“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Bastidores do Terrorismo na BP

sexta-feira, 28 de junho de 2024

 

Essas são as palavras de Mohammad Massad, o ex-terrorista do Hamas, cujo depoimento exclusivo já está na plataforma da Brasil Paralelo (BP).

Nele, Massad apresenta a sua preocupante visão sobre os objetivos dos grupos terroristas no Oriente Médio.

Em seu depoimento, ele conta que os grupos terroristas promovem a ideia de que estão lutando pela liberdade e pela recuperação de seus territórios e terras sagradas.

No entanto, Massad denuncia que a ambição das facções palestinas ultrapassa as fronteiras do "Rio Jordão ao Mar Morto", como dizem em seu slogan "Do Rio ao Mar, a Palestina será livre".

Segundo ele, estes planos se estendem a uma dominação mais ampla, incluindo toda a Europa e o mundo cristão; um plano de dominação em escala global.

«História do Cristianismo»

segunda-feira, 24 de junho de 2024

 

 Baixe essa obra gratuitamente aqui.

Avistamentos de Óvnis no Brasil

terça-feira, 18 de junho de 2024

Um dos relatórios da Operação Prato, promovida pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Colares, Pará, em 1977. O arquivo dessa operação está disponível aqui.

Questões de clima cultural e interesses comerciais sempre estiveram fortemente relacionadas ao interesse do público em óvnis. Por exemplo, relatório da Força Aérea Brasileira mostra que, no quase meio século entre os anos 1954 e 2000, mais de 20% de todos os avistamentos de óvnis registrados no país se concentraram no biênio 1977-1978, anos marcados pelo estrondoso sucesso dos filmes Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos do 3º Grau. Nesses anos, diversos avistamentos de óvnis foram relatados no Pará, e em particularmente em Colares, motivando a FAB a lançar a Operação Prato.

O segundo biênio mais dramático (1996-1997), com 18% do total, teve a estreia de Independence Day, filme-catástrofe em que discos voadores quase destroem a Terra. Nesse biênio, ocorreu o caso mais famoso envolvendo um óvni marcaram no Brasil: o segundo, em 20 de janeiro de 1996, um suposto objeto voador não identificado caiu na cidade de Varginha, Minas Gerais, e um ser extraterrestre teria sido avistado por três meninas e depois capturado pelas forças militares. Um ano antes, em 15 de janeiro de 1995, um suposto disco voador com duas criaturas teria caído em uma lagoa da zona rural de Feira de Santana, na Bahia.

Além das inúmeras fontes de erro, também é preciso levar em conta que a notoriedade do fenômeno óvni abriu espaço para todo tipo de fraude. É um fato histórico, por exemplo, que o primeiro "disco voador" a causar sensação no Brasil foi apenas um truque fotográfico praticado por jornalistas da revista O Cruzeiro. Outro caso citado no Brasil, o do disco voador da Ilha de Trindade, a 1,2 Km da costa de Vitória, capital do Espírito Santo, supostamente fotografado em janeiro de 1958, também é uma farsa comprovada.

A ufologia nacional é fortemente influenciada por misticismos pseudocientíficos dos séculos XVIII, XIX e XX, como teosofia, antroposofia e o espiritismo. A já citada revista O Cruzeiro - durante décadas, o veículo de comunicação mais popular do país -, que basicamente inventou a ufologia brasileira na década de 1950, jamais se furtou, nas caudalosas "reportagens" que publicou sobre o tema, de misturar alienígenas com espíritos, paranormalidade e esoterismo, reforçando e reafirmando, em vez de diluir, a confusão original. O próprio senador Girão, por exemplo, recomendou efusivamente o documentário Data Limite, uma produção baseada em profecias atribuídas a Chico Xavier. Em 1986, o médium teria afirmado que os habitantes de outros planetas do sistema solar passariam 50 anos observando a Terra, a partir do primeiro pouso na Lua. A "data limite", portanto, seria 20 de julho de 2019.     

ORSI, Carlos & PASTERNAK, Natalia. Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser lavados a sério. São Paulo: Contexto, 2023, Cap. "Discos Voadores". 

O Centenário do Governo Florentino Avidos

quinta-feira, 13 de junho de 2024

As Cinco Pontes, década de 1930. 
Créditos do IJSN.

O Dia da Colonização do Solo Espírito-Santense deste ano deve ser lembrado também pelo centenário de início de uma das mais bem-sucedidas administrações da história do estado: a do engenheiro Florentino Avidos (1924-1928).

Ao tomar posse como governador, em 23 de maio de 1924, Florentino contava com o apoio da opinião pública e de todos os grupos políticos. Graças a uma combinação de câmbio favorável, café valorizado, produção e receitas crescentes, a economia capixaba vivia uma pujança inédita.

Vitória passou a exportar a maior parte do café do Sul do estado, com firmas capixabas se destacando no setor. O capital comercial se fortaleceu, e o comércio varejista se diversificou e se sofisticou, impulsionado por uma população que crescia e prosperava.

[Baixe o arquivo abaixo, para ler o restante do artigo].     

Publicado hoje (13 de junho de 2024), no jornal A Tribuna

Parlamento europeu dá guinada à direita

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Com as eleições do último domingo, 9 de junho, o Parlamento europeu deu uma guinada à direita, como pode ser visto no gráfico acima. Os votos destinados à direita, erroneamente denominados por alguns como extrema-direita ou mesmo ultradireita, não se deu apenas na França. Outros países, como a Alemanha, também viram candidatos mais à direita se destacando nas eleições.

Segundo a BBC, esse fenômeno é motivado pelo ganho de importância das pautas:

- Questão da imigração;

- Crescimento da inflação;

- Custo das reformas ambientais.

O discurso predominante é o de que organizações internacionais estariam tomando decisões por essas nações, retirando assim o espaço dos próprios cidadãos.

Um dos grupos criticados é a própria União Europeia. A candidata mais à direita na França, Marine Le Pene, defende que seja feita uma consulta popular sobre a permanência do país no bloco europeu, semelhante ao que foi feito no Reino Unido.

Ela, junto à italiana Giorgia Meloni, se tornaram figuras globalmente conhecidas que defendem pautas que respondem a esses novos anseios da população. Os seus respectivos partidos tiveram relevantes vitórias na eleição da União Europeia. 

Psicanálise, uma Impostura

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Levado ao extremo, a doutrina do inconsciente psicodinâmico sugere que os únicos pensamentos autênticos que uma pessoa tem são os que o psicanalista lhe revela: todo o resto não passaria de conteúdo inconsciente disfarçado, sintomas de traumas e desejos reprimidos. O potencial manipulativo e autoritário dessa posição já foi notado por mais de um crítico.

Enquanto hipótese, o inconsciente psicodinâmico funciona de modo muito semelhante a uma teoria da conspiração. A partir do instante em que alguém aceita, como artigo de fé, a premissa de que o mundo é controlado por comunistas, marcianos ou pulsões inconscientes, instâncias confirmatórias e "provas cabais" começam a pulular por toda parte. Inferências baseadas em pareidolia (a tendência de interpretar estímulos vagos e aleatórios como tendo significado) e apofenia (tendência de enxergar conexões entre eventos independentes ou aleatórios) tomam conta do aparato intelectual.

Como um sistema baseado numa lógica tão pueril pode ter se tornado tão popular, por quase um século, e entre tantas pessoas cultas, educadas e inteligentes? Diríamos que não se deve subestimar a sedução exercida pelo poder de psicanalisar: quem domina as chaves do inconsciente é como um visionário em terra de cegos, um apóstolo entre os gentios. Alguém que conhece as pessoas muito melhor do que elas mesmas.

A força retórica desse poder presumido é bem conhecida. De repente, podemos acusar homofóbicos de estarem possuídos por desejos homossexuais que eles mesmos ignoram; filantropos, de pulsões egoístas; pecadores, de sofrerem de santidade enrustida e, inversamente, santos de não serem nada mais do que pecadores insinceros.

O que um autor realmente quer dizer é, na verdade, o oposto daquilo que se lê na página (este capítulo todo prova que morremos de amores reprimidos pela psicanálise, alguém poderia dizer). A mulher que diz "não" tem, na verdade, o desejo inconsciente de dizer "sim": um dos casos eticamente mais complicados de Freud envolveu, exatamente, o esforço do psicanalista de convencer uma menina de 18 anos (Ida Bauer, que entrou para a história da psicanálise com o pseudônimo "Dora") de que ela sentia atração sexual inconsciente, reprimida, por um adulto que havia tentado molestá-la quando ainda tinha 14.     

ORSI, Carlos & PASTERNAK, Natalia. Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser lavados a sério. São Paulo: Contexto, 2023, Cap. "Psicanálise e Psicomodismos". 

A Utopia de Oneida

segunda-feira, 3 de junho de 2024

A Comunidade Oneida, em 1863. Fonte: Wonderley (2017: p. 77).

A Comunidade Oneida foi fundada em Nova York, por John Humphrey Noyes, sendo uma utopia de pessoas que sonhavam em viver altruisticamente como um só família. Durante pouco mais de trinta anos (1848-1880), cerca de 250 membros partilharam as propriedades, o trabalho e o amor. Noyes acreditava ter sido nomeado por Deus para esse propósito, e a comuna aditou um tipo não denominacional de protestantismo chamado de perfeccionismo - a crença de que se a fé em Cristo for forte o suficiente o indivíduo poderia se livrar do pecado ("perfeito"), nesta vida, e de uma vez por todas. Esses perfecionistas estavam determinados a trazer o céu à Terra, neutralizando o pecado com atos altruístas. O paraíso seria o lugar onde todas as propriedades e relações (sociais e sexuais) seriam compartilhadas. Isso seria o "comunismo bíblico".

Esperava-se que aqueles que aderissem à Comunidade Oneida ingressassem na ordenança sagrada do matrimônio grupal ou pantogamia. Nesse tipo de relacionamento heterossexual, a monogamia era proibida, o celibato era desencorajado e o amor livre foi fortemente incentivado. Cada indivíduo deveria amar toda a família da comunidade, fazendo sexo com os membros do sexo oposto sem ciúmes ou egoísmo. Não deveria haver exclusividade no amor que encorajasse a formação de casais. Isso não significava que não se pudesse encontrar um prazer especial em um parceiro - desde que tal ligação aumentasse a capacidade de amar mais a todos e fortalecesse o amor por todos. Caso contrário, isso seria considerado um relacionamento exclusivo de dois egos centrados unicamente em si mesmos. Considerado desprezível e egoísta, esse tipo de vínculo era rotulado como um pecado, o chamado "amor especial".

Na utopia comunista da Comunidade Oneida, os homens evitavam a ejaculação como controle de natalidade e como meio de libertar as mulheres do trabalho penoso da gestação. O coitus reservatus pode não ser uma boa prática contraceptiva, mas parece ter funcionado razoavelmente bem em Oneida. Ao longo dos primeiros vinte anos da comunidade (1848-1868), as mulheres comunitárias tiveram cerca de 35 filhos, uma taxa de natalidade considerado muito baixa. Muitas dessas crianças, e talvez a maioria, foram intencionalmente concebidas. Noyes, por exemplo, afirmou em novembro de 1849 que nenhuma gravidez não planejada havia ocorrido em dois anos, um período em que nasceram pelo menos nove bebês em Oneida. Alguns dessas gestações podem ter sido autorizadas para mulheres que desejavam ser mães, mas se aproximavam da menopausa.

Oneida foi também uma das utopias mais bem-sucedidas do ponto de vista econômico de todos os tempos. A sua prosperidade não se baseava na agricultura, mas na manufatura. Seu produto mais lucrativo foi uma armadilha de metal idealizada por um ferreiro local chamado Sewell Newhouse.     

Bibliografia consultada: WONDERLEY, Anthony. Oneida Utopia - a community searching for human happiness and prosperity. New York: Cornell University Press, 2017, p. 100-101. 

Perseguição aos Cristãos no Japão

domingo, 2 de junho de 2024

Tortura com água, nas fontes sulfúreas quentes de Unzen. Cena de Silêncio (2016).

Entre 1614 e 1643, cinco mil cristãos japoneses foram assassinados por ordem judicial, quase sempre em público. O total exato não é conhecido, mas há registro de três mil, cento e vinte e cinco casos individuais, setenta e um deles europeus. Quarenta e seis jesuítas e frades lograram "passar à marginalidade", mas, a longo prazo, isso só serviu para prolongar a agonia, já que não se podia reforçar a missão de forma eficaz e os fugitivos sofreram um acossamento sistemático e incansável. Infligiam-se as torturas mais aterrorizantes àqueles, geralmente japoneses, que se recusavam a cometer perjúrio. Alguns morreram de fome na prisão. Outros foram torturados até a morte. Os europeus eram, por vezes, decapitados. A maioria dos japoneses foi queimada viva - com um dos braços amarrado frouxamente a uma estaca, no meio de um círculo de fogo. Entre eles, havia mães com crianças pequenas nos braços. Os governadores locais desistiram dos horrores quando a simples fogueira mostrou-se incapaz de segurar a apostasia. Muitas vítimas foram mortas por tortura com água, nas fontes sulfúreas quentes de Unzen - a água fervente sendo derramada lentamente em cortes em sua carne. A partir de 1632, os mártires começaram a ser suspensos de cabeça para baixo sobre um poço, alguns deles vivendo até uma semana. Uma jovem japonesa suportou o tormento durante catorze dias, enquanto o velho provincial jesuíta, Christova Ferreira, abjurou após seis horas. Os jesuítas produziram manuais ensinando os fiéis a enfrentar o martírio: "(...) prepare-se com a confissão. (...) Nunca nutra pensamentos malignos com relação ao funcionário que comunica a sentença de morte, nem ao carrasco. (...) Durante a tortura, visualize a Paixão de Jesus". Em 1637, houve uma rebelião, ocasionada pela tortura da filha de um cristão japonês diante deste. Foi suprimida com o auxílio militar dos holandeses, que, assim, lograram pôr um ponto final no comércio português. O cristianismo sobreviveu por algum tempo na marginalidade, ainda que, mesmo se escondendo, os jesuítas e frades continuassem brigando. Em 1657-8, os cristãos foram arrebanhados nas cercanias rurais de Nagasaki: quatrocentos e onze apostataram. Uma menina, presa aos onze anos, continuou cristã até morrer na prisão, em 1722. Em Urakami, uma comunidade criptocristã conseguiu sobreviver até ser revelada em 1865, ainda batizando corretamente e insistindo no celibato clerical. O episódio como um todo, porém, parece indicar que a perseguição, se aplicada com suficiente impiedade, inteligência e pertinácia, acabará bem-sucedida, mesmo contra os mais corajosos. Assim, encerrou-se um capítulo notável e pungente da história cristã.     

JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Tradução de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 511-512.