O incêndio de Roma, de 18 de julho 64, óleo de Hubert Robert (1733-1808)
Um dos momentos mais universalmente famosos da história romana, os cristãos sendo devorados pelas feras no Coliseu, acusados de haver provocado o incêndio que devastou Roma no ano 64, perante o deleite das massas e os aplausos de Nero, nunca aconteceu.
O anfiteatro foi construído depois do reinado do último imperador da linhagem de Augusto, que governou durante 14 anos, entre 54 e 68, e que se suicidou diante da certeza de que ia ser assassinado aos 31 anos de idade. Mas, além disso, cada vez se acumulam mais indícios de que, na realidade, Nero nunca perseguiu os cristãos.
Um estudo recente, publicado no The Journal of Roman Studies, de autoria de Brent D. Shaw, questiona a versão tradicional da perseguição anticristã promovida por Nero. Para Shaw, a única fonte sobre o evento, de Tácito, reflete as ideias e conexões da época do historiador, e não a realidade dos anos 60. “Ao longo da minha carreira como historiador, me deparei muitas vezes com eventos da história romana que são aceitos sem serem investigados a fundo. Dado que esse acontecimento faz parte da história canônica cristã, a Igreja também não tinha muito interesse em analisá-lo desde um ponto de vista crítico”, declara Shaw.