“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«César e Cristo», de Will Durant

terça-feira, 31 de março de 2020

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O Manifesto Minimalista de Thoreau

segunda-feira, 30 de março de 2020

A cabana de Henry David Thoreau (1817-1862), construída nas proximidades do Lago Walden. Concord, Massachusetts, EUA.  

Minha mobília, em parte feita por mim mesmo - e o restante não me custando nada de que eu já não tenha prestado conta -, consistia em uma cama, uma mesa, uma escrivaninha, três cadeiras, um espelho de uns sete centímetros de diâmetro, um par de pinças e grelhas para lareira, um tacho, uma caçarola, uma frigideira, uma concha, uma bacia, duas facas e garfos, três pratos, uma xícara, uma colher, uma moringa para óleo, outra para melado, e um lampião esmaltado. Ninguém é tão pobre que precise se sentar em uma abóbora. Isso seria indolência. Existem muitas cadeiras desse tipo que eu gosto nos sótãos da vila só esperando que alguém as leve embora. Mobília! Graças a Deus, posso sentar e ficar de pé sem precisar recorrer a uma loja de móveis. Quem senão um filósofo não se envergonharia de ver seus móveis em uma carroça viajando expostos à luz do céu e aos olhos dos homens, pobre amontoado de caixas vazias? Lá vai a mobília do Spalding. Jamais conseguiria dizer inspecionando tal carregamento se pertencia a um rico ou a um pobre; o dono da mudança sempre parece um pobretão. De fato, quanto mais coisas você tem, mais pobre você é. Cada carregamento desses parece conter itens de uma dúzia de barracos; e se um barraco já é pobre, o carregamento é doze vezes mais pobre. Eu me pergunto, por que outro motivo mudamos sempre senão para nos livrarmos dessa mobília, de nossa exuviae; e, por fim, partirmos desse mundo para outro recém-mobiliado, e deixarmos esta queimar? É como se todas essas armadilhas estivessem penduradas no cinto de um homem, e ele não conseguisse se mexer no terreno acidentado em que nossas linhas estão esticadas sem cair nelas - arrastando as próprias armadilhas. Feliz da raposa que perdeu só a cauda na armadilha. O rato-almiscareiro roerá sua terceira pata para se libertar da armadilha. Não é de estranhar que o homem tenha perdido a sua elasticidade. (...) Hoje veio a Inglaterra como um velho cavalheiro que viaja com um excesso de bagagem, tralhas que acumulou durante anos cuidando de casa e agora não tem coragem de queimar; arcas, caixas, bolsas, baús. Jogue fora um terço disso pelo menos. Excederia as forças de um homem saudável hoje em dia pegar sua maca e andar, e eu certamente aconselharia a um doente que deixasse o leito onde está e saísse correndo. Quando encontrei um imigrante cambaleando embaixo de um fardo que continha tudo o que era seu - parecendo um enorme cisto que crescera em sua nuca - , tive pena, não porque aqueles fossem todos os seus pertences, mas porque ele precisava carregar tudo aquilo. Se eu tiver de arrastar minha arapuca pelo mundo, tomarei cuidado para que seja leve e não me arranhe nenhuma parte vital. Mas talvez o mais sábio seja nunca meter a pata nessa cumbuca.

THOREAU, Henry David. Walden ou A Vida nos Bosques. Tradução e notas de Alexandre Barbosa de Souza. São Paulo: Edipro, 2018, p. 60-62.

«Dumbing Us Down», de John T. Gatto

domingo, 29 de março de 2020

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Simon Dubnov: "Escrevam e recordem!"

sábado, 28 de março de 2020

Simon Dubnov (1860-1941), historiador judeu de nacionalidade russa, em 1936.

Os judeus velhos, doentes ou debilitados, que não conseguiam caminhar os oito quilômetros que separavam o gueto em Riga [na Letônia] e a floresta de Rumbuli, eram abatidos quando tropeçavam, caíam ou sentavam-se no chão em virtude do cansaço; entre os que assim foram mortos [pelos soldados alemães], estava o decano dos historiadores judeus, Simon Dubnov. Segundo uma testemunha, suas últimas palavras teriam sido uma exortação aos compatriotas judeus: "Escrevam e recordem!"

GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 333.

A Guerra Fria na América Latina

sexta-feira, 27 de março de 2020

1. Ernesto Che Guevara de la Serna (1928-1967), ao seu modo, é até hoje um símbolo das lutas revolucionárias que marcaram a América Latina no período da Guerra Fria. Médico de formação, partiu de sua terra, a Argentina, em 1953. Visitou a Guatemala e, após o golpe de 1954, teve que deixar o país. De lá seguiu para a embaixada da Argentina no México, onde conheceu Raúl (1931-  ) e Fidel Castro (1926-2016). Estes haviam iniciado uma luta revolucionária em 26 de julho de 1953, com o ataque ao Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Eles então planejaram derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista, iniciada por meio de um golpe em 1952. Com o fracasso da tentativa, os irmãos Castro passaram uma temporada na prisão e, a seguir, o exílio no México.

2. Em fins de 1956, todavia, Che Guevara e cerca de oitenta homens acompanharam os Castro, que voltaram à porção oriental de Cuba a bordo do iate Granma. De lá eles se espalharam pelas montanhas da hoje lendária Sierra Maestra, onde organizaram uma guerrilha. Camilo Cienfuegos seria um dos principais líderes revolucionários do Movimento 26 de Julho, responsável por levar o exército de Batista a amargar duras derrotas. Para seu sucesso, o apoio de camponeses foi fundamental, o que era assegurado por meio da reforma agrária nas regiões controladas pelos revolucionários; foi importante também o apoio do Partido Ortodoxo (anticapitalista e populista), de Eduardo Chibás. O Partido Comunista Cubano só aderiu aos rebeldes em fins de 1958, uma vez que defendia a via pacífica para o socialismo, conforme orientação do XX Congresso do Partido Comunista da URSS.

3. Em 31 de dezembro de 1958, Fulgêncio Batista e seus principais ministros abandonaram o país. No dia seguinte, os rebeldes convocaram uma greve geral e, no dia 8 de janeiro de 1959, Fidel Castro entrou triunfante em Havana. No mês de maio, promulgou-se a Lei de Reforma Agrária e, no ano seguinte, empresas e bancos estadunidenses foram nacionalizados. Os Estados Unidos, em resposta, restringiram o seu mercado para a compra do açúcar cubano e cortaram o fornecimento de petróleo ao país. A União Soviética então se propôs a comprar o açúcar cubano e a fornecer petróleo ao regime de Castro. Em abril de 1961, cubanos exilados na Flórida e treinados pela CIA tentaram desembarcar na Playa Girón (baía dos Porcos) para derrubar o governo de Castro, mas foram derrotados.  

4. Temendo pela vulnerabilidade da Revolução, no dia 16 de abril do mesmo ano, Fidel Castro declarou que o regime cubano passava a ser socialista. Cuba alinhou-se à União Soviética e aceitou sua ajuda e ingerência. Consequentemente, passou a sofrer o embargo dos Estados Unidos e foi expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Valendo-se da posição estratégica de Cuba, os soviéticos instalaram mísseis em seu território, apontando-os para os Estados Unidos. Em outubro de 1962, no entanto, o governo de John Kennedy soube da operação e teve início uma das piores crises da Guerra Fria (a dos Mísseis de Cuba). Os mísseis acabaram removidos do país caribenho, sem que o governo da ilha fosse informado.

5. Apesar disso, Castro permaneceu leal a Moscou, de quem recebia generosos subsídios. Che Guevara, após exercer algumas funções de Estado em Cuba e no exterior, partiu para se envolver em guerrilhas na África e na América do Sul. Em 9 de outubro de 1967, Che foi assassinado pelos soldados que o capturaram nos rincões da Bolívia. Logos nos primeiros anos, as liberdades individuais e a produção cultural em Cuba foram progressivamente cerceadas por instâncias oficiais de controle, censura e punição. Dentre as principais ações de repressão, destaca-se El Paredón, os fuzilamentos dos "inimigos da Revolução". O próprio Che Guevara conduzia as execuções sumárias; saiba mais através do documentário Che Guevara: Anatomia de Um Mito.

6. No Chile, nas eleições de 1964, Eduardo Frei, do Partido Democracia Cristã, venceu Salvador Allende, de linha socialista. Frei deu continuidade às reformas modernizantes, desenvolvimentistas e antioligárquicas em curso no Chile desde 1938. Nas eleições de 1970, no entanto, a Democracia Cristã e o Partido Nacional se antagonizaram, o que facilitou a vitória eleitoral de Salvador Allende, da Unidade Popular (UP). A UP reunia os partidos Socialista, Comunista, Radical e o Mapu (Movimento da Ação Popular Unitário), coligados em torno da via chilena ao socialismo.

7. O programa da UP visava promover o desenvolvimento nacional, emancipando a economia da subordinação ao capital estrangeiro e, ao mesmo tempo, promover a justiça social, melhorando a oferta de emprego e os patamares salariais. Nesse sentido, algumas empresas foram expropriadas, terras no campo foram ocupadas, foi lançado um projeto de nacionalização do cobre e ações de bancos foram compradas. A direita reagiu. Desde o início, o Partido Nacional procurou boicotar o governo da UP. Em 1973, o Partido Nacional e os democratas cristãos se reaproximaram, isolando a UP. Por outro lado, grupos políticos mais radiciais que integravam a UP formaram focos de guerrilha; ao combatê-los, Allende descontentou muitos aliados. 

8. Assim, a partir de fins de 1971, o cenário era de aguda polarização, o que levou a experiência socialista chilena a ser breve. Allende ainda tentou contornar o problema da escassez de produtos através das Japs (Juntas de Abastecimento e Preço); além disso, convidou as Forças Armadas para assumirem o Ministério da Defesa. Paralelamente, as relações com o Poder Legislativo se deterioraram. Em meados de 1973, já era forte o discurso em favor de um governo forte para salvar o país do caos. Finalmente, no dia 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet, ordenou o bombardeio do Palácio La Moneda. Allende procurou resistir, mas cometeu suicídio ao se ver derrotado. A feroz ditadura de Pinochet se estenderia até 1990. 

9. Na Nicarágua, em 1933, Anastásio Somoza García chegou ao poder com o apoio norte-americano. Ele ordenou a morte de Sandino, um líder popular, em 1934. Assim começava o "reinado" da família Somoza no país - ele duraria 43 anos, e seria marcado pela violência, pela exclusão social, pela censura e pela corrupção. Em 1961, Carlos Fonseca criou a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que promoveria guerrilhas até 1979, quando conquistou o poder. A atuação de padres e freiras ligados à Teologia da Libertação foi fundamental para aproximar a guerrilha da população pobre. Apesar de revolucionária, a vanguarda da FSLN se aliou a Alfonso Robelo, importante nome da comunidade empresarial, e a Violeta Chamorro, da tradicional elite política.

10. Assim que chegaram ao poder, os sandinistas procuraram promover a reforma agrária, estabelecer uma economia mista, nacionalizar as minas e estatizar as fazendas e fábricas da família Somoza. No campo da cultura, os Centros Populares de Cultura e a Associação Sandinista de Trabalhadores da Cultura tornaram-se grandes organizadores de eventos culturais com fins a afirmar uma identidade coletiva e revolucionária. Mas o governo sandinistas encontrou um país arrasado por longos anos de ditadura e guerra civil, carente de recursos e, além de tudo, a partir de 1981 passou a ser duramente fustigado pelas ações dos "contras", contrarrevolucionários financiados pelo governo de Ronald Reagan. Desgastado, em 1990, Daniel Ortega perdeu as eleições para Violeta Chamorro, sua antiga aliada e agora apoiada pelos Estados Unidos. Em 2006, Ortega voltaria a se eleger presidente da Nicarágua.

11. Paralelamente a essas revoluções e vitórias eleitorais da esquerda, os Estados Unidos e grupos estratégicos das elites nacionais latino-americanas, temendo o "efeito dominó" na expansão internacional do comunismo, respaldaram intervenções militares na esfera política. Centros de inteligência criados nessa época, em diferentes países, passaram a definir os contornos da chamada Doutrina de Segurança Nacional, voltada ao inimigo interno e suas ações subversivas. A defesa nacional começou a se confundir com a "política geral do Estado". Até os golpes militares, existia um alto grau de mobilização política em países como a Argentina, a Bolívia, o Brasil, o Chile, o Equador, o Peru e o Uruguai (o que envolvia sindicatos, partidos de esquerda, ligas camponesas, guerrilhas indígenas, movimentos estudantis, etc.). Os regimes militares então desarticularam violentamente esses setores, e somaram-se a isso políticas socialmente "excludentes".

12. No Peru, não haviam sido implementadas muitas das reformas sociais e políticas que, em países como a Argentina e o Brasil, haviam sido levadas a cabo por Juan Domingo Perón e Getúlio Vargas. Assim, a ditadura militar peruana, que teve início em 3 de outubro de 1968, com a deposição de Fernando Belaúnde Terry, teve uma estrutura política diferente das demais ditaduras latino-americanas. A transformação almejada pelas Forças Armadas do Peru passava pelo desenvolvimento integral da nação na realização de reformas sociais. Os militares se consideravam politicamente neutros e se amparariam num corpo de tecnocratas. Em junho de 1969, sob o governo do general Juan Velasco Alvarado (1968-1975), aprovou-se a Lei de Reforma Agrária; no ano seguinte, foi aprovada a Lei Geral de Indústrias, que estabelecia o papel dirigente do Estado no desenvolvimento fabril e o seu controle sobre a indústria básica. 

13. As resistências às reformas desgastaram o governo de Velasco. Sob o seu comando foram levadas a cabo ações de grande impacto, como a desapropriação da empresa mineradora Marcona Mining e a expropriação das grandes fazendas açucareiras da região norte do Peru. Em 1975, o general Velasco foi destituído do governo, sendo sucedido pelo general Morales Bermúdez, que governou até 1980. Nesses anos, muitas das plataformas reformistas perderam força. A frustração que então se instalou em parcelas da população ajuda a explicar o surgimento, nos anos 1980, do grupo guerrilheiro de orientação maoísta Sendero Luminoso, o qual promoveu ações extremamente violentas em amplas áreas do território nacional. 

14. Na Argentina, o golpe militar de 1930 marcou a entrada das Forças Armadas na esfera política. Em 1943 e em 1955, facções militares voltaram a intervir, abrindo caminho para o peronismo e, depois, ceifando-o do poder. Em 1962, voltaram a depor um presidente democraticamente eleito, Arturo Frondizi, e estabeleceram um governo de fachada civil que se estendeu até 1963. Neste ano, Arturo Illia, da União Cívica Radical del Pueblo, venceu as eleições. Em 28 de junho de 1966, o general Juan Carlos Onganía depôs Arturo Illía, na chamada "Revolución Argentina". Embora tivesse se cristalizado a imagem do governo democrático como passivo e inoperante, o novo regime logo frustrou as expectativas daqueles que aprovaram inicialmente a intervenção autoritária.

15. O governo de Onganía não pareceu querer conduzir a fundo um projeto desenvolvimentista e, em 1970, foi deposto por outra facção militar. Em fins desse ano, sem condições de estabelecer um novo consenso nacional, o governo permitiu que Perón retornasse de seu exílio na Espanha franquista. Ele retornou em 20 de junho de 1973, quando houve o Massacre de Ezeiza. Na presidência pela última vez, Perón inclinou-se ao conservadorismo. Morreu em 1º de julho de 1974. A presidência passou à sua vice e viúva, Maria Estela Martínez de Perón, deposta em 24 de março de 1976, pelas Forças Armadas. Nos cinco anos seguintes, a Junta Militar foi presidida pelo general Jorge Rafael Videla, condenado à prisão perpétua em 2010 por "terrorismo de Estado" (morreu na prisão em 2013). Videla foi sucedido pelos generais Roberto Marcelo Viola (março de 1981) e Leopoldo Fortunato Galtieri (final de 1981). Galtieri renunciou em 1982, abrindo caminho para a redemocratização, em 1983.

Bibliografia consultada: PELLEGRINO, Gabriela & PRADO, Maria Ligia. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2016, p. 151-175.

«Nossa Herança Clássica» II

quinta-feira, 26 de março de 2020

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Leituras do 1º Trimestre de 2020

terça-feira, 24 de março de 2020

Jovem rapaz lendo à luz de vela, de Matthias Stomer (c. 1600 - depois de 1650).

Nos primeiros três meses deste ano, período do qual ainda resta uma semana para findar, esses foram os livros que eu li:

BETHENCOURT, Francisco. Racismos - das Cruzadas ao Século XX. Tradução de Luís Oliveira Santos e João Quina Edições. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

CUMERLATO, Corinne & ROUSSEAU, Dennis. A ilha do Doutor Castro: a transição confiscada. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Peixoto Neto, 2001.

GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.

GOMES, Silas de Araújo. Medicina Alternativa - a filosofia oculta das terapias não convencionais. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019.

POLIAKOV, Léon. De Cristo aos Judeus de Corte. Tradução de Jair Korn e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: 1979.

Desses cinco livros, há posts aqui no blog de quatro deles. Apenas o livro do Dr. Silas Gomes não foi citado, por se tratar de uma obra cujo tema foge ao escopo desta página. Os PDFs de BETHENCOURT (2018) e GILBERT (2014) estão disponíveis para download aqui no blog. Para acessá-los, pesquise no campo de busca, ou acesse a lista completa na categoria "Bibliografia". 

Há ainda livros que estou a ler (como Walden, de Thoreau), bem como o Comentário Bíblico, minha leitura habitual dos sábados à tarde. 

«Heróis da História», de Will Durant

segunda-feira, 23 de março de 2020

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«A Grande Fome de Mao»

domingo, 22 de março de 2020

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#Herói Lázló Michnay (1893-1965)

sábado, 21 de março de 2020

Até março de 1944, os judeus na Hungria se sentiam relativamente seguros diante da ocupação alemã, embora sofressem crescente discriminação desde da promulgação de leis racistas, em 1941. Essas leis eram equivalentes às Leis de Nuremberg, em vigor na Alemanha a partir de 1935. Apesar dos riscos, o pastor adventista do sétimo dia Lázló Michnay fez um discurso corajoso no maior templo adventista de Budapeste, em 1943. Policiais à paisana estavam entre as centenas de pessoas que ouviram o sacerdote a declarar: "Caríssimos irmãos e irmãs, vocês só podem ser seguidores fiéis e honestos de Cristo se protegerem os judeus, nossos parentes mais próximos."

Mesmo sendo intimado pela polícia após o seu discurso, Lázló Michnay não esmoreceu. Em outubro de 1944, o fanático Ferenc Szálasi, líder do partido Cruz de Flecha, de inspiração nazista, depôs o regime de seu país. A seguir, organizou o transporte de milhares de judeus húngaros para os campos de morte alemães. Diante de tal horror, o Pr. Michnay decidiu construir uma rede clandestina para o resgate de judeus. Ele foi apoiado pela esposa, Jolán, pelo filho e por alguns adventistas corajosos.

No centro da sua operação de rota de fuga estava o edifício da Igreja Adventista da rua Székely Bertalan, perto do gueto judeu. Nas pequenas salas, corredores, porão, sótão, debaixo das escadas e atrás da plataforma, o pastor escondeu vários adventistas de ascendência judaica e judeus.

Embora observado secretamente pela Gestapo, a polícia secreta nazista, Michnay foi agraciado com o fato de apenas agentes da polícia húngara terem batido à porta da igreja. Os alemães teriam sido mais rigorosos na busca. Quando Michnay não mais conseguiu esconder nenhum dos cerca de 30 judeus que estavam no templo, ele providenciou novos esconderijos fora de Budapeste. Ao todo, ele ajudou a salvar do Holocausto mais de 50 judeus. 

A filha de Michnay, Magda, descreveu a árdua vida subterrânea no templo: o medo diário da descoberta, a sobrevivência no menor dos espaços, o trauma de não poder se mover por muitas horas, a sede e a fome constantes, a preocupação com quem os ajudava arriscando a própria vida e a assustadora incerteza de quanto tempo duraria aquele pesadelo.

Fora de Jerusalém, próximo a Yad Vashem, centro dedicado à memória dos 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial, árvores homenageiam os não judeus que salvaram a vida dos que sobreviveram. Nesse hall de "justos entre as nações" figura Lázló Michnay, pastor que foi na contramão de muitos espectadores amedrontados, tanto da igreja quanto de fora.

Adaptado de HEINZ, Daniel. Herói adventista. In: Revista Adventista. Nº 1353, Ano 115. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, janeiro de 2020, p. 28-29. 

O Bonaparte das Finanças

sexta-feira, 20 de março de 2020

Nathan Mayer Rothschild (1777-1836), o "Bonaparte das Finanças", em pintura de 1853 de Moritz Daniel Oppenheim (1800-1882).

Nathan Mayer Rothschild foi o fundador da filial de Londres do que foi, durante a maior parte do século XIX, o maior banco do mundo. Foi o mercado de títulos que enriqueceu a família Rothschild - rica o bastante para construir 41 mansões imponentes pela Europa.

Embora os Rothschild tivessem sido correspondentes compulsivos, relativamente poucas cartas de Nathan para seus irmãos sobreviveram. Uma carta, entretanto, transmite claramente o tipo de homem que ele foi. Escrita num quase indecifrável Judendeutsch (alemão transliterado em caracteres hebreus), ela epitomiza aquilo que pode ser considerada sua ética judaica de trabalho e sua impaciência com seus irmãos menos mercurianos. Num trecho, Nathan declara: "Depois do jantar, geralmente não tenho nada para fazer. Eu não leio livros, não jogo cartas, não vou ao teatro, meu único prazer é o meu negócio...". Foi esse ímpeto fenomenal, aliado a um gênio financeiro inato, que impulsionou o "general supremo" (como seus irmãos o chamavam) da obscuridade da Judengasse de Frankfurt ao conhecimento profundo e ao domínio do mercado de títulos de Londres. Mais uma vez na história das finanças mundiais, no entanto, a oportunidade para a inovação financeira foi provida pela guerra.

Na manhã do dia 18 de junho de 1815, 67 mil soldados britânicos, holandeses e prussianos, sob o comando do duque de Wellington olharam através dos campos de Waterloo, para um número quase igual de soldados franceses, sob o comando de Napoleão Bonaparte. Além de tudo o que se sabe no âmbito político-militar, a batalha de Waterloo foi o clímax de uma disputa entre sistemas financeiros rivais: um, o francês, baseado no saque e na pilhagem; outro, o britânico, baseado sobre dívidas.

Nunca antes tantos títulos foram emitidos para financiar um conflito militar. Entre 1793 e 1815, a dívida nacional britânica se multiplicou por três, mais do que o dobro da produção da economia do Reino Unido. Segundo uma lenda de longa duração, a família Rothschild deveu os primeiros milhões da sua fortuna à especulação bem-sucedida de Nathan sobre o efeito do resultado da batalha sobre o preço dos títulos britânicos. Mas a realidade é diametralmente oposta. Longe de lucrar com a vitória de Wellington, os Rothschild quase ficaram arruinados por causa dela. Sua fortuna foi feita não por causa de Waterloo, mas a despeito dela.

Tropas francesas haviam invadido Portugal em 1807. Durante a maior parte dos seis anos subsequentes a 1808, houve uma necessidade recorrente de conseguir homens e matériel para a Península Ibérica. Vender títulos ao público tinha certamente levantado bastante dinheiro para o governo britânico, mas Wellington precisava de uma moeda que fosse universalmente aceitável. O desafio era transformar o dinheiro levantado no mercado de títulos em moedas de ouro e levá-las aonde eram necessárias.

Nathan Rothschild chegara à Londres em 1799, mas só em 1811 entrou nos negócios bancários da capital britânica. Ele adquiriu então uma valiosa experiência como contrabandista de ouro para o continente, quebrando o bloqueio que Napoleão impusera no comércio entre a Inglaterra e a Europa. Foi assim que Nathan prestou um auxílio valioso a Wellington, e em 1814 havia adiantado quase 1,2 milhão de libras ao governo, o dobro da quantia prevista em suas instruções originais. Mobilizar essas vastas quantidades de ouro, mesmo na outra ponta da guerra, era sem dúvida arriscado, mas as pesadas comissões que os Rothschild cobravam mais do que justificavam os riscos. O que os tornava tão adequados para a tarefa é que os irmãos Rothschild já tinham uma rede bancária pronta dentro da família. 

Assim, se o preço do ouro estivesse mais alto, digamos, em Paris do que em Londres, James em Paris venderia ouro em troca de letras de câmbio, depois as mandaria para Londres, onde Nathan as usaria para comprar uma quantidade maior de ouro. Além disso, os Rothschild também manipularam alguns dos maiores subsídios pagos aos aliados continentais dos britânicos. Em junho de 1814, eles tinham efetuado pagamentos desse tipo da ordem de 12,6 milhões de francos.

Depois de sua abdicação em abril de 1814, Napoleão foi enviado à ilha italiana de Elba. Mas, no dia 1º de março de 1815, para consternação dos monarcas e ministros reunidos no Congresso de Viena, ele retornou à França para reviver seu império. Nathan Rothschild reagiu à notícia retomando imediatamente as suas compras de ouro. Após adquirir todas as barras que ele e seus irmãos puderam localizar, ele cuidou para que fossem enviadas a Wellington. Ao mesmo tempo, Nathan se ofereceu para tomar conta de uma nova rodada de subsídios para os aliados continentais dos britânicos. Com comissões sobre todos esses negócios variando de 2% a 6%, a volta de Napoleão era promissora aos Rothschild. Ainda assim, Nathan subestimou um risco. Ao comprar furiosamente uma tal quantidade de ouro, ele assumia que, como em todas as guerras de Napoleão, essa seria longa. Foi um erro de cálculo quase fatal.

Por meio de seus mensageiros, Nathan Rothschild recebeu a notícia da derrota de Napoleão quase 48 horas antes que o major Henry Percy entregasse o despacho oficial de Wellington ao Gabinete. Apesar dessa antecipação, a notícia não era boa, uma vez que ele não esperava nada tão decisivo tão cedo. Com a chegada da paz, os grandes exércitos que tinha lutado contra Napoleão seriam desmobilizados, e a coalizão de aliados dissolvida. Não mais haveria pagamentos de soldos aos militares, nem mais subsídios para os aliados britânicos do período da guerra. O preço do ouro, que havia disparado durante a guerra, estava destinado a cair. Nathan estava diante de perdas pesadas e crescentes. 

A única saída possível era imensamente arriscada: investir no mercado de títulos. Nathan fez grandes aquisições de ações, significando títulos do governo britânico. Sua aposta era de que a vitória britânica em Waterloo e a perspectiva de uma redução dos empréstimos do governo alavancariam os preços dos títulos britânicos. Ele manteve as comprar mesmo quando o preço dos consols começou a subir. Então, nos estertores de 1817, com o preço dos títulos 40% mais caro, ele vendeu. Seus lucros totalizaram cerca de 600 milhões de libras, a preços atuais.

Essa foi uma das negociações mais audaciosas da história financeira. Ecoando tamanha proeza, o poeta Henrich Heine declarou: "o dinheiro é o deus do nosso tempo, e Rothschild é o seu profeta."  

Adaptado de FERGUSON, Niall. A Ascensão do Dinheiro - A História Financeira do Mundo. Tradução de Cordelia Magalhães. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009, p. 78-84.

#Herói John H. Weidner (1912-1994)

quinta-feira, 19 de março de 2020

John H. Weidner recebendo a Medalha da Liberdade dos Estados Unidos, em 1946, na Holanda. Créditos: U S Holocaust Memorial Museum

Em março de 1944, um bombardeiro britânico voou à Bélgica numa missão de resistência. Durante o voo, porém, foi abatido. Cinco dos dez ocupantes da aeronave morreram. Três sobreviventes foram capturados, mas os outros dois foram acolhidos por famílias belgas da aldeia de Zelate, onde estavam escondidos outros 47 aviadores aliados à espera de uma oportunidade para contatarem alguma rede de evasão.

Alguns judeus também eram salvos através de redes de fuga, sendo uma dirigida pelo holandês adventista do sétimo dia John Weidner, que conduzia os evadidos da Holanda para a Suíça. Cerca de 150 pessoas trabalhavam para a rede de Weidner; quarenta seriam presas e abatidas, inclusive a irmã de Weidner, Gabrielle. 

Saiba mais sobre essa história a partir da matéria publicada no site da Revista Adventista.      

Adaptado de GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 636-637.

#WWII Diários da Guerra 2

quarta-feira, 18 de março de 2020

Num momento crítico da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a Alemanha nazista já havia subjugado diversos países, dentre eles a França, e preparava-se para invadir a Grã-Bretanha, Winston Churchill disse: "Há um número enorme de pessoas, não apenas na Grã-Bretanha, mas em todos os países, que combaterão lealmente nessa guerra, mas cujos nomes nunca serão conhecidos, cujos feitos nunca serão lembrados. Essa é uma guerra do Soldado Desconhecido..." (Apud Gilbert, 2014: p. 147).

Pensando nisso, resolvi iniciar esse "Diário da Guerra". Recolhendo algumas das histórias citadas por Gilbert (2014), pretendo realçar o lado humano do conflito, dando rosto a vítimas desconhecidas. Procurarei citar dois ou três exemplos de cada momento da parte inicial da guerra, resumindo brevemente o contexto histórico.

*** 

Na manhã de 30 de novembro de 1939, o Exército Vermelho lançou uma ofensiva militar maciça através da fronteira soviético-finlandesa. Tal ataque ocupou momentaneamente a primeira página dos jornais em todo o mundo. Em 12 de dezembro, as tropas finlandesas, a leste da vila de Suomussalmi, combateram um contingente soviético muito mais numeroso. Sem artilharia nem armas antitanque, os finlandeses conseguiram, ainda assim, manter sua posição durante cinco dias. Os reforços soviéticos comandados pelo general Vinogradov, engarrafados numa estrada ladeada por um arvoredo denso, foram atacados, num duro combate, num duro combate corpo a corpo, por tropas finlandesas decididas a não se deixarem combater. Esse não foi o único ponto do front em que os tanques soviéticos não puderam avançar frente às minas e aos coquetéis Molotov finlandeses. (p. 44-49) 

Em Varsóvia, no dia 18 de janeiro de 1939, a Gestapo prendeu 255 judeus ao acaso, levou-os aos bosques de Palmiry e fuzilou-os. Quatro dias depois, o papa discursou no rádio contra "o horror e os excessos imperdoáveis" cometidos pelos alemães; no mesmo dia da denúncia do papa, o general Friedrich Mieth, comandante do 1º exército alemão, queixou-se perante seus oficiais de que as execuções da SS "manchavam" a honra do exército alemão. Mieth foi demitido por Hitler, assim que o Führer soube de suas palavras (p.57)  

Ernst Heilmann, membro eminente do Partido Social-Democrata alemão e de ascendência judaica, foi preso em 1933. Transferido entre vários campos de concentração, foi continuamente submetido a maus-tratos. Certa vez, foi atacado por cães que lhe mutilaram os braços e as mãos. Morreu aos 59 anos, em 3 de abril de 1939, em Buchenwald. (p. 71) 

Na Polônia, torturas e mortes prosseguiam sem cessar. Em Stutthof, na noite de 23 de abril, às primeiras horas da Páscoa judaica, todos os judeus do campo foram obrigados a correr, deitar-se no chão, levantar-se outra vez e recomeçar a correr, sem interrupção. Os mais lentos eram espancados até a morte. Segundo uma testemunha, os SS atrelaram um escultor judeu a um carro cheio de areia e obrigaram-no a correr, puxando o carro, enquanto o chicoteavam. Quando ele sucumbiu à dor e ao cansaço, viraram o carro sobre ele, sepultando-o sob a areia. Ele conseguiu libertar-se, mas os alemães, às gargalhadas, atiraram-no na água e enforcaram-no. A corda era muito fina e partiu-se. Trouxeram, então, uma jovem judia grávida e, escarnecendo de suas vítimas, enforcaram os dois com a mesma corda. (p. 78-79)

15 de maio de 1939. Sem condições de quebrar a neutralidade americana com o envio à Grã-Bretanha de aviões prontos para voar, o presidente Roosevelt sugeriu, na noite desse dia, uma forma para contornar o próprio Ato de Neutralidade. Aviões seguiram até o lado americano da fronteira com o Canadá, e a seguir seriam "empurrados" para o lado canadense. Depois, seriam pilotados até a Terra Nova, onde, enfim, poderiam ser embarcados rumo à Grã-Bretanha. (p. 93) 

No dia 20 de maio, um dos militares alemães mortos foi o príncipe Wilhelm von Hohenzollern, neto do ex-Kaiser e herdeiro do trono imperial alemão. Ele foi vítima dos ferimentos sofridos em combate. O próprio ex-Kaiser, exilado na Holanda desde 1918, recusou a oferta de Churchill para refugiar-se na Grã-Bretanha. Seu local de exílio, na Holanda, foi devastado. (p. 97)     

Bibliografia consultada: GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014

Cuba Policialesca

terça-feira, 17 de março de 2020

Opositores da ditadura castrista são presos pela polícia em Santa Clara, Cuba, no dia 28 de janeiro de 2011. 
Créditos: CNN

Nas ruas das grandes cidades, e especialmente em Havana, a polícia tornou-se onipresente e procede a controles de identidade sistemáticos. Estes não escapam, aliás, à síndrome do delito de má aparência, que faz dos negros os alvos preferenciais das batidas. Essa mácula pública ao dogma oficial da igualdade racial não surpreende ninguém.

A população sente o incômodo. Casais cuja única distração é o passeio vespertino não suportam mais as abordagens constantes da polícia. As prostitutas da Quinta Avenida refugiam-se nas avenidas paralelas, menos chamativas e nas quais jamais passa o comboio de limusines da elite do regime.

O que é mais grave: pequenos expedientes de sobrevivência são agora ameaçados pelo endurecimento policial. O vendedor de ovos desviados, o encanador, o entregador de leite clandestino, o comerciante de carne contrabandeada, o traficante de charutos roubados... as mil e uma ocupações da malandragem, os sobreviventes da miséria, os ases da penúria, os que descobrem uma utilidade para quase tudo, os que revendem o que cai do caminhão, todos devem se enfiar na toca e ficar privados de seu ganha-pão, do acesso ao mercado clandestino e seus clientes terão de apertar os cintos.

Mal remunerado, mal-amado, caçoado, o policial cubano não é bem-visto na capital. O regime precisou recorrer às províncias mais fidelistas e mais deserdadas para reforçar as fileiras de sua polícia. À guisa de vingança popular, as piadas multiplicam-se: a cor dos uniformes dos policiais sugere a "loucura azul", título de um filme cubano de grande sucesso. Uma charada também: 

Por que os policiais andam sempre em dois? Porque Fidel disse que eles devem ter pelo menos doze anos de escolaridade. Os coitados precisam andar em dupla para cumprir a ordem.

O regime foi logo obrigado a afrouxar o controle sobre o mercado informal, mas a pressão sobre a dissidência continuou. As celas da Segurança do Estado em Villa Marista, por exemplo, não conseguem conter o afluxo de opositores detidos. Cada vez em maior número, são levados, em detenção provisória, aos cárceres da polícia criminal, na esquina das ruas 100 e Aldabo, no bairro de Boyeros.

No ano 2000, estavam aprisionados cerca de 350 prisioneiros políticos. Os jornalistas independentes estão especialmente na mira do poder.   

Adaptado de: CUMERLATO, Corinne & ROUSSEAU, Dennis. A ilha do Doutor Castro: a transição confiscada. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Peixoto Neto, 2001, p. 180-183.

«A Alma do Mundo», de Roger Scruton

segunda-feira, 16 de março de 2020

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Perseguição às Mulheres Cristãs

sábado, 14 de março de 2020

No último domingo, dia 8 de março, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Por todo o mundo, a luta das mulheres pelos seus direitos foi lembrada de diferentes formas.

Apesar disso, infelizmente, pouco se fala das mulheres que são perseguidas em países islâmicos ou onde os cristãos são uma minoria perseguida. Pensando nisso, a ONG Portas Abertas preparou um pequeno e-book sobre o tema. Acesse-o AQUI. Compartilhe essa informação.  

#Herói Maximiliam Kolbe (1894-1941)

sexta-feira, 13 de março de 2020

Maximilian Kolbe em 1939. Fonte: Wikimedia

No campo de concentração de Auschwitz, em finais de julho [de 1941], um prisioneiro polonês fugiu de sua equipe de trabalho. Como represália, foram escolhidos, ao acaso, dez homens entre os seiscentos prisioneiros em seu alojamento para serem trancados numa cela onde morreriam de fome. Após a seleção, um padre católico polonês, Maximilian Kolbe, prisioneiro no campo, abordou o comandante e pediu para substituir um entre os escolhidos. "Estou sozinho no mundo", disse Kolbe, "e aquele homem, Francis Gajowniczek, tem uma família para quem viver". "Aceito", disse o comandante, afastando-se. O padre Kolbe foi o último a morrer. Trinta anos depois, a cerimônia de beatificação de Kolbe contou com a presença de Francis Gajowniczek e de sua mulher.    

GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 278.

A Crise Global de Cuba

quinta-feira, 12 de março de 2020

A crise que Cuba atravessa não é somente de ordem econômica, política ou social; ela atinge cada indivíduo no mais profundo de sua existência.

Segundo Oswaldo Payá, representante do Movimento Cristão Liberação, "a maioria das pessoas se queixa, mas ninguém age. Como se todos estivessem anestesiados..."

Até quando? Essa é a única questão que incomoda os cubanos. Na ilha enganosa, o tempo parou. Os turistas adoram: os velhos Cadillac, os palácios decrépitos, etc. Quanto aos cubanos, eles trabalham sem parar, inventando o cotidiano para não sucumbir à desesperança.

Resignados, agarrados às lembranças do socialismo dos anos 1980, quando o carnê de racionamento ainda dava direito a algumas roupas e lençóis para a casa, quando o óleo não faltava, quando os hospitais podiam oferecer lençóis limpos, quando havia lâmpadas e ventiladores nas salas de aula das crianças, os cubanos esperam.

Até no discurso moralista a revolução é derrotada pela realidade. Os barbudos de Sierra Maestra acreditavam ter fechado o "bordel dos Estados Unidos". Sessenta anos mais tarde, os clientes não são norte-americanos; eles vêm de todos os países da Europa a fim de sentir um pouco de volúpia nesse Éden socialista que possui os três "S" famosos que movem os turistas: sable, sexe et soleil [areia, sexo e sol]. O problema persiste, apesar da repressão ao proxenetismo, à corrupção de menores e à prostituição em si (reenvio das prostitutas da capital às suas regiões de origem; prisão domiciliar por um ano; trabalho em campos de limões e batatas para as reclacitrantes; e internação, por três anos, nos "centros de reeducação" para as reincidentes). 

Sinal do pessimismo imperante, o final dos anos 90 em Cuba registrou a taxa de fecundidade mais baixa desde cerca de um século. Em 1950, a população cubana representava pouco mais de 3% do conjunto da América Latina e do Caribe. Em 2010, esse percentual terá se reduzido a 1,9%. Em 2020, a população da ilha começará a decrescer.

Quarenta por cento das gestações terminam em abortos, um índice tão elevado que incomoda as próprias autoridades cubanas. O país, que se apresenta como grande potência farmacêutica, precisou receber, no final de 1998, do Fundo das Nações Unidas para a população, uma ajuda de mais de 2 milhões de dólares para produzir as primeiras pílulas anticoncepcionais cubanas. Tal ajuda, no entanto, corresponde a apenas 5% das necessidades mais prementes da população.

A idade em que se dão as primeiras relações sexuais é cada vez mais precoce, inquieta-se também o jornal Juventud Rebelde, assinalando a progressão dos abortos praticados em jovens com menos de vinte anos.

Cuba detém outro recorde pouco invejável: o país possui um dos índices de suicídios mais elevados da América Latina (cerca de 20 para cada 100 mil habitantes; a média no resto do continente oscila entre 8 e 12 para cada 100 mil habitantes). 

A um membro da guarda costeira norte-americana que perguntava a um jovem operário que acabava de fracassar em sua terceira tentativa de chegar à Flórida por que não punha sua energia a serviço de um movimento de oposição na ilha, este respondeu: "Não quero ser herói. Os heróis acabam sempre na prisão e não veem mais o sol."  

Adaptado de: CUMERLATO, Corinne & ROUSSEAU, Dennis. A ilha do Doutor Castro: a transição confiscada. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Peixoto Neto, 2001, p. 106-107 e p. 191-194.  

«História da Educação na Antiguidade»

quarta-feira, 11 de março de 2020

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«Que é História?», de Edward H. Carr

terça-feira, 10 de março de 2020

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«Marco Aurélio», de Pierre Grimal

segunda-feira, 9 de março de 2020

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#15Livros de História

domingo, 8 de março de 2020

Atendendo ao pedido de um amigo, listei 15 grandes obras de história que marcaram a minha formação. Listas similares já foram elaboradas, e eu não me preocupei necessariamente com as avaliações que predominam na Academia. Alguns dos livros abaixo eu considero mais importantes por me proporcionarem uma visão geral dos acontecimentos tratados, ainda que não sejam considerados clássicos. Destaquei também alguns que são obras consagradas da historiografia, mas foram ostracizados pelos ilustres doutores da universidade brasileira. Enfim, trata-se de um lista subjetiva, ainda que eu tenha equilibrado as minhas preferências com o compromisso de apresentar aos interessados uma bibliografia básica (particularmente da história do Mundo Ocidental).  

1. A Humanidade e a Mãe-Terra, de Arnold Toynbee
Trata-se de uma obra geral sobre a história da civilização. Muito interessante por dar ao leitor uma visão sincrônica dos acontecimentos no Ocidente e no Oriente.

2. História das Guerras, de Demétrio Magnoli (org.)
Publicado pela editora Contexto em 2006, reúne estudos compactos de historiadores brasileiros que são referência em suas áreas. Proporciona, assim, uma visão geral excelente dos principais conflitos da humanidade (incluindo o maior de todos no qual o Brasil se envolveu, a Guerra do Paraguai).

3. História da Vida Privada, Philippe Ariès e Georges Duby (dir.)
Uma coleção publicada no Brasil pela Companhia das Letras. É abundante em fontes icnográficas, o que torna a leitura muito prazerosa. 

4. A Cidade Antiga, de Fustel de Coulanges
Bem-vindo a um dos maiores clássicos da historiografia. Apesar disso, é pouco indicado nos cursos de história das universidades brasileiras. Um belíssimo estudo sobre o culto, o Direito e as Instituições da Grécia e da Roma antigas.

5. História do Mundo Grego Antigo, de François Lefèvre
Esse livro foi publicado no Brasil em 2013, pela Wmf Martins Fontes. A minha sensação após terminar de fichá-lo foi a de concluir um dos doze trabalhos de Hércules... o livro é essencial para qualquer estudante da civilização grega antiga, mas é deveras denso.

6. Os erros da liberdade, de Pierre Grimal
Sem sombra de dúvida, um dos livros mais sublimes que já li. O autor nos apresenta a história da liberdade, analisando as estruturas originais das sociedades grega e romana e explicitando as diferenças das mentalidades antigas. Desta lista, é o único que faz uma interface com a filosofia.

7. História da Educação na Antiguidade, de Henri-Irénée Marrou
Ao contrário da obra 4 desta lista, ao terminar de fichar História da Educação na Antiguidade fiquei com a sensação de "que pena que acabou...". O livro é inigualável e deveria ser obrigatório em todos os cursos de licenciatura. É indispensável para todos que se pretendam humanistas, num mundo cada vez mais pitagórico. Um clássico nessa área, mas restrito à educação na Grécia antiga, é Paideia, de Werner Jaeger.

8. O Império Greco-Romano, de Paul Veyne
Trata-se de uma obra de referência na atualidade para todo historiador da Roma antiga. Foi escrita por um dos maiores historiadores vivos. Para quem está a iniciar seus estudos sobre a história de Roma, eu recomendo Roma antiga: de Rômulo a Justiniano, de Thomas R. Martin. É uma obra menos acadêmica, mais panorâmica e de leitura mais leve.

9. Declínio e queda do Império Romano, de Edward Gibbon
Definitivamente, um clássico do século das Luzes. Apesar do enorme talento literário de Gibbon, algo raro entre os historiadores, sua tese central - de que o Império Romano teria caído devido às forças conjugadas da "barbárie" e da "religião" [cristã] - já foi superada. No Brasil, há uma edição condensada disponível ("Companhia de Bolso"). 

10. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, Jacques Le Goff e Jean-Claude Schmitt (dir.)
Particularmente, sou apaixonado por dicionários especializados, e esse não poderia ficar de fora dessa lista. Para quem aprecia os clássicos da historiografia, a menção obrigatória é a O Outono da Idade Média, de Johan Huizinga.

11. Racismos, de Francisco Bethencourt
Li esse livro nas férias, e posso garantir que permanecerá por muito tempo como uma referência sobre o tema. O recorte temporal é das Cruzadas ao século XX, mas traz alguns aspectos do preconceito racial na Antiguidade clássica. 

12. Renascimento e Reforma, de V. H. H. Green
Publicado em Portugal em 1991, provavelmente já deve estar raro nos sebos. Trata-se de um vigoroso estudo da história política, cultural e religiosa Europa entre 1450 e 1660.

13. Da Alvorada à Decadência - 500 anos de Vida Cultural no Ocidente, de Jacques Barzun
Um compêndio belíssimo e obrigatório sobre a história da cultura ocidental, de 1500 ao século XX.

14. História Geral do Brasil, de Maria Yedda Linhares (org.)
Confesso que não sou um profundo conhecedor da história do Brasil, mas esse livro, publicado pela Elsevier em 1990, é uma referência obrigatória. Para os apaixonados pelos clássicos da nossa historiografia, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, são obrigatórios.

15. História do Século XX, de Martin Gilbert
Para os estudantes lusófonos, que padeciam com a "ditadura" de Eric Hobsbawm até 2014 (quando História do Século XX foi publicado em Portugal), esse livro foi uma verdadeira luz ao fim do túnel. Fiz questão de importá-lo assim que ele foi lançado; recentemente foi publicado no Brasil. O livro assemelha-se a um "diário", e é muito bem escrito.