terça-feira, 30 de abril de 2024
Burocratas federais não têm a mesma permanência dos juízes federais nem a amplitude de autoridade decisória dos membros do Congresso, mas têm uma combinação das duas coisas que os torna um poderoso "quarto poder do governo". E um poder do governo que não se situa apenas fora da estrutura de poder estabelecida pela Constituição, mas um que com frequência combina poderes legislativos, judiciários e executivos, os quais são tão cuidadosamente separados da Constituição. Embora as políticas, as regulamentações e os gastos públicos promovidos pelas burocracias não sejam tecnicamente legislação, têm, contudo, quase sempre o mesmo efeito de uma legislação sem sofrerem as restrições constitucionais que afetam o Congresso. Expulsar um membro do Congresso requer muito menos esforço dos cidadãos comuns do que tentar reverter uma decisão da burocracia federal valendo-se dos tribunais federais.
Grandes quantidades de dinheiro à disposição dos burocratas também lhes dão grande influência sobre os especialistas em suas áreas particulares de operação. As escolhas arbitrárias da burocracia, as quais financiam certos pesquisadores e acadêmicos, não apenas permitem que eles influenciem a opinião pública em direção às políticas favorecidas pelos burocratas, mas podem ter um efeito assustador sobre especialistas que sabem que expressar visões opostas àquelas dos donos do dinheiro público, seja sobre autismo, seja sobre aquecimento global ou outros numerosos assuntos, prejudica seu próprio acesso às grandes quantias de dinheiro necessárias para se financiar pesquisas de grande porte.
Uma vez que os financiamentos para pesquisa são em geral fatores cruciais na carreira dos próprios especialistas e de seus colegas, um silêncio discreto pode ser muito útil sempre que um especialista se revela incapaz de acreditar ou de defender a posição tomada pela burocracia. Um ceticismo abertamente declarado, para não falar de uma franca oposição, não apenas reduz as chances de obter os fundos para pesquisa sobre aquele assunto em particular, mas pode afetar, ao se posicionar de forma contrária aos objetivos da burocracia, toda a instituição, que pode ser um departamento acadêmico ou uma empresa de consultoria. O especialista poderá então se tornar desagradável (com todas as consequências que isso acarreta) para a instituição e diante de seus colegas.
Resumindo, as burocracias são frequentemente capazes de manipular as visões da intelligentsia para seus próprios interesses, ao menos dentro das jurisdições em que atuam, as quais estarão sujeitas a pequenas correções de percurso por parte daqueles que sabem mais ou pela população que sofre as consequências. Na medida em que a mídia pensa e atua dentro da mesma estrutura de visão de mundo, pode haver realmente poucos alertas transmitidos para o público em geral de que existem outras visões e outras possibilidades sobre as questões tratadas, e uma quantidade ainda menor de postura crítica. Em vez disso, o público provavelmente ouvirá que "existe um consenso entre os especialistas" sobre a questão.
SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 466.