“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Esquerda Caviar», de R. Constantino

domingo, 14 de dezembro de 2014

Baixe essa obra gratuitamente aqui.

Apesar de ter sido lançado no ano passado, pela editora Record, essa "bomba" do economista liberal Rodrigo Constantino já se encontra em sua 7ª edição. Há muito que "namorava" essa obra, até que surgiu uma promoção fantástica nas Lojas Americanas, e eu fiz a minha aquisição por uns R$ 23,00 (incluindo o frete). Devorei-a em alguns dias, e foi uma das melhores "refeições" intelectuais que fiz neste ano. 

Na República tupiniquim, petralhas e esquerdistas de todas as matizes dão as cartas, embora boa parte da população seja conservadora. Assim, um livro que denuncie a hipocrisia dos progressistas só poderia causar um tremendo sucesso. Lobão, Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Romeu Tuma Júnior que o digam.

Eis a estrutura de Esquerda Caviar:

Introdução
Parte 1 - O fenômeno e suas origens
                As origens
                Duplipensar
                O viés da imprensa
Parte 2 - As bandeiras
                A obsessão antiamericana
                O ódio a Israel
                O culto ao multiculturalismo
                Os pacifistas
                O mito Che Guevara
                A ilha presídio
                Os melancias
                Justiça social
                Sem preconceitos
                As minorias
                Juventude utópica
Parte 3 - Os ícones
                Políticos, gurus, legitimadores, hollywoodianos e outros boçais úteis
Epílogo - Há luz no fim do túnel
Apêndice - Islamofobia
Indicações bibliográficas

Como o marxismo está na base do fenômeno da esquerda caviar, os hipócritas que idolatram Cuba mas tiram férias em Paris, vale a pena destacar algumas citações do livro sobre essa teoria assassina. Com elas eu me despeço:

"(...) Tanto o comunismo como o nazismo, similares em inúmeros aspectos, são absolutamente opostos ao capitalismo liberal, que prega a liberdade individual, entendendo que cada indivíduo é um fim em si. Enquanto o comunismo e o nazismo trouxeram apenas desgraça, miséria, terror e morte, o capitalismo trouxe o progresso para os povos e retirou centenas de milhões da pobreza, o estado natural da humanidade." (p. 131)

"O famoso slogan marxista diz: 'Para cada um de acordo com sua necessidade, de cada um de acordo com sua necessidade.' Mas, quando a 'necessidade' de alguém representa um reclamo perante a sociedade, e quando a capacidade representa um fardo, então todos começam a 'necessitar' de tudo e ninguém mais é capaz de nada." (p. 259)

"O discurso igualitário vende bem, pois alimenta a paixão mais mesquinha de todas: a inveja. Adam Smith disse: 'A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda superioridade que possuem.' O socialismo é a pura idealização da inveja. Como disse Theodore Dalrymple, o ódio aos ricos é uma emoção muito mais forte do que o amor aos pobres. Não vemos uma turba invadindo uma cidade em busca de pobres a quem pudesse dar seus bens..." (p. 262).

As Guerras Romanas em documentários

quinta-feira, 20 de novembro de 2014


Força. Disciplina. Ambição. A História das conquistas (e derrotas) do mais poderoso dos impérios que existiu foi mostrada em alguns bons documentários.  Assistam e compartilhem a seleção abaixo.

I. ROMA: ASCENSÃO E QUEDA DE UM IMPÉRIO [History]
Ep. 1 - A Primeira Guerra contra os Bárbaros

Ep. 2 - Espártaco

Ep. 3 - Júlio César

Legionários de César no cerco de Alésia

Ep. 4 - A Floresta da Morte

Ep. 5 - Invasão Britânica

Ep. 6 - Guerras Dalmacianas

Ep. 7 - Guerra e Traição

Ep. 8 - Ira dos deuses

Ep. 9 - Imperador dos Soldados

Ep. 10 - Constantino, o Grande

Ep. 11 - O General Bárbaro

Ep. 12 - O Mestre dos Fantoches

Ep. 13 - O Último Imperador

II. ANÍBAL (247 a.C. - 183 a.C.) [BBC]
ANÍBAL - O Pior Pesadelo de Roma 

III. ROMA: A ÚLTIMA FRONTEIRA [Discovery]
Ep. 1 - Invasão

Ep. 2 - Revolta

Ep. 3 - Domínio

«A prática da História», de Barbara W. Tuchman

quarta-feira, 5 de novembro de 2014


Este é um dos livros mais esclarecedores e relevantes sobre o ofício do historiador. Foi publicado pela editora José Olympio (Rio de Janeiro, 1991). Sua autora, Barbara Tuchman (1912-1989), foi uma notável historiadora norte-americana, embora não tenha feito qualquer curso de pós-graduação. Seus artigos objetivos e diretos nos mostram qual é o ofício do historiador, o seu produto e como podemos aprender com a História. Ao contrário dos sistematizadores da escola de Toynbee, que consideram a História como uma ciência e empenham-se em encontrar esquemas explicativos para a evolução dos povos e da sociedade, Barbara Tuchman a vê antes de tudo como a saga do homem, que constitui sempre o objeto dos estudos históricos.

Listei, abaixo, um "guia para os historiadores de sucesso", extraído do livro da Barbara Tuchman (exceto o último ponto):

I. O historiador deve rejeitar filosofias da História. Elas representam, para o historiador, "o risco de ser tentado a manipular os fatos no interesse do seu sistema, o que resulta em histórias mais fortes em ideologias do que em realidade factual" (xiii). Apesar disso, o historiador experiente alcançará certos princípios e diretrizes.

II. O tratamento do material deve preceder a tese. É mais prudente chegar a uma teoria através das evidências do que o inverso.

III. A narrativa cronológica é a "espinha dorsal" e a "corrente sanguínea" que aproxima a História "daquilo que realmente foi" (xiii).

IV. Qualquer que seja o assunto, deve ser escrito em termos do que se conhecia e do que se acreditava na época, e não da visão retrospectiva.

V. A paixão pelo assunto é indispensável para se escrever boa História.

VI. É preciso saber usar a língua, e se aprende a escrever, escrevendo. As palavras (e frases) curtas são sempre preferíveis às longas. A História nada é, se não for comunicada. À compulsão de escrever deve haver o desejo de ser lido.

VII. O historiador tem o dever de fazer o trabalho preliminar para o leitor - reunir as informações, dar-lhes sentido, selecionar o fundamental (essa é a essência da História), rejeitar o irrelevante e colocar o restante de modo a formar uma narrativa dramática que se desenvolve.

VIII. O historiador deve se concentrar nas fontes primárias; as secundárias são úteis, mas perniciosas.

IX. A pesquisa no local não deve ser desprezada. Heródoto e Tucídides já a praticavam.

X. A pesquisa tem uma sedução interminável - é preciso saber quando parar.

XI. O historiador deve manter o suspense da sua narrativa, o que tem sua dificuldade, uma vez que o fim da mesma é conhecido.

XII. De início, descobrir o que aconteceu na História é o bastante; o "porquê" surgirá por si mesmo, vindo da narrativa do que aconteceu.

XIII. A intuição e a imaginação são grandes aliadas do historiador.

XIV. A crença na grandeza de seu tema é o mais estimulante dos instrumentos do historiador.

XV. Não tomar partido em História é tão falso quanto não tomar partido na vida. No entanto, o historiador tenta ser objetivo no sentido de aprender o máximo possível e apresentar da forma mais simpática possível os motivos e condições de ambos os lados.

XVI. Para compreendermos e interpretarmos as ações das figuras históricas é essencial um esforço deliberado de empatia.

XVII. Os processos de raciocínio do autor não cabem numa narrativa. Nossas dúvidas, as provas conflitantes e as discussões das nossas fontes devem ser relegadas para as notas de referência. Isso mantêm a sensação de proximidade que o leitor tem com os acontecimentos.

XVIII. As implicações, ou significado, da História para a nossa época devem surgir na mente do leitor. O historiador escreve para contar uma História, e não para instruir.

XIX. "A história e o estudo do passado, tanto recente como distante, não revelarão o futuro, mas são um farol indicador do caminho e um alimento útil contra o desespero."

XX. Toda investigação histórica, embora não possa se estender até nossos dias, deve concluir respondendo a seguinte pergunta: "Que aconteceu em seguida?" 
(MARROU, 1969: p. 517)

Temas cotados para o ENEM 2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014




Os conteúdos relacionados à História Geral perderam espaço no ENEM, que tem apresentado mais questões ligadas à História do Brasil, particularmente contemporâneas. Esses temas compreendem o período que vai do fim do Império, destacando-se a escravidão, até eventos atuais, como a República Oligárquica (1889-1930) e a Era Vargas (1930-1945). A Copa do Mundo, os movimentos sociais, a questão da água e as doenças que assolam o Brasil e o mundo também poderão ser abordados.

Quanto aos temas de História Geral, poderá ser cobrado tecnologia e sua relação com a Revolução Industrial, correntes ideológicas dos séculos XVIII e XIX e os métodos e abordagens produtivas. Guerras e manifestações são temas que sempre merecerão destaque. Além do fenômeno do Estado Islâmico, bem destacado no vídeo, é possível que seja estabelecido um paralelo entre a Guerra Fria e a atual crise envolvendo a Rússia e a Ucrânia; isso pode ocorrer tanto em questões de História e de Geopolítica, quanto na redação. Vale a pena também estudar temas relacionados à África e à resistência negra. 

Por fim, há que se ressaltar uma tendência à valorização de eventos que aniversariam. Neste ano, os principais são: a Primeira Guerra Mundial (1914-1918); o suicídio de Vargas (1954); o golpe no Brasil em 1964 e a atuação da Comissão da Verdade; o movimento pelas Diretas Já em 1984; a Constituição de 1934, que trazia mudanças como a introdução da legislação trabalhista, o voto secreto e feminino.



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Com contribuições do jornal A Tribuna (27/10/2014) e da TV Estadão.

«História da Educação na Antiguidade», de H.-I. Marrou

quinta-feira, 2 de outubro de 2014


Um dos livros mais deliciosos que li é, sem dúvida, este. Trata-se de uma obra esgotada, publicada pela Herder em 1969. Jamais foi indicado pelas pedagogas ou pelos professores dos tempos da graduação. Encontrei-o ao acaso, no Estante Virtual, e como já conhecia outros livros do autor, comprei-o certo de que estava fazendo uma boa aquisição. Não deu outra.

Não me alongarei sobre essa obra magnífica. Nada melhor do que a leitura da mesma. Nela vocês conhecerão o longo trajeto percorrido pela educação antiga, de Homero ao surgimento das escolas cristãs de tipo medieval. Tudo no melhor estilo de Marrou, que não se furta a temas espinhosos, como "a pederastia como educação" (cap. III). 

Como se aproxima o dia do professor, em me despeço com uma bela citação (pp. 327-328), sobre esse nobre ofício nos tempos helenísticos:

Exigia-se do filósofo que fosse não apenas um professor, mas também, e sobretudo, um mestre, um guia espiritual, um verdadeiro mentor de consciência; a essência de seu ensino não era prodigalizada do alto da cátedra, mas no seio da vida em comum, que o unia a seus discípulos: mais que sua palavra, importava seu exemplo, o espetáculo edificante de sua sabedoria prática e de suas virtudes. Daí o elo, frequentemente apaixonado, que liga o aluno ao mestre, e ao qual este corresponde por uma afeição terna (...). 


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Imagem: Baixo-relevo encontrado próximo a Trier, retrata um professor romano com três discípulos (180-185 d.C.).

O humor contra a opressão

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O escritor israelense Amos Oz (1939-2018) defendia que o bom humor é o melhor antídoto contra o fundamentalismo. Seguindo nessa mesma linha, fiz uma seleção de alguns dos melhores vídeos atuais que satirizam ditadores e ditaduras, declarados ou enrustidos. 

"Curto e grosso", o personagem interpretado por Luiz Fernando Guimarães "descasca" o ditador nazista. O quadro fez parte do programa "Fantástico", da TV Globo, entre janeiro de 2006 e abril de 2010.

Paródia feita pelo Felipe Moura Brasil a partir da música Pais e filhos, de Renato Russo. Denuncia a monstruosidade do comunismo, que ainda impregna a política brasileira.

Paródia feita a partir do mega-sucesso Gangnam Style, do Psy. Seu alvo é o autocrata Kim Jong-un e a monarquia comunista hereditária da Coreia do Norte. 

Paródia feita a partir da música No woman, no cry, do Bob Marley. Trata-se de uma excelente sátira ao absurdo da teocracia saudita, que proíbe as mulheres de dirigirem (o pretexto é que querem proteger os seus ovários). Há muito que os regimes islâmicos recebem afagos da esquerda ocidental: Foucault apoiou a Revolução Iraniana, em 1979; o Lula visitou o Mahmoud Ahmadinejad em Teerã e depois recebeu-o com todas as honras em Brasília.

Música que satiriza as peripécias econômicas do "Socialismo do séculos XXI" da Venezuela de Nicolas Maduro. O dirigismo estatal na Venezuela provocou desabastecimento até de papel higiênico (e isso não é piada). Realização dos "Acadêmicos do Milton Friedman".

Música produzida pelo Luiz Trevisani, para zombar dos absurdos da esquerda brasileira. Em ritmo de carnaval.

Este rock (gravado inicialmente pelo "Jujuba com limão"), segue na mesma linha da música do Trevisani. O título é uma referência ao livro Esquerda Caviar, do Rodrigo Constantino.

VIII. Socialista caviar
A crítica é a mesma da música acima: a hipocrisia dos esquerdistas. A galera que usa GAP para derrubar o capitalismo. Em ritmo de samba. 
Música de Os Reaças (que tem o Trevisani como um dos integrantes). O alvo é o Femen e o movimento feminista.

Realização de Felipe Moura Brasil, e letra do mesmo, em conjunto com Filipe Trielli. O alvo são as manifestações de junho de 2013 e o governo PT. Aliás, o PT aplica no Brasil a cartilha do pior inimigo do nosso país - o Foro de São Paulo.

XI. O Bando
Paródia da música A Banda, de Chico Buarque de Holanda. A letra é de Filipe Trielli e o argumento é do Danilo Gentili. Denuncia a doutrinação de esquerda que escandalosamente ocorre nas universidades e escolas brasileiras. Saiba mais sobre isso através da ONG Escola Sem Partido.

XII. Cofre da Petrobras
Um forró de Germanno Júnior, sobre a Operação Lava-Jato e o Petrolão. Um retrato atual do Brasil do PT: "Estão metendo a mão de novo... / A roubalheira é grande, a coisa está demais / Estão arrombando agora o cofre da Petrobras".

XIII. O Samba mudou ou mudei eu?
Mais uma produção do Canal Chinchila, satiriza os "artistas estatizados", para usar o termo do Luiz Trevisani.

XIV. Adeus em ritmo de lava jato
Esta música do Juca Chaves é a mais recente pérola do Canal Chinchila. O título é uma alusão à Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal, em março de 2014, que investiga um grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos.

XV. Chega
Gabriel o pensador já se destaca há anos como um dos músicos mais combativos do Brasil. Nesta música, critica de modo brilhante os principais abusos do nosso país. Seria essa a sua obra-prima? 

XVI. Dilma Rousseff - Impeachment Já
Será que ela cai? Confira nessa paródia da música Triller, do finado Michael Jackson.

XVII. Japonês da Federal
O japonês mais conhecido dos petralhas deu samba. Vencedora do concurso de marchinhas do carnaval 2016 da CBN. Imperdível. 

XVIII. Pedaladas carnavalescas
Mais uma marchinha memorável do carnaval 2016. 

XIX. Carioca cria música sobre o sítio de Lula
Márvio Lúcio, o "Carioca", criou uma musiquinha sobre o sítio mais infame do Brasil.

XX. Não é nada meu
O samba da prisão do Lula. Música de Boca Nervosa.

XXI. Aquele 1%
Paródia de uma música de um tal Wesley Safadão. Homenagem mais que merecida à operação Lava Jato e ao juiz que acaba de ser eleito pela Forbes o 13º líder mais importante do mundo.

Os 225 anos de uma Declaração

terça-feira, 26 de agosto de 2014

    Para Péricles (c. 495-429 a.C.), o maior dos estadistas atenienses, aquele que não participava da vida de cidadão era um inútil. Posteriormente, Aristóteles (384-322 a.C.) dizia que o homem é um animal político.
         No entanto, a cidadania na Atenas de Péricles era bastante elitista – calcula-se que pouco mais de 10% de sua população possuía o status de cidadão; assim, era um privilégio, e não um mero direito, fazer parte da espécie de “animal” referida por Aristóteles. De qualquer modo, os gregos criaram dois conceitos fundamentais ao exercício da cidadania – “política”, que é a arte de decidir através da discussão pública, e “democracia”, que é o governo do povo.
            A civilização romana absorveu tanto a cultura helênica quanto (e, sobretudo) a cultura helenística, transmitindo sua síntese ao Ocidente. Os ideais políticos gregos – incluindo os princípios da democracia (como a isonomia) e da cidadania – chegaram até nós pelos latinos. A grande contribuição dos romanos deu-se no âmbito do Direito, o qual desenvolveram mais do que qualquer outro povo antigo. Um sistema jurídico bem elaborado, outro pilar da vida civilizada, legado romano para os que se preocupam com a vida em sociedade, jamais será subestimado.
            A cidadania não acabou com o fim do Mundo Clássico. Analisando por certo prisma, ela se desenvolveu, e ganhou outros matizes. Na Antiguidade Tardia e na Idade Média, o Cristianismo promoveu maior respeito e consideração por pobres, crianças, mulheres, órfãos, viúvas, doentes e deficientes. Na Época Moderna, o Renascimento, o Humanismo, a Reforma Protestante, a Revolução Inglesa e a Revolução Científica do século XVII contribuíram cada uma a seu modo, para a valorização do indivíduo, da cultura e do pensamento crítico. O amadurecimento da ideia de cidadania tal qual a entendemos hoje seu deu no século XVIII, século das Luzes, graças ao Iluminismo. Os intelectuais dessa época acreditavam na felicidade como meta a ser alcançada pela coletividade. Eles herdaram e desenvolveram o pensamento racional do século XVII, pensamento que serviu de base para a idealização de uma sociedade justa e igualitária que teria leis e Direito naturais, isto é, nascidos com o próprio homem.
            Impulsionada pelo Iluminismo, a Revolução Americana (1776) culminou com uma Declaração de Independência. Seus fundamentos foram a concretização de alguns dos ideais do século XVIII, como, por exemplo, o direito à vida, à liberdade, à felicidade e a igualdade entre os homens. Assim, os princípios mais caros à cidadania saíam dos livros dos pensadores e entravam na pauta dos legisladores.
            O clímax desse processo ocorreu durante a Revolução Francesa (1789-1799). Semanas após a queda da Bastilha, símbolo do repressivo Antigo Regime francês, os deputados da recém-criada Assembleia Nacional Constituinte redigiram um documento ousado. Era a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que completa hoje 225 anos. Essa Declaração foi proclamada antes mesmo que uma Constituição fosse elaborada para a França, e se diferenciou da congênere americana por seu caráter universal. Sua pretensão era a de alcançar toda a Humanidade, e não apenas sua Nação. Foi um passo significativo para transformar o indivíduo comum em cidadão.
            Vale a pena refletir sobre alguns detalhes desse documento que, afinal, é de todos nós. Composta por 17 artigos, a Declaração começa por estabelecer que “os homens nascem livres e permanecem livres e iguais em direitos.” Tais direitos são naturais e imprescritíveis, e consistem na liberdade, no direito à propriedade, na segurança e na resistência à opressão.
            Os direitos da Nação devem estar sempre subordinados aos direitos do cidadão, uma vez que o Estado não é um fim em si mesmo; seu objetivo maior é assegurar que os direitos civis sejam usufruídos pelo cidadão. Em um ano eleitoral, esse é um lembrete importante aos que pretendem conduzir os negócios de Estado.
            Como se vê, a cidadania é uma ideia de longa maturação, impulsionada nos últimos séculos pela Revolução Inglesa, pela Revolução Industrial, pela Revolução Americana e pela Revolução Francesa. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que fundamentou a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, inaugurou uma nova época e deve ser lembrada como um dos documentos mais importantes da Humanidade.


Publicado no jornal A Tribuna (26/08/2014).

«Era dos Extremos», de Eric Hobsbawm

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Baixe gratuitamente esse livro aqui.

HOBSBAWM, E. J. Era dos Extremos - o breve século XX (1914-1991). Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 

Não me lembro de como soube desse livro, mas eu me recordo de perguntar sobre ele ao meu professor de História do 3º ano do Ensino Médio. No ano seguinte, estava me preparando para o vestibular e pedi a um primo, que então se graduava na UFES, para que o tomasse emprestado para mim na Biblioteca Central. Li-o "de cabo a rabo". No ano seguinte - o já longínquo 2006 - ingressei no curso de História da UFES e descobri que Era dos Extremos era uma espécie de "Bíblia" dos historiadores da contemporaneidade. Felizmente, o professor de História Contemporânea do DEPHIS não é marxista, e lemos o Hobsbawm en passant. E não faltaram críticas a certas interpretações de Hobsbawm.

Antes disso, porém, no primeiro período, conheci o primeiro crítico do historiador britânico. O Dr. Ricardo da Costa (que depois viria a ser o meu orientador), fez duras críticas ao seu trabalho. Lembro-me de ter-lhe falado que para o Hobsbawm o regime stalinista não era totalitário, algo que despertou profundamente a minha atenção, desde de que o li. O Dr. Ricardo pacientemente conversou comigo sobre a falácia da argumentação de Hobsbawm, e hoje eu vejo claramente como eram pífios os argumentos a favor do autocrata soviético.

Ora, anteontem (10 de junho de 2014), o mesmo Dr. Ricardo publicou um texto, no Facebook, o qual reproduzo abaixo, com exceção da última frase:

O Brasil é estranho. Quando aconteceu o lançamento de Era dos Extremos (início da década de 90), o jornal O Globo (no Rio) convidou o Eric Hobsbam para palestrar. Roberto Marinho queria aproveitar a coincidência para comemorar não sei quantos anos de fundação do Partido Comunista no Brasil. Era só telefonar para o jornal e reservar o lugar (entrada gratuita). Tradução simultânea (com fone de ouvido à disposição).

Pois é, Roberto Marinho comemorando a fundação do PC. E na sede do jornal O Globo! Estavam todos os comunas lá (eu havia acabado de me formar na graduação). Leandro Konder sentou na minha frente. Se jogassem uma bomba, boa parte dos vermelhos brasileiros seriam varridos do mapa. Encontrei uma professora minha. Marxista roxa, havia passado A evolução do capitalismo (Maurice Dobb) na disciplina do semestre - e pasmem: eu fui o ÚNICO aluno da turma dela. O semestre todo! A mulher era grossíssima! Mas consegui sobreviver e ir até o fim do semestre. Li aquela xaropada toda ("feudalismo tardio" na Europa Oriental...). Dobb era "o cara" da análise marxista. Hoje está esquecido (talvez seja muito difícil para a garotada da geração "redes sociais"). Mas tenho o livro até hoje. Talvez seja trauma...

Ela, ao me ver na platéia, veio me dar um beijo! Como o marxismo enternece os rudes... Perguntou se eu iria tentar mesmo o mestrado em História Medieval - havia ficado todo o semestre me perturbando com isso, com o velho chavão da esquerda da minha geração "Brasileiro tem que estudar História do Brasil". Respondi que sim. Ela disse: "Ah, Ricardo, você não tem jeito mesmo!".

Sentamos para ouvir o messias britânico/egípcio. A mesa estava decorada com uma grande bandeira vermelha do PC. Com rosas. Na sede do jornal O Globo!!! O homem entrou, falou e foi embora. Sem direito a perguntas! Ao falar da Revolução Russa, comparou os bolcheviques aos cavaleiros templários! Impressionante o anacronismo! Mas como o ambiente transpirava admiração, o homem podia falar qualquer coisa...

Porque fui? Tive que ler TUDO de Hobsbawm. Desde a primeira parte de minha graduação - 1981-1983 (mais tarde, comprei e li até sua autobiografia, livro com passagens inacreditáveis)! Ainda hoje é leitura obrigatória nos cursos de História. E o que mais me surpreendente é que sua narrativa não apresenta NENHUMA fonte primária. Mas para que Deus precisa comprovar o que diz?



Assim que li esse post, resolvi citar algumas pérolas do "deus" dos historiadores marxistas. Vejam como um historiador, com pose elegante e venerado mundo afora, torna-se ridículo quando descreve os seus próprio ídolos:

Por toda a América Latina, entusiasmados grupos de jovens lançaram-se em lutas de guerrilha (...). (...) A maioria dessas iniciativas desmoronou quase imediatamente, deixando atrás de si os cadáveres dos famosos - o próprio Che Guevara na Bolívia; o igualmente bonito e carismático padre rebelde Camilo Torres na Colômbia - e dos desconhecidos. (p. 428)

Imagens de Che Guevara eram carregadas como ícones por manifestantes estudantis em Paris e Tóquio, e seu rosto barbudo, inquestionavelmente másculo e de boina fez bater corações mesmo não políticos na contracultura. (p. 430) - destaques acrescentados.

Não para por aí. Na p. 426, o Che Guevara é chamado de "médico argentino altamente talentoso como líder guerrilheiro" (uma mentira). Todos conhecem as história do "El Paredón", e do sadismo do monstro de "La Cabaña" (Che), que escreveu: "Para enviar homens para o esquadrão da morte não são precisas provas judiciais. Estes procedimentos são um pormenor burguês arcaico. Esta é uma revolução. E um revolucionário é uma máquina fria de morte, motivada pelo ódio puro" (leia mais no site do IMB). No entanto, Hobsbawm preferiu pintar a Revolução Cubana como "uma lua-de-mel coletiva" (p. 426).

No capítulo sobre a Guerra Fria, Hobsbawm "soltou" o seguinte:

Como a URSS, os EUA eram uma potência representando uma ideologia, que a maioria dos americanos sinceramente acreditava ser o modelo para o mundo. Ao contrário da URSS, os EUA eram uma democracia. É triste, mas deve-se dizer que estes eram provavelmente mais perigosos.

Pois o governo soviético, embora também demonizasse o antagonista global, não precisava preocupar-se com ganhar votos no congresso, ou com eleições presidenciais e parlamentares. O governo americano precisava. (p. 232)

Por todos os absurdos citados aqui, e muito mais, Era dos Extremos é um livro que só posso recomendar com reservas.

Políticos virtuosos na Antiguidade

sexta-feira, 16 de maio de 2014

 "Pelo seu prestígio, inteligência e conhecida incorruptibilidade em relação a dinheiro, Péricles [c. 495 a.C. - 429 a.C.] pôde liderar o povo como só um homem livre poderia. Péricles liderou o povo, em vez de ser por ele liderado. Ele não teve de bajular o povo em busca de poder; pelo contrário, sua reputação era tamanha que podia contrariar o povo e provocar sua ira."


Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, 2.65.8.

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OS "DEZ BENS" POR EXCELÊNCIA, PARA OS ANTIGOS ROMANOS:

1. Ser um grande soldado;
2. Ser um excelente orador;
3. Ser um valente general;
4. Ter a responsabilidade de grandes empreendimentos;
5. Revestir a magistratura suprema;
6. Possuir a mais alta sabedoria;
7. Ocupar o primeiro lugar entre os senadores;
8. Adquirir uma grande fortuna por meios honestos;
9. Deixar muitos filhos;
10. Tornar-se célebre no Estado.

Oração fúnebre pronunciada por Q. Cecílio Metelo Macedônico, em 221 a.C., por ocasião dos funerais do seu pai (ou avô) Lúcio. 
Citada por Plínio o Antigo, História Natural, 8, 139-140.

As Guerras Mundiais

quarta-feira, 19 de março de 2014

Artilharia de campo do exército britânico, na Batalha do Marne (1914).
Foto extraída do site Great War.

Em pleno centenário do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a comunidade internacional assiste, atônita, à interminável guerra civil da Síria, aos arroubos belicistas da Rússia e à barbárie do EI, no Iraque. Há várias outras situações de tensão e de violência mundo afora, o que mais uma vez sustenta a declaração do filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831): "O que a História ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a História."

Ora, como dizia Eric Hobsbawm, a função do historiador é lembrar o que os outros esquecem. Nesse sentido, para facilitar o estudo dos mais devastadores conflitos da humanidade, recomendo:

I. Série Conflitos 'escondidos' da Primeira Guerra Mundial, da BBC:


II. Sobre a Segunda Guerra, assista ao documentário O Último Ano de Hitler. Conheça também o bombardeio mais mortífero da História, aquele que ceifou as vidas de 100 mil japoneses, em Tóquio, no dia 9 de março de 1945. Assista também: Segredos Revelados da Segunda Guerra.

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Bibliografia consultada:
ARARIPE, L. de A. "Primeira Guerra Mundial", in: MAGNOLI, D. (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto: 2006, p. 319-353. 
FURET, F. O passado de uma ilusão - Ensaios sobre a ideia comunista no século XX. São Paulo: Siciliano, 1995, p. 47-77.
GILBERT, M. História do Século XX. Alfragide, Portugal: 2014.
TOTA, P. "Segunda Guerra Mundial", in: MAGNOLI, D. (org.). Op. Cit., p. 355-389.

A educação platônica

terça-feira, 4 de março de 2014

Segundo H.-I. MARROU (História da Educação na Antiguidade, 1969: pp. 115 e ss.), o cursus de estudos imposto por Platão (427 a.C. - 347 a.C.) contava com as seguintes etapas:

- 03-06 anos (completos): "Kindergarten" - jogos educativos, praticados em jardins de crianças (de ambos os sexos);

- 06-10 anos: Escola "primária" (quando começava a educação propriamente dita). As crianças aprenderiam a ler e a escrever, e seriam exercitadas pela ginástica (para o corpo) e pela "música" (cultura espiritual, para a alma).

- 10-17/18 anos: Estudos "secundários", subdivididos em três ciclos - estudos literários (dos 10 aos 13 anos); estudos musicais (dos 13 aos 16 anos) e estudo das matemáticas (entre os 17 e 18 anos) (estas, em especial, seriam um "elemento essencial" da educação preparatória de Platão).

Ao fim desses estudos, a vida intelectual seria interrompida por dois ou três anos, devido à "efebia" (serviço militar). Nesse interregno, os jovens levariam adiante a formação e a prova do caráter.

- 20-30 anos: "Altos Estudos" (ensino superior) - estudo das ciências.

- 30-35 anos: Estudo da dialética (arte fecunda, mas bastante "perigosa"), único instrumento que conduz à "verdade total".

- 35-50 anos: Vida ativa na Pólis (o suplemento da experiência - formação moral).

Assim, aos 50 anos, o indivíduo finalmente alcançaria a contemplação do Bem em si.

Esse programa parecia um desafio ao espírito prático dos atenienses. De qualquer forma, o plano de Platão buscava selecionar e formar apenas um homem ou, quando muito, um pequeno grupo de governantes-filósofos. Contudo, a efetiva tomada do poder exigiria uma conjunção do poder e do espírito quase milagrosa, razão pela qual o filósofo acabaria por renunciar à inútil ambição do poder e se voltaria à "cidade interior". O filósofo, portanto, seria sempre um "fracassado entre os homens". Tudo isso levou à formação de uma "seita fechada" (a Academia) no interior de uma "sociedade podre".

Didáticos, paradidáticos e outros

segunda-feira, 3 de março de 2014

A fim de estimular o aprofundamento dos alunos nos diversos conteúdos de História, indico abaixo alguns livros. Os quatro primeiros possibilitam uma visão mais abrangente da História geral e do Brasil, e por isso são os mais indicados, sobretudo para os que se preparam para o ENEM e para os vestibulares.

Com relação aos livros didáticos para o Ensino Médio, indico: História Global - Brasil e Geral, 9ª edição do famoso livro didático de Gilberto Cotrim, ou História - das cavernas ao Terceiro Milênio, de Myriam B. Mota e Patrícia R. Braick. Foi com este último livro que eu me preparei para o vestibular.

Para os que puderem, vale a pena ler História do Século XX, do historiador Martin Gilbert, e História do Brasil e História Concisa do Brasil, do historiador Boris Fausto.  Esses livros dão uma visão ampla do conteúdo de História do 3º ano do Ensino Médio. 

Para os que preferirem estudos mais específicos, eis uma primeira relação: 

* Paradidáticos para o 6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental

Autor: Spacca
Coleção Quadrinhos na Cia.

Autores: Spacca e Lilia Moritz Schwarcz 
Coleção Quadrinhos na Cia.

Autores: Spacca e Lilia Moritz Schwarcz 

Autor: Spacca

Autor: Homero (recontada por Silvana Salerno)

Autor: Jacqueline Morley

Autor: Marian Borba

Autor: Eni P. Orlandi

Autor: Carmen L. Campos e Cláudio Figueiredo

Autor: Ruth Brocklehurst

Autor: Ana Maria Machado (FTD, 2012)

Autor: Fiona MacDonald (Scipione, 1996).

Autor: Janaína Amado (Atual, 1999).

* Paradidáticos para o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio

Autor: Antonio Pedro
Coleção Discutindo a História

II. A Busca
Autores: Eric Heuvel, Lies Schippers e Ruud Van der Rol
Coleção Quadrinhos na Cia.

Autor: Edgard Luiz de Barros 
Coleção Discutindo a História

Autor: Clóvis Rossi

Autora: Letícia Bicalho Canedo
Coleção Discutindo a História

Autor: Jorge Luiz Ferreira
Coleção Discutindo a História

VIII. Novo Mundo nos Trópicos
Autor: Gilberto Freyre 

Coleção Textos e Documentos (Editora Contexto):

I. 100 Textos de História Antiga
Organizador: Jaime Pinsky

II. Do Feudalismo ao Capitalismo
Organizador: Theo Santiago

III. História Moderna através de textos
Organizadores: Adhemar M. Marques et. al.

IV. História Contemporânea através de textos
Organizador: Adhemar M. Marques et. al.

V. História da América através de textos
Organizador: Jaime Pinsky

VI. História do Tempo Presente
Organizadores: Adhemar M. Marques et. al.

Há ainda obras literárias que muito ajudam na compreensão do mundo moderno e pós-moderno. Por exemplo, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (no qual "profetizou" o egoísmo e a dissolução social da pós-modernidade), e 1984, de George Orwell (um verdadeiro "retrato" dos regimes totalitários que espionam até a vida íntima de seus cidadãos). Uma breve análise dessas distopias pode ser lida aqui. Mas, ATENÇÃO: é sempre preferível que o aluno se concentre no estudo das obras literárias que costumam ser cobradas no ENEM ou vestibular específico que ele pretende tentar. Os livros clássicos da literatura brasileira estão entre as leituras indispensáveis para as provas (dentre os mais cotados, cito Dom Casmurro, de Machado de Assis; Iracema, de José de Alencar; O Cortiço, de Aluísio de Azevedo e O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

«Ano Zero», de Ian Buruma

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Baixe esse livro gratuitamente aqui

O primeiro contato que tive com esse livro foi ao assistir a programas da Globo News. Além de conduzir a entrevista no programa Milênio, Lucas Mendes também escreveu sobre Year Zero no site da BBC

Leia também uma entrevista concedida por Ian Buruma ao jornalista Eduardo Graça. Por fim, confira: Doc. 'A Vida Após Hitler'