e fechou o Congresso.   

Como fica claro na charge do Ziraldo, produzida no final do regime militar, após o AI-5, qualquer pessoa poderia ser suspeita de representar uma ameaça ao regime. Frequentemente, o acusado tinha de provar sua inocência aos acusadores - pelo AI-5, ficou suspensa a garantia de habeas corpus aos acusados de crimes contra a segurança nacional e das infrações contra a ordem econômica e social e a economia popular. 

A partir do Ai-5, abriu-se um novo ciclo de cassação de mandatos, perda de direitos políticos e expurgos do funcionalismo, abrangendo muitos professores universitários. Estabeleceu-se na prática a censura aos meios de comunicação e o núcleo militar do poder concentrou-se naquelas figuras que estavam no comando dos órgãos de vigilância e repressão.   

Por falar em censura, indico uma breve e interessante entrevista do Roberto Civita (1936-2013), antigo diretor editorial do Grupo Abril. Ele conta a história da capa da revista Veja na semana em que foi baixado o AI-5. Assista-a aqui.

Bibliografia consultada: FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p. 397-410.

Prestígio do Professor em Baixa

domingo, 11 de novembro de 2018

Segundo um estudo publicado na última quinta-feira (08/11), o Brasil é o pior de 35 países no quesito prestígio do professor. Apenas 9% dos brasileiros acredita que os alunos respeitam os professores em sala de aula e 88% dos entrevistados consideram o magistério uma profissão de "baixo status", índice apenas superado pelo de Israel, onde 90% têm essa percepção (aliás, Israel, o segundo país onde os professores são menos valorizados, foi a minha grande surpresa). O desempenho dos alunos está ligado à valorização e à remuneração dos docentes, razão pela qual os governos e a sociedade precisam estar mais atentos a essa questão caso queiram uma evolução do desempenho dos alunos no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês). A fonte é o G1

Como tenho dito, todos têm a sua parte no combate a esse problema. É importante frisar essa obviedade, uma vez que normalmente o brasileiro é ágil para criticar o Estado, mas se "esquece" das suas responsabilidades. Voltando ao assunto, como recuperar o prestígio do professor e, consequentemente, melhorar o desempenho dos alunos brasileiros no PISA? Em primeiro lugar, aos pais cabe educar seus filhos e apoiar os professores, responsáveis pela instrução dos mesmos. Desde ensinar-lhes os valores e os princípios básicos da educação, a supervisionar a realização das tarefas de casa, comparecer a reuniões de pais e mestres e investir na aquisição de livros e em cursos extracurriculares, o papel dos progenitores é fundamental. Difícil? Sem dúvida. Mas como certa vez disse o falecido Içami Tiba, "a educação não pode ser delgada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre." 

Aos alunos, cabe compreender que os principais beneficiados pela educação são eles próprios. Sem humildade, disciplina e leitura não há aprendizado - tudo o que, brilhantemente, Hugo de São Vitor já havia prescrito no século XII (leia aqui). Quanto a nós, professores, cabe uma dedicação incansável ao papel de instruir, independentemente se os outros valorizam ou não a educação. É triste, mas muitos que ocupam a cátedra, com a escusa de que são desvalorizados, não agem como profissionais. Ainda que nos limites de nossas forças, devemos fazer o possível para espalhar o conhecimento, caso nossa intenção seja a de seguir lecionando. Afinal, ainda que sejam dois ou três numa sala de aula, sempre existirão interessados em vencer na vida. Lembro-me que, numa de suas palestras, o historiador Leandro Karnal disse que a maior "vingança" que um professor pode promover contra o sistema é preparar-se devidamente para dar uma boa aula. Fica a reflexão.   

Finalmente, ao administradores públicos é dever valorizar, em todos os sentidos, a carreira do magistério. Os leitores deste blog vão se lembrar como, tempos atrás, uma série de propagandas divulgadas na mídia incentivavam os alunos a respeitarem seus mestres. Aí está uma iniciativa relativamente barata e mais que louvável. Enfim, nada que proponho aqui é utópico. De resto, todo professor por paixão sabe que magistério e otimismo são sinônimos.   

Slides do Dr. Rodrigo Silva

sábado, 10 de novembro de 2018

Assim que os ficheiros forem eliminados desse link, só poderão ser baixados separadamente. São eles: 

Arqueologia bíblica do I Templo 

Faz sentido crer na Bíblia?

A ressurreição de Cristo

Rodrigo Pereira da Silva é graduado em Teologia e Filosofia pelo IAENE e pelo Centro Universitário Assunção, respectivamente, mestre em Teologia histórica pela FAJE, doutor em Teologia bíblica pela PUC-SP e doutor em Arqueologia clássica pela USP. É professor de Teologia do UNASP-EC e apresentador do documentário semanal Evidências, transmitido pela Tv Novo Tempo. 

«História das Guerras»

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

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A Canção de Rolando

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Carlos Magno lamenta ao encontrar o corpo de Rolando. Miniatura anônima do século XIV.

Uma das manifestações culturais mais comuns da Idade Média foram as canções de gesta, poemas épicos que narravam grandes feitos. As lendas criadas em torno de Carlos Magno e seus cavaleiros foram temas de muitas dessas canções. 

A canção de Rolando é um exemplo desse tipo de literatura. Ela faz parte de A vida de Carlos Magno, obra escrita por Eginhardo (770-814) pouco antes da metade do século IX. O poema descreve a derrota dos francos para os muçulmanos na Batalha de Roncevaux, ocorrida na região dos Pireneus (montanhas na fronteira da França com a Espanha), em 778. 

No poema, Carlos Magno recebe a visita de emissários do rei muçulmano Marsílio, cujo exército ocupava Saragoza, na atual Espanha. O objetivo do encontro é a proposta de um acordo de paz. Rolando, sobrinho do rei, pede cautela, mas Carlos Magno, influenciado por Ganelão, padrasto de Rolando, aceita o trato. Ganelão é indicado por Rolando, seu enteado, para levar a notícia ao rei muçulmano. 

Sentindo-se ameaçado, Ganelão resolve trair Rolando e propõe um acordo com o rei muçulmano Marsílio, que, segundo o plano, faria um pacto de paz com Carlos Magno, mas depois da retirada de grande parte das forças francas, ele atacaria a retaguarda do exército. O ataque resultou em combates violentos e, antes do retorno das tropas de Carlos Magno, todos os soldados francos foram mortos, entre eles Rolando. 

Não se sabe se Rolando de fato existiu. Alguns fatos históricos a que A canção de Rolando se refere foram adaptados. Por exemplo, a Batalha de Roncevaux foi travada contra os bascos e não contra os muçulmanos, como descrito na canção. Além disso, Carlos Magno não conquistou a região de Saragoza como parte de sua vingança, conforme afirma o poeta no final da narrativa.

Essas alterações provavelmente estão relacionadas ao contexto histórico da época em que A canção de Rolando foi escrita - período do início das lutas entre cristãos e muçulmanos, no tempo do movimento cruzadista. 

Na canção, as relações entre nobres cavaleiros, tipicamente feudais, são exaltadas. Tais relações não existiam na época de Carlos Magno. Percebe-se, portanto, que o poema fazia parte do imaginário mítico medieval e foi produzido para celebrar o heroísmo de Carlos Magno e exaltar o povo francês. 

Obediência ao soberano, fidelidade, coragem, bravura e apelo à luta contra os muçulmanos marcam a A canção de Rolando. Com exceção de Ganelão, símbolo da infidelidade, os nobres são representados como modelos de moralidade e honra dos guerreiros, valores que enalteciam a imagem da nobreza e a preservação da ordem estabelecida durante a Idade Média.     

Adaptado de VICENTINO, Cláudio & VICENTINO, José Bruno. Olhares da História: Brasil e Mundo. Colaboração de Severio Lavorato Júnior. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2016,  p. 232-233.

Historiadores X Youtubers

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Capa sensacionalista do vídeo do Canal Nostalgia sobre a ditadura militar, disponível AQUI


Tempos atrás, após ser "provocado" (no bom sentido) por um amigo, fiz um post intitulado Historiadores X Jornalistas. Na semana passada, uma aluna do Ensino Médio me questionou sobre o vídeo apresentado pelo Felipe Castanhari sobre o regime militar (link acima). Com algumas adaptações, a resposta é a que se segue. Lembre-se que os mesmos conselhos e orientações sobre esse vídeo se aplicam a outros do gênero (e eu não tenho condições de avaliar a todos que estão disponíveis na internet). Portanto, mais do que uma análise preliminar desse vídeo, espero que esse texto sirva de alerta a todos que buscam informações históricas por parte de youtubers

*** 

Assisti ao vídeo (do qual já sabia da existência, mas ainda não havia visualizado). Conheci o Canal Nostalgia há um bom tempo, e acho interessante a apresentação que faz de temas do passado. Como no caso de representações cinematográficas e de livros escritos por jornalistas, a maior contribuição dos youtubers ao conhecimento histórico talvez seja a de aguçar a curiosidade das pessoas para os temas que apresentam. No entanto, devido à falta de tempo, nunca mais visitei esse ou outros canais do gênero.

Em primeiro lugar, o Castanhari acertou ao fazer as advertências que constam no início do vídeo. Ele não é historiador, e o trabalho do seu canal trata-se de uma simples divulgação. A fim de se respaldar, ele buscou a consultoria de um professor de História, Caio Vinicius Godoy Mattos. Ora, não existe o currículo dele na plataforma Lattes (você pode consultar os currículos dos pesquisadores cadastrados AQUI). Assim, não sabemos qual é a formação do professor Caio Vinicius. Para uma consultoria dessa natureza, o ideal seria consultar não apenas um historiador, mas um especialista na história do regime militar brasileiro. Mais que isso, como se trata de um tema divisivo, o mais recomendado seria ouvir dois especialistas, de concepções teóricas divergentes.

Mais comprometedor que isso, no entanto, é a omissão das fontes e da bibliografia utilizadas como referência. O Castanhari poderia tê-lo feito no próprio vídeo, ou na descrição do mesmo. Assim, ficamos na dúvida sobre vários dados que ele apresenta, o que me impede de indicar o material para fins didáticos ou de pesquisa. Não pude checar todos os dados que ele apresenta; de qualquer modo, aos 34 min. e 52 s., ele diz que, apenas em 1970, foram feitas mais de 1200 denúncias de tortura. Ora, esse dado é claramente exagerado. Fui verificar os dados sobre denúncias no Governo Médici, e o que levantei foram 730 denúncias entre 1970 e 1973. Esse dado foi apresentado pela historiadora Heloísa Starling, integrante da Comissão da Verdade, em 2013. A informação consta no portal G1.

Não pretendo, com esse alerta, defender o regime militar. Como costumo dizer, se apenas uma pessoa tivesse sido torturada (sendo inocente ou não) ou presa injustamente, já seria abominável. No entanto, como historiador, preciso exigir rigor em relação a dados, conceitos e referenciais teóricos. Quando não historiadores se dedicam a explicar a História, a imprecisão muitas vezes é a nota dominante, o que compromete a credibilidade de tudo o que está sendo apresentado. Outro erro é o da parcialidade. Apesar de falar sobre os crimes de organizações de esquerda, e de fazer considerações de repúdio a qualquer ideologia autoritária ao final do vídeo, o Castanhari foi muito mais enfático em relação aos crimes cometidos pelos militares. Quando ele mencionou os trabalhos da Comissão da Verdade, faltou lembrar que ela própria foi parcial, ao não buscar elucidar os crimes cometidos por terroristas de esquerda (isso colocaria a então presidente, Dilma Rousseff, numa situação pra lá de constrangedora... já pensou se ela fosse convidada a depor sobre os crimes que cometeu nesse período?). 

Por fim, o excesso de palavrões e expressões chulas pronunciadas pelo Castanhari são de embrulhar o estômago. Até compreendo que ele não é professor, não está em sala de aula e pretende atingir um público jovem de forma descontraída. Mas, mesmo assim, ficou muito ruim. Há outras formas de se apresentar um tema tão relevante sem partir para a baixaria. Assim, tendo em vista todas essas questões, o ideal seria o Canal Nostalgia se concentrar no que faz de melhor: entretenimento. Que o Castanhari trate das tartarugas ninjas, e deixe a história com os historiadores.

«A Aventura do Livro»

domingo, 4 de novembro de 2018

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«Super Guia ENEM (2018-2019)»

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

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A Unidade da Cristandade Medieval

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

No livro A Idade Média explicada aos meus filhos, o historiador francês Jacques Le Goff (1924-2014) é entrevistado sobre vários assuntos referentes ao período medieval. Leia abaixo um trecho selecionado da entrevista e, depois, responda ao que se pede. 

Entrevistador: Na Idade Média, todos os países da Europa eram cristãos e o chefe dos cristãos era o papa, que morava em Roma. Mas será que as pessoas já tinham consciência dessa unidade? 

Le Goff: Mais ou menos a partir do século XI, os cristãos organizaram expedições em comum contra os muçulmanos, na Palestina, para reconquistar os "lugares santos" onde Cristo tinha morrido e ressuscitado. São as Cruzadas (elas aconteceram entre 1095 e 1291, data da queda da última resistência cristã na Palestina, São João D'Acre). Os homens e mulheres da Idade Média tiveram então o sentimento de pertencer a um mesmo grupo de instituições, de crenças e de hábitos: a Cristandade. Mas é muito importante compreender o seguinte: contrariamente aos dois outros "monoteísmos", judeu e muçulmano [...], os cristãos dividiam o poder exercido na terra entre, de um lado a Igreja (poder "espiritual"), e de outro os chefes leigos (o poder "temporal"); logo, entre o papa de um lado, os reis e imperadores do outro.

Entrevistador: Por que os cristãos faziam essa distinção? 

Le Goff: Ela vem do livro sagrado dos cristãos, o Evangelho, no qual Jesus prescreve que se dê a Deus aquilo que lhe é de direito, e a César, isto é, aos chefes leigos, aquilo que lhe é de direito (o governo do país, o exército, os impostos, etc.). Essa distinção vai impedir que os europeus vindos do cristianismo atribuam todos os poderes a Deus e aos clérigos e vivam naquilo que chamamos de "teocracia" (países comandados por Deus). Ela permitirá que, a partir do século XIX, sejam fundadas as democracias (poder vindo do povo). 

LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007, p. 77-78. 

1. Para Le Goff, qual era o elemento unificador dos reinos europeus? 

2. Que papel tiveram as Cruzadas na formação dessa unidade? 

3. Pensando no que disse o historiador, comente qual é a relação entre o monoteísmo cristão consolidado na Europa durante a Idade Média e o desenvolvimento das democracias modernas no século XIX. 

4. Na sua opinião, existe(m) hoje algum(alguns) elemento(s) que confira(m) unidade ao mundo ocidental? Argumente em defesa da sua ideia. 

Atividade extraída de VICENTINO, Cláudio & VICENTINO, José Bruno. Olhares da História: Brasil e Mundo. Colaboração de Severio Lavorato Júnior. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2016,  p. 222.