quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Entre 1859 e 1871, os judeus de Odessa sofreram uma onda de violência física. Mas, a partir de 1881, os tumultos antijudaicos (pogroms, em russo) sucederam-se com frequência cada vez maior. No dia 1º de março daquele ano, o czar Alexandre II foi assassinado, e uma judia fazia parte do círculo dos assassinos. Isso bastou para que os reacionários insinuassem que a população judaica como um todo simpatizava com a revolução.
Foi nesse contexto que, em Yelisavetgrad, no dia 15 de abril, irromperam pogroms que rapidamente se espalharam para 200 a 250 outras cidades. Após vinte anos de acelerada mudança social e do surgimento de um novo discurso antijudaico, os piores atos de violência se desencadearam no dia 3 de abril de 1903, na cidade de Kishinev e duraram três dias. Uma semana antes, um panfleto havia mobilizado as massas; o material estabeleceu um vínculo entre a antiga lenda dos assassinatos rituais e novas teorias da conspiração. Enquanto a polícia e o exército russo ficavam deliberadamente de lado, 50 pessoas eram assassinadas, mais de 500 foram feridas e 2 mil judeus perderam suas casas. Os pogroms serviam para as massas darem vazão às suas frustrações políticas e econômicas. O pogrom de Kishinev motivou uma onda internacional de protestos.
Teorias de conspiração tornaram-se populares no Império Russo. Dentre elas, se destacavam os supostos indícios de um plano mundial de dominação por parte dos judeus, compilados nos Protocolos dos Sábios de Sião. Esse documento fraudulento foi publicado pela primeira vez na Rússia em 1903, sendo, provavelmente, a tradução de um texto francês já perdido. Mais tarde, os Protocolos foram traduzidos para inúmeras línguas.
Mesmo depois dos massacres de Kishnev, as teorias de conspiração e lendas de assassinato ritual permaneceram sendo elementos essenciais da opinião popular na Europa oriental. A lenda do assassinato ritual se misturava a calúnias antijudaicas acerca do abate de animais pelo método kasher.
Adaptado de BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 218-222.