Este é um dos livros mais esclarecedores e relevantes sobre o ofício do historiador. Foi publicado pela editora José Olympio (Rio de Janeiro, 1991). Sua autora, Barbara Tuchman (1912-1989), foi uma notável historiadora norte-americana, embora não tenha feito qualquer curso de pós-graduação. Seus artigos objetivos e diretos nos mostram qual é o ofício do historiador, o seu produto e como podemos aprender com a História. Ao contrário dos sistematizadores da escola de Toynbee, que consideram a História como uma ciência e empenham-se em encontrar esquemas explicativos para a evolução dos povos e da sociedade, Barbara Tuchman a vê antes de tudo como a saga do homem, que constitui sempre o objeto dos estudos históricos.
Listei, abaixo, um "guia para os historiadores de sucesso", extraído do livro da Barbara Tuchman (exceto o último ponto):
I. O historiador deve rejeitar filosofias da História. Elas representam, para o historiador, "o risco de ser tentado a manipular os fatos no interesse do seu sistema, o que resulta em histórias mais fortes em ideologias do que em realidade factual" (xiii). Apesar disso, o historiador experiente alcançará certos princípios e diretrizes.
II. O tratamento do material deve preceder a tese. É mais prudente chegar a uma teoria através das evidências do que o inverso.
III. A narrativa cronológica é a "espinha dorsal" e a "corrente sanguínea" que aproxima a História "daquilo que realmente foi" (xiii).
IV. Qualquer que seja o assunto, deve ser escrito em termos do que se conhecia e do que se acreditava na época, e não da visão retrospectiva.
V. A paixão pelo assunto é indispensável para se escrever boa História.
VI. É preciso saber usar a língua, e se aprende a escrever, escrevendo. As palavras (e frases) curtas são sempre preferíveis às longas. A História nada é, se não for comunicada. À compulsão de escrever deve haver o desejo de ser lido.
VII. O historiador tem o dever de fazer o trabalho preliminar para o leitor - reunir as informações, dar-lhes sentido, selecionar o fundamental (essa é a essência da História), rejeitar o irrelevante e colocar o restante de modo a formar uma narrativa dramática que se desenvolve.
VIII. O historiador deve se concentrar nas fontes primárias; as secundárias são úteis, mas perniciosas.
IX. A pesquisa no local não deve ser desprezada. Heródoto e Tucídides já a praticavam.
X. A pesquisa tem uma sedução interminável - é preciso saber quando parar.
XI. O historiador deve manter o suspense da sua narrativa, o que tem sua dificuldade, uma vez que o fim da mesma é conhecido.
XII. De início, descobrir o que aconteceu na História é o bastante; o "porquê" surgirá por si mesmo, vindo da narrativa do que aconteceu.
XIII. A intuição e a imaginação são grandes aliadas do historiador.
XIV. A crença na grandeza de seu tema é o mais estimulante dos instrumentos do historiador.
XV. Não tomar partido em História é tão falso quanto não tomar partido na vida. No entanto, o historiador tenta ser objetivo no sentido de aprender o máximo possível e apresentar da forma mais simpática possível os motivos e condições de ambos os lados.
XVI. Para compreendermos e interpretarmos as ações das figuras históricas é essencial um esforço deliberado de empatia.
XVII. Os processos de raciocínio do autor não cabem numa narrativa. Nossas dúvidas, as provas conflitantes e as discussões das nossas fontes devem ser relegadas para as notas de referência. Isso mantêm a sensação de proximidade que o leitor tem com os acontecimentos.
XVIII. As implicações, ou significado, da História para a nossa época devem surgir na mente do leitor. O historiador escreve para contar uma História, e não para instruir.
XIX. "A história e o estudo do passado, tanto recente como distante, não revelarão o futuro, mas são um farol indicador do caminho e um alimento útil contra o desespero."
XX. Toda investigação histórica, embora não possa se estender até nossos dias, deve concluir respondendo a seguinte pergunta: "Que aconteceu em seguida?"
(MARROU, 1969: p. 517)