“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Cristofobia na França

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

No dia 16, Samuel Paty, um professor de história foi decapitado após deixar a escola onde lecionava, a 50 km de Paris. Na manhã de quinta-feira, 29 de outubro, um extremista invadiu a Basílica de Notre Dame, em Nice, França. Com uma faca, feriu várias pessoas, e matou três, incluindo uma brasileira de 44 anos e mãe de três filhos. O terrorista, um tunisiano que entrou na França a partir da Itália, foi preso após o crime. Segundo autoridades locais, assumiu a autoria do atentado como um ato em defesa da fé islâmica.

Saiba mais: Portas Abertas 

P.s. Ontem, 31 de outubro, um padre foi baleado em frente a uma Igreja Ortodoxa Helênica, no centro de Lyon, no sul da França. O padre foi hospitalizado, e o crime segue sendo investigado.   

«Nada a Invejar», de Barbara Demick

terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

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Carlos Magno e o Clero

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 

Alcuíno recebendo a Abadia de Tours do imperador Carlos Magno. Fonte: British Library, Royal MS 16 G VI, f. 153v. 

"Apesar de tantos concílios e de tantos sermões, Carlos Magno sabe que ainda precisa fazer a reforma da Igreja, na verdade a reforma do clero. Pela lista das recomendações aos missi que figuram nas capitulares, vê-se bem o que não está funcionando a contento. Os bispos e os abades se preocupam em fazer fortuna, os clérigos não obedecem aos bispos, toda essa gente mantém concubinas, quase não se lê a Bíblia. Os monges não observam a regra. Os bispos não cuidam satisfatoriamente da disciplina. E ninguém se opõe às vocações forçadas das crianças - meninos e meninas - a quem os pais obrigam a entrar na religião para delas se livrarem; ninguém se opõe às falsas vocações dos homens livres que - disso já padecia o Império Romano - também encontram um meio de furtar-se ao imposto e ao serviço militar, e tampouco às vocações dos servos que se insinuam no clero para assim alcançarem a liberdade. Por várias vezes, no fim do seu reinado, o imperador resume tudo numa acusação: os clérigos se imiscuem nos 'assuntos seculares'. Assim fazendo, ele esquece que nomeou abades leigos e utilizou largamente os préstimos de seus bispos para o bom governo e a administração do reino."   

FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução de Luciano Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2004, p. 387.

História no ENEM

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Baixe 23 Provas do ENEM - História.


Temas de História mais recorrentes no ENEM:

1º - Segunda Guerra Mundial (13,6%)

2º - Segundo Reinado (12,3%) e Governos brasileiros pós-regime militar (12,3%)

3º - Era Vargas (11,1%)

4º - República Oligárquica (9,9%)

Cristofobia no Chile

terça-feira, 20 de outubro de 2020

No domingo, 18 de outubro, extremistas de esquerda incendiaram a Igreja de São Francisco de Borja dos Carabineros e a Igreja La Assunción, em Santiago, capital do Chile. Os atentados terroristas ocorreram em comemoração ao primeiro ano do levante socialista que espalhou um rastro de destruição pelo país. A foto acima não é só uma mostra da cristofobia que se espalha pelo mundo na atualidade. É um sintoma da crise da Civilização Ocidental.

Sobre isso, indico o artigo da Gazeta do Povo.

O Concílio de Frankfurt (794)

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Carlos Magno no Concílio de Frankfurt. Autoria desconhecida.

Inicialmente, como previsto, desautoriza-se o concílio de Nicéia de 787. Liderados por Teodulfo, esse clérigo espanhol de origem visigótica que é, em Aix-la-Chapelle, um dos agentes da renascença intelectual do reino franco, os padres de Frankfurt tomam uma posição moderada no que diz respeito à imagens: o Ocidente ignora a iconoclastia e fica alheio à reação. Teodulfo não vê heresia no recurso pedagógico às imagens, mas, ao contrário de Paulino, que guarnece de grandes estátuas e relevos a igreja de Cividale - a partir de 737, elevada a sede do patriarcado de Aquiléia -, ele não lhes atribui muita importância: as imagens, pensa ele, poderiam ocupar um espaço indevido na devoção dos fiéis.

A igreja que o concílio de Frankfurt representa admite, pois, a veneração da Cruz, que não é uma imagem mas um símbolo, e considera as imagens como simples instrumentos da instrução religiosa. Nem destruição, nem veneração, mas um simples respeito por uma forma de pregação, e mesmo de exemplo. Na verdade, sustenta-se a posição da Igreja romana em relação à "pregação muda", sobre a qual Gregório, o Grande, não temia afirmar que permitia aos analfabetos "ler pelo menos olhando as paredes." Em termos pessoais, Teodulfo será ainda mais prudente: a luxuosa Bíblia que ele manda copiar em sua oficina em Fleury-sur-Loire não comportará nenhuma representação das personagens ou dos episódios da história sagrada.      

FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução de Luciano Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2004, p. 366.

«Armas, Germes e Aço»

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

 

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Sobre a Crise do Cristianismo

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Na frente da minha casa, no centro da praça, há uma igreja gótica vitoriana, uma construção de certa grandeza, que se eleva aos céus com imensa ousadia. Seu interior está intocado; os vitrais, magníficos. Está quase sempre vazia.

O arquiteto, quando a construiu, só poderia ter suposto que estava expressando, em pedra, uma fé que duraria para sempre. Não imaginaria que, 125 anos depois, a igreja oficial que encomendara aquele esplêndido edifício estaria à beira da extinção, seus bispos futilmente se esforçando para alcançar a modernidade ao assinar embaixo das inverdades sociológicas da moda de décadas passadas ou ao sugerir que Jesus era homossexual e que não ressuscitou de modo algum. Menos ainda poderia imaginar que os membros do sínodo da Igreja da Inglaterra, algum dia, interessar-se-iam mais pelas dívidas do Terceiro Mundo ou pelo aquecimento global do que pelo pecado. Do típico modo morno e tímido, a Igreja adotou (e diluiu) a Teologia da Libertação que precipitou a erosão da hegemonia católica na América Latina.

DALRYMPLE, Theodore. A Vida na Sarjeta: o círculo vicioso da miséria moral. Tradução de Márcia Xavier de Brito. São Paulo: É Realizações, 2014, p. 111.

O Ordálio no Ocidente Medieval

domingo, 11 de outubro de 2020

Ordálio mediante ferro em brasa. Detalhe de um documento de autoria desconhecida, Biblioteca da Abadia de Lambach. Fonte: Cml LXXIII. f. 64v, 72r, fins do século XII.

"(...) Assuntos mais graves requerem o juízo de Deus, pelo ordálio. Em alguns casos, trata-se de uma prova física, a ser imposta ao acusado de um crime ou de um delito de direito comum, e ao reclamante, no caso de uma contestação ou de uma queixa de caráter puramente privado. Trata-se, tanto para um como para outro, de demonstrar que sua causa é justa. Ferro em brasa, água fervente, água fria, braços abertos em cruz, tudo é imaginável. Um acusado que, depois do ordálio que consiste em mergulhar o braço em água fervente, não tiver as queimaduras cicatrizadas dentro do prazo fixado pelo juiz, é considerado culpado. Aquele que, depois de ficar com os braços abertos em cruz durante várias horas, tremer primeiro, é declarado culpado. O duelo judiciário é a última forma do juízo de Deus. Em todos os casos em que não há morte no ordálio, o que demonstra a má-fé do acusador e determina sua punição, o acusador desmascarado pela justiça de Deus sofre a pena que caberia ao acusado se a acusação tivesse sido validada por Deus. Isso faz com que os reclamantes às vezes deem mostras de grande prudência em suas afirmações.

Alguns espíritos lúcidos, desde essa época, percebem o absurdo do ordálio. Não é a crueldade dos suplícios que justifica sua hostilidade ao sistema, porque as pessoas não se comovem com a severidade das penas infligidas a quem é reconhecido culpado. O que choca alguns é a imprudência que pode haver em misturar Deus às baixas coisas do mundo. O ordálio, dirá sob Luís, o Piedoso, o arcebispo Agobardo, é um ato de presunção: ele pretende obrigar Deus a se pronunciar. É um pecado de orgulho. Quanto a Carlos Magno, há alguns indícios de seu ceticismo, mas não há dúvidas de que ele prefere as provas que não levam à morte. Apesar de suas deficiências, o juramento lhe parece preferível, e ver-se-á que em dezembro de 800, embora seja papa, Leão III é obrigado a se justificar diante do rei com um juramento purgatório." 

[No juramento purgatório, o acusado jurava a sua inocência. Se, posteriormente, ficasse provado que jurou falso, sua mão seria decepada.]   

FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução de Luciano Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2004, p. 335.

Fundamentalismo ou a Fraqueza do Islã

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Durante minha juventude e início de minha vida adulta, eu li muita filosofia. Não sei, mas talvez tenha desperdiçado o meu tempo, afinal, eu era aluno de medicina. Duvido que a filosofia me tenha tornado uma pessoa ou um profissional melhor. Pelo menos, ela me ajudou a ser um escritor mais qualificado.

Naqueles dias, a União Soviética assomava à imaginação do mundo ocidental. Assim, todos que queriam entender melhor o mundo deveriam mergulhar no marxismo, ideologia cujos princípios a União Soviética se dizia fundamentar.

Os autores marxistas não se destacavam por sua clareza - a natureza dialética do mundo era inerentemente difícil entender. Para os marxistas, a clareza equivalia a simplificação ou vulgarização. Ela surgia da falsa consciência que impedia os trabalhadores de ser revolucionários.

Quando a União Soviética, a despeito do meu esforço para entender o marxismo, entrou em colapso, eu pensei comigo mesmo: "Bem, ao menos não precisarei encarar alguma bobagem ideológica de novo para entender o que anda acontecendo."

Como me enganei! De repente, estava lendo sobre o islamismo. E comecei a fazê-lo porque o islamismo surgia como o próximo candidato ao totalitarismo. Como se sabe, uma grande parcela da humanidade é muçulmana; uma minoria agressiva e violenta tem surgido no seio dessa população com uma aprovação aparentemente grande, embora passiva em grande medida. Para piorar, a liderança dos países ocidentais é demasiadamente fraca diante deste, ou de qualquer outro desafio.

Por trás de toda a petulância a respeito da posse da verdade única, universal e divinamente ordenada, existe certa angústia quanto à possibilidade de todo o edifício do islamismo, embora forte, ser também extremamente frágil. Isso explica por que a livre investigação é tão limitada nos países islâmicos. Havia uma ciência subliminar - nem sempre subliminar, talvez - de que um debate filosófico e histórico livre poderia solapar fatal e rapidamente o controle do islamismo sobre várias sociedades. O fundamentalismo, portanto, é antes uma manifestação de fraqueza do que de força.

Adaptado de DALRYMPLE, Theodore. Qualquer coisa serve. Tradução de Hugo Langone. São Paulo: É Realizações, 2017, p. 125-126.

«21 Lições para o Século 21»

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

 

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#HJ28 Calote no Restaurante

domingo, 4 de outubro de 2020

Interior do restaurante judaico 2nd Ave Deli, em Nova York, EUA. Créditos: Yelp

Grande parte das anedotas judaicas americanas se passa em restaurantes, um cenário pouco conhecido na Europa e que passou a cumprir uma dupla função: alimentar e dar status.

Chutzpá tinha aquele judeu nova-iorquino. Entrou num restaurante, pedindo do bom e do melhor, e quando o garçom apresentou a conta disse que não tinha dinheiro.

- Ou o senhor paga ou eu chamo a polícia.

- Isto não vai lhe adiantar nada - retrucou o homem. - Mas tenho uma ideia: vou sair e esmolar até conseguir exatamente o que devo aqui pelo meu jantar. Em seguida volto e lhe pago.

- Como é que eu vou saber se o senhor vai voltar? - perguntou o proprietário, desconfiado.

- Venha comigo e fique observando, se o senhor não me acredita.

- Quem, eu? - exclamou o proprietário - Como é que o senhor ousa sugerir que um respeitável homem de negócios como eu possa ser visto em companhia de um esmoleiro?

- Bem, se o senhor não quer ser visto comigo - disse o id -, eu fico aqui esperando e o senhor pede esmola.

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 112. 

«A Farsa Ianomâmi»

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

 

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O Processo Civilizatório do Ocidente

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Imagem do século XV. Revela traços do individualismo crescente nos hábitos à mesa desse período.

Num importante estudo, o sociólogo Norbert Elias defende que o século XVI foi um período crucial no Ocidente devido àquilo a que chama "processo civilizacional", ou, por outras palavras, o aperfeiçoamento do autodomínio, referindo, entre muitas outras demonstrações, os trabalhos de Erasmo e do bispo italiano Giovanni Della Casa sobre boa educação, ambos regularmente impressos em várias línguas. Há poucas dúvidas de que a preocupação com o comportamento civilizado à mesa (evitando cuspir, lavando as mãos antes das refeições, e assim por diante) era, naquele tempo, vastamente partilhada - pelo menos em alguns meios -, mas (como o autor admite) é impossível traçar uma linha precisa entre o Renascimento e a Idade Média. Os livros sobre "cortesia" remontam até o século X. 

BURKE, Peter. O Renascimento. Tradução de Rita C. Mendes. Lisboa: Texto & Grafia, 2008, p. 98-99.

Saiba mais: O Refinamento das Maneiras à Mesa