sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Durante minha juventude e início de minha vida adulta, eu li muita filosofia. Não sei, mas talvez tenha desperdiçado o meu tempo, afinal, eu era aluno de medicina. Duvido que a filosofia me tenha tornado uma pessoa ou um profissional melhor. Pelo menos, ela me ajudou a ser um escritor mais qualificado.
Naqueles dias, a União Soviética assomava à imaginação do mundo ocidental. Assim, todos que queriam entender melhor o mundo deveriam mergulhar no marxismo, ideologia cujos princípios a União Soviética se dizia fundamentar.
Os autores marxistas não se destacavam por sua clareza - a natureza dialética do mundo era inerentemente difícil entender. Para os marxistas, a clareza equivalia a simplificação ou vulgarização. Ela surgia da falsa consciência que impedia os trabalhadores de ser revolucionários.
Quando a União Soviética, a despeito do meu esforço para entender o marxismo, entrou em colapso, eu pensei comigo mesmo: "Bem, ao menos não precisarei encarar alguma bobagem ideológica de novo para entender o que anda acontecendo."
Como me enganei! De repente, estava lendo sobre o islamismo. E comecei a fazê-lo porque o islamismo surgia como o próximo candidato ao totalitarismo. Como se sabe, uma grande parcela da humanidade é muçulmana; uma minoria agressiva e violenta tem surgido no seio dessa população com uma aprovação aparentemente grande, embora passiva em grande medida. Para piorar, a liderança dos países ocidentais é demasiadamente fraca diante deste, ou de qualquer outro desafio.
Por trás de toda a petulância a respeito da posse da verdade única, universal e divinamente ordenada, existe certa angústia quanto à possibilidade de todo o edifício do islamismo, embora forte, ser também extremamente frágil. Isso explica por que a livre investigação é tão limitada nos países islâmicos. Havia uma ciência subliminar - nem sempre subliminar, talvez - de que um debate filosófico e histórico livre poderia solapar fatal e rapidamente o controle do islamismo sobre várias sociedades. O fundamentalismo, portanto, é antes uma manifestação de fraqueza do que de força.
Adaptado de DALRYMPLE, Theodore. Qualquer coisa serve. Tradução de Hugo Langone. São Paulo: É Realizações, 2017, p. 125-126.
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