terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Historia magistra vitae est. Cícero (106-43 a.C.)
No humor sobre o antissemitismo encontra-se, frequentemente, uma combinação única de esperança, ironia e ceticismo. No caso do nazismo, este humor torna-se dilacerante, devido à tragédia que envolve. No Gueto de Varsóvia contavam-se até piadas sobre Hitler, que recebeu o codinome de Horowitz.
O humor judaico húngaro está a meio caminho entre a ingenuidade do humor dos alemães e a picardia do humor dos judeus da Europa Oriental.
LIVRO VII
CIV. "Senhor" - volveu Demarato -, "eu já sabia, a começar a falar, que a verdade não vos agradaria; mas, forçado a dizê-la, apresentei os espartanos tal como são. Não ignorais, senhor, o quanto os detesto atualmente, a eles que, não satisfeitos de me privar das honras e dos privilégios que me foram legados por meus pais, baniram-me da minha pátria. Vosso pai acolheu-me bondosamente, deu-me uma casa e cumulou-me de riquezas. Não é crível, portanto, que um homem sensato e justo responda com ingratidão aos benefícios recebidos. Não me ufano de poder lutar contra dez homens, nem mesmo contra dois, e jamais, por minha própria vontade, me bateria contra um apenas. Mas, se fosse necessário, se a isso me visse forçado por qualquer contingência, lutaria com a maior boa vontade com qualquer desses homens que se consideram capazes de resistir, cada um deles, a três gregos. O mesmo sucede com os lacedemônios. Num combate de homem para homem não são inferiores a ninguém, e, reunidos num corpo de exército, são os mais bravos de todos os homens. Na verdade, embora livres, não o são da maneira que imaginais. A lei é, para eles, um senhor absoluto, e não a temem menos que os vossos súditos a vós. Obedecem aos seus ditames, às suas determinações, que são ordens, e essas ordens impedem-nos de fugir diante do inimigo, qualquer que seja o seu número, e obriga-os a manterem-se firmes no seu posto, a vencer ou morrer. Se o que vos digo vos parece destituído de senso, guardarei, de agora em diante, silêncio sobre tudo o mais. Falei apenas em obediência às vossas ordens. Possa, senhor, esta expedição ser bem-sucedida, segundo os vossos desejos."
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 335.
LIVRO IX
LXXVII. Lampo, filho de Piteias, o cidadão mais ilustre de Egina, então no acampamento dos eginetas em Plateia, vendo-se assaltado por um pensamento ímpio, foi à procura de Pausânias e disse-lhe: "Filho de Cleômbroto, praticastes uma proeza admirável pela sua grandeza e pelo seu alcance. Libertando a Grécia, os deuses vos concederam uma glória jamais alcançada por nenhum dos gregos que conhecemos. Concluí a vossa obra, para que a vossa reputação se torne ainda maior e os bárbaros receiem, daqui por diante, praticar ações criminosas contra povos ciosos da sua liberdade. Quando Leônidas tombou gloriosamente nas Termópilas, Mardônio e Xerxes mandaram cortar-lhe a cabeça e dependurar-lhe o corpo num poste. Tratando Mardônio da mesma maneira, sereis louvado não só pelos espartanos, como pelo resto dos gregos, porquanto estarei vingando Leônidas, vosso tio pelo lado paterno." Foi essa a sugestão que fez Lampo a Pausânias, julgando que este a aprovaria.
LXXVIII. "Meu amigo de Egina - replicou Pausânias - estimo a tua benevolência, assim como sempre estimei a tua maneira prudente de agir; mas a tua sugestão é contrária à justa razão. Depois de enalteceres a mim, a minha pátria e as minhas ações, tu me rebaixas, considerando-me capaz de ultrajar um morto, e acrescentas que, assim agindo, minha reputação aumentará. Semelhante conduta é mais própria dos bárbaros do que dos gregos, e nós mesmos costumamos censurá-los por assim agirem. Não permitam os deuses que eu seja levado, por esse preço, a satisfazer os eginetas e os que aprovam semelhante procedimento. Basta-me merecer a estima dos espartanos, não praticando ações que me pareçam impróprias ou desonestas. Quanto a Leônidas, que queres que eu vingue, penso que ele já foi suficientemente vingado e que sua memória tira o seu maior esplendor daquela legião de mortos que ficou nas Termópilas. Peço-te, pois, que não te dirijas mais a mim para dar-me semelhantes conselhos." Ante essa réplica, Lampo retirou-se, sem mais nada dizer.
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 430-431.
Fonte: jornal Valor Econômico, edição de hoje (20 de dezembro de 2024).
LIVRO VIII
XXVI. Nessa ocasião, chegaram ao local alguns trânsfugas procedentes da Arcádia, pedindo alimento e oferecendo-se para trabalhar. Um dos persas encarregados de levá-los à presença do rei perguntou-lhes de que se ocupavam os gregos no momento: "No momento - responderam eles -, os gregos celebram os Jogos Olímpicos e assistem aos exercícios gímnicos e às corridas de cavalos." O mesmo persa perguntou-lhes ainda qual era o prêmio nessas justas. "Uma coroa de oliveira" - responderam. Conta-se que, nessa ocasião, Tritantecmes, filho de Artatanes, ao saber que o prêmio não consistia em dinheiro, mas em uma coroa de oliveira, exclamou na presença de todos: "Pelos deuses, Mardônio, que espécie de homens são esses que combatem senão pela glória!" Isso lhe valeu acerba censura da parte do próprio soberano persa.
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 375.
LIVRO VII
XCIX. Considero desnecessário falar dos outros chefes. Não deixarei, todavia, de fazer uma referência a Artemisa. Esta princesa me parece tanto mais digna de admiração quanto, apesar do seu sexo, quis tomar parte na expedição [de conquista da Grécia, liderada pelo rei Xerxes]. Como o filho se encontrava ainda em tenra idade quando o marido morreu, ela tomou as rédeas do governo, e sua grandeza d'alma e sua coragem levaram-na a seguir os persas, embora não fosse a isso compelida por nenhuma necessidade. Artemisa era filha de Ligdâmis, originário de Halicarnasso pelo lado paterno, e de Creta, pelo lado materno. Comandava ela os de Halicarnasso, os de Cós, os de Nisiros e os de Calidnas. Veio ao encontro de Xerxes com cinco navios, os mais bem equipados de toda a frota, pelo menos depois dos dois sidônios, e, entre os alidos, ninguém deu ao soberano melhores conselhos. Os povos submetidos a Artemisa e dos quais acabo de falar, são todos dórios, ao que penso. Os de Halicarnasso são originários de Trezena, e os outros, de Epidauro. Mas creio já haver dito o suficiente sobre a frota.
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 333.
LIVRO VII
XLVI. Artábano, seu tio pelo lado paterno, que havia procurado dissuadi-lo da ideia de uma guerra contra a Grécia, falando-lhe sem rodeios e com toda a franqueza sobre um tal empreendimento, vendo-o a chorar, a ele se dirigiu nestes termos: "Senhor, vossa conduta de agora é bem diferente da de há pouco. Há momentos, vós vos consideráveis feliz, e agora derramais lágrimas." "Quando refleti - volveu Xerxes - sobre a brevidade da vida humana e ao pensar que de tantos milhões de homens não restará um só dentro de cem anos, senti-me tomado de compaixão." "Experimentamos, no decurso de nossa vida - tornou Artábano -, coisas bem mais tristes do que o próprio sentimento da morte. Apesar da brevidade da vida humana, a que vos referistes, não há homem feliz, seja no meio dessa multidão, seja em todo o universo, ao qual não venha ao espírito, já não digo uma vez, mas frequentemente, o desejo de morrer. As vicissitudes por que passamos, as enfermidades que nos perturbam, fazem com que a vida nos pareça bem longa, por mais curta que ela seja. Numa existência tão infeliz, o homem vive a suspirar pela morte, encarando-a como um porto de salvação. Se temperamos a acridez de nossa vida com alguns prazeres, os deuses logo manifestam o seu ciúme."
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 240.
LIVRO II
CXXIV. Os sacerdotes meus informantes acrescentaram que, até Rampsinito, tinha-se visto florescer a justiça e reinar a abundância em todo o Egito, mas que não houve maldade que não praticasse Quéops, seu sucessor. Este soberano, depois de mandar fechar todos os templos e proibir os sacrifícios entre os egípcios, pô-los todos a trabalhar para ele. Grande número de egípcios foi empregado na tarefa de cavar as pedreiras da montanha da Arábia e arrastar dali até o Nilo as pedras que iam retirando, levando-as, em seguida, para a outra margem do rio, onde novos trabalhadores recebiam-nas e transportavam-nas para a montanha da Líbia. Utilizavam-se, de três em três meses, cem mil nesse trabalho. Para avaliar-se o suplício a que foi tão longamente submetido esse povo, basta dizer que se consumiram dez anos na construção da calçada por onde deviam ser arrastadas as pedras. Na minha opinião, essa calçada é uma obra não menos considerável do que a pirâmide, pois mede cinco estádios de comprimento por dez braças de largura e oito de altura nos seus pontos mais elevados; é feita de pedras polidas e ornadas de figuras de animais. Aos dez anos gastos para construí-la, convém acrescentar o tempo empregado nas obras da colina sobre a qual se elevam as pirâmides, e nas construções subterrâneas destinadas a servir de sepultura e realizadas numa ilha cortada por um canal e formada pelas águas do Nilo. A pirâmide, em si, consumiu vinte anos de labuta. É quadrada, medindo cada uma das faces oito pletras de largura, e é construída, em grande parte, de pedras polidas e bem unidas umas às outras, não tendo nenhuma delas menos de trinta pés.
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 122.